Ouvindo (de novo) o Led Zeppelin

                                          Banda Shel - The Battle of Evermore

Tempos atrás eu fazia a pré-edição de um programa de TV. Recebi um vídeo raro, de uma banda de garotas norte-americanas chamada Shel cantando, muito bem, uns clássicos do Led Zeppelin. Ouça e veja o vídeo que postei, que agora está no You Tube.

Em 1985, conversando com Milton Nascimento e o amigo Roberto Menescal, quis saber das origens roqueiras e blueseiras do Milton. Ele disse que adorava o Led Zeppelin e que seu sonho, um dia, era gravar “Going To California”. Perguntei por que ele ainda não havia gravado e a resposta foi óbvia: o Led Zeppelin não autorizou. Aliás, quem defende rigidamente o legado do Zep é seu criador, o guitarrista, produtor, compositor, o genial Jimmy Page. Nada passa. Nada. Ele preserva o Led Zeppelin como se fosse um filho pois teme que a banda caia na vala comum e acabe sofrendo de superexposição. Muito particularmente, por causa disso não consigo mais ouvir um monte de canções dos Beatles, saturadas por covers, regravações e tributos, entre eles “Yesterday”, “Something”, “Let it Be”, “Hey Jude”.

Nadando pela internet dei de cara com um vídeo recente do Milton cantando “Going to California” com uma ótima cantora que não conhecia chamada Marina Machado Tristesse. Não sei se foi autorizada por Page, mas a gravação ficou ótima. Para assistir clique aqui https://www.youtube.com/watch?v=GdmKHOx0f1k

Não consigo ouvir apenas uma canção do Zeppelin, mesmo que não seja com Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham. A tal pré-edição do programa de TV rolou normalmente e preparei o material para a edição final, em som surround e tudo mais.

Cheguei em casa e não deu outra. Ouvi várias canções do Zeppelin, com o Zeppelin, que estão espalhadas nos nove álbuns da banda todos de estúdio, com exceção do duplo, ao vivo, “The Song Remais The Same”, de 1976. São nove obras-primas porque, em se tratando de Page, Plant, Jones e Bonham, não há nada razoável ou bom. É tudo excelente, do cacete, sensacional. Impressionante isso.

Não ia escrever esse artigo e sim mandar um e-mail para o amigo e colega Jamari França. Mas, o desejo/necessidade de publicar emoções, suores, reflexões e, sobretudo, flagrantes da memória não recente é um dos milhares de magistrais efeitos colaterais que o Led Zeppelin traz a bordo de suas canções.

Ouvi o lado mais acústico do grupo. Por que? Não sei. Na verdade ando numa fase existencial acústica, contemplativa, eventualmente insone, totalmente Led Zeppelin. Penduradas nas canções, lembranças de minha adolescência, ouvindo Zeppelin em profusão, lixando LPs de vinil até gastar. Eu, meu irmão Fernando Cesar e nossos amigos de verão na também amada e fiel depositária de nossas vastas emoções e pensamentos imperfeitos da adolescência (obrigado Zé Rubem Fonseca por esse belo título de livro), uma cidade chamada Teresópolis, que existiu. Não existe mais. Aquela dos anos 1970, não.

Não dá para ouvir o Led Zeppelin e não lembrar dos raios acrilíricos explodindo no Dedo de Deus, minha jaqueta de camurça verde-garrafa desbotada, cabelos a la Roger Daltrey (pelo menos era a minha intenção) na altura dos ombros, meu irmão, também cabeludo, passando a 130 quilômetros por hora montado numa Yamaha 350 RD ( mundialmente apelidada de “assassina”) azul, que pegava emprestada com um amigo.

Verões de 1970, 1971, 1972, 1973, todos eles foram embalados pelo Led Zeppelin. The Who? Sempre, mas o Zeppelin tinha (e tem) seu espaço em meu coração eternamente teen. Por que não? Por que só os boçais podem se sentir eternamente teens? Ou serei um boçal e não sei disso?
E aí, hoje, ouvi de novo o Led Zeppelin, com direito as novas descobertas que sempre ocorrem a cada audição, mais uma leve e ao mesmo tempo dramática saudade de mim mesmo, de meu irmão, do Marcel da loja de móveis chamada Garagem, do Paulinho, do Renatinho, da Elma, da Helen, da Deinha, Helena, Evelyn, Terê, boate Bowling, no Alto, as duas boates do Higino, em especial a do subsolo onde só rolava rock progressivo, escuridão e garras femininas esparramadas em nossos recantos misteriosos e ardentes. E, lá pelas tantas, o discotecário (não lembro do nome, um gordo que sabia tudo de música) despejava um inteiro LP do Zeppelin. Direto. Lá pelas 3 e varada da madrugada tocava Zeppelin, acendia as luzes, íamos embora e o Higino dormia.

Esse é um dos poderes da música. Transportar no tempo com apenas dois ou três acordes, para lugares onde estivemos, gostaríamos de ter ido ou que ainda iremos. Garotas maravilhosas que o Zeppelin seduzia para nós e que depois, como um solo de Jimmy Page, descarregavam seus indomados raios, gozos e unhadas de mulheres feitas cheirando a Campari. Sem saberem que eram mulheres feitas e muito menos se era mesmo Campari o que bebiam no Rola´s.
Ouvi, de novo, o Led Zeppelin. E poderia virar o dia, a noite, os meses escrevendo. Mas, melhor parar. Melhorar parar e continuar a escrever o roteiro de meu novo livro, uma ficção baseada nisso tudo que deverá sair em 2015.

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