Numa agência bancária, ano 2000 (gostaria que fosse uma ficção, mas não é)
Texto
restaurado e remixado
Um senhor de uns 80 anos, depois de enfrentar a longa
fila de idosos na agência do banco, sentou-se na mesa de uma das subgerentes
que povoam aquele antro. Eu estava atrás e ouvi tudo.
-
Boa tarde, minha senhora, eu...
- Alto lá! O senhor não tem saldo suficiente para
sentar na minha mesa!
Sinceramente, achei que aquela mulher estava de
gozação. Achei que era amiga do tal senhor, que tudo não passava de uma
brincadeira, mas para minha surpresa e horror, ela dizia a verdade.
-
Desculpe, senhora, mas é que eu estou dependendo só de uma assinatura
sua.
- Vocês são engraçados...acham que banco é asilo de
caridade.
-
Mas, minha senhora, sou cliente do banco há muitos anos.
- Porque quer. Eu nunca obriguei ninguém a ser cliente
deste banco e muito menos da “MINHA” agência!
O homem levantou e foi embora. Chegou a minha vez.
- Boa
tarde, tenho saldo para sentar na sua mesa, dona Andréia (nome real)?
- O que deseja?
- Não desejo. Comunico que a senhora vai ter que
rubricar este documento, na forma da Lei.
Ela rubricou.
- Ouvi seu diálogo de vaca com o senhor antes de mim.
- O que é isso? Fala baixo!
- Eu só falo baixo, dona Andréia. A senhora é que é
chegada a uma histeria.
- Bom...então está tudo resolvido, né?
- A senhora está louca para me ver fora da SUA agência,
não é?
- Não...não é bem isso, ela dizia simulando súbita
mansidão.
- O castigo vem à vista, com muitos juros, dona
Andréia.
Levantei e saí. Na calçada procurei o senhor que foi
humilhado pela baranga do banco, mas não encontrei. Quinze dias depois li no
jornal: “Bandidos seqüestram gerente de banco em casa para assaltar agência”.
O texto não trazia o nome do banco, nem a agência e nem
o nome da gerente. Liguei para o jornal, onde tenho um monte de colegas e,
bingo! A seqüestrada foi a dona Andréia. Os bandidos, que sumiram, entraram na
casa dela as 5 horas da manhã e foram até o quarto. Amordaçaram a “dona” da
agência e a levaram para lá. Limparam o cofre já que Andréia tinha todas as
senhas e chaves. Eu queria que os assaltantes tivessem sido presos só para ir a
delegacia cumprimentá-los, mas até hoje não há notícias.
Dois dias depois do assalto espetacular, fui ao banco
ver a cara de Andréia. Como estaria aquela víbora prepotente, mau caráter,
arrogante? Não estava lá. Informaram que, em estado de choque, foi
hospitalizada. Pensei em “visitá-la” no hospital, mas aí seria demais.
Três, quatro, cinco meses, nada de Andréia voltar. Foi
quando soube (o destino é sensacional) que ela foi aposentada com distúrbios
mentais, o mesmo caso do senhor de 80 anos que não tinha saldo para sentar na
mesa dela.
Ponto final.
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