João Araújo: mais do que "o pai do Cazuza"

                           
                                                  

 Cazuza e João
 Cazuza e João
Cazuza, João e Lucinha Araújo

João Araújo era um homem que fazia muito, mas não gostava de carnavalizar seu trabalho. Morreu aos 78 anos, vítima de uma parada cardíaca. Foi um dos maiores executivos da história do disco e da música não só no Brasil, como em toda a América Latina. Um homem que trabalhou muito, fundou a gravadora Som Livre em 1969, mas não gostava de celebrar. Talvez achasse que fazer sucesso era sua obrigação.

Tive pouquíssimos contatos com ele, todos profissionais. Num deles, na gravadora Som Livre, uma entrevista com Cauby Peixoto em 1980, quando cantor gravou a antológica “Camarim” (LP “Cauby! Cauby!”), de Chico Buarque, João Araújo resolveu sentar e ouvir nosso papo. Cauby lembrou passagens de sua vida, a música que Chico compôs, o disco e, o tempo todo, agradecia ao João por ter bancado a volta aos palco.

Calado, quieto, na dele, João foi um grande estrategista. Não vou listar quem ele descobriu e lançou pois está em todos os sites jornalísticos. Fato é que quando o Barão Vermelho surgiu, em 1981, João Araújo relutou em contratar a banda pela sua Som Livre. Achava nepotismo contratar o grupo do filho, Cazuza.

Guto Graça Melo, outro grande produtor, convenceu o João a ceder. “Já pensou se o Barão estoura numa gravadora concorrente?”. Foi essa pergunta que teria feito João Araújo voltar atrás e contratar o Barão Vermelho.

Ao contrário do pai, Cazuza tinha um pacto com o exagero, vivia anarquizando os lugares que frequentava, enfim, fez a sua biografia pautada nas gargalhadas aos berros e tudo aquilo que lemos, vimos, ouvimos sobre ele.

Conheci o Cazuza em 1982, quando o Barão Vermelho esteve na Rádio Fluminense FM levando seu primeiro LP. Cazuza estava na dele, calado (falou pouco na entrevista). Nas outras duas vezes que o encontrei, Cazuza também estava contido, mas no coquetel oferecido aos bluesman Robert Cray ele descabelou o palhaço. Cazuza se superou.


O Brasil não perdeu o João Araújo pai do Cazuza. O Brasil perdeu um grande profissional do mercado musical, que descobriu, restaurou, redescobriu talentos que hoje são gratos a ele. Merece descansar em paz.

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