Quadrophenia: ópera-rock sobre a dilacerante rejeição humana vai ganhar versão sinfônica
Townshend fala da versão clássica
Capa da versão original, de 1973
O ator Phil Daniels (esquerda) recebe a visita de Pete Townshend durante a filmagem de Quadrophenia
Banner da versão sinfônica de Quadrophenia no site http://www.classicquadrophenia.com/
Sting interpreta um líder mod no filme
Cena do filme
The Who, 50 anos. Townshend voando, Daltrey cantando
História real
Filme
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Vida real
Como parte das comemorações do aniversário de 50 anos do
The Who, a gravadora Deutsche Grammophon vai apresentar o concerto de estreia
mundial da nova versão sinfônica da ópera-rock Quadrophenia, escrita por Pete
Townshend, gravada pelo Who e lançada em 1973. A uma nova versão orquestral do marco na história do rock
foi orquestrada por Rachel Fuller (atual mulher de Townshend), compositora e
regente.
A nova e revolucionária versão de Quadrophenia vai ser
lançada no dia 5 de julho pela Deutsche Grammophon, com um concerto-estreia
mundial no Royal Albert Hall (Londres), interpretada pela Orquestra Filarmônica
Real de Londres e Oriana Choir, conduzida por Robert Ziegler e estrelado por
Pete Townshend e Alfie Boe, que cantam as partes originalmente cantadas por
Roger Daltrey.
Na década de 1960, Pete Townshend e The Who definiram o
conceito de "ópera rock" com Tommy, dando um passo à frente com
Quadrophenia. Concebida e escrita por Townshend, Quadrophenia acabou se
tornando um ícone.
Townshend tornou públicos os seus traumas em Tommy (1969)
e Quadrophenia (1973), para mim o melhor disco da história do Who. Penso que para o criador da banda, guitarrista, cantor,
compositor, poeta, romancista, teatrólogo, cineasta Peter Dennis Blanford
Townshend, londrino de 69 anos, é a obra-prima do Who.
Desde 1973, ano em que Quadrophenia foi lançado, não
conheço (nem ouvi falar) de um show do Who, ou de Townshend sozinho, que não
tenha sido incluída uma faixa do álbum duplo. Quem me apresentou ao disco foi o músico Zé da Gaita, no verão de 1974. Ele estava em Teresópolis, nos encontramos e
descemos a serra ouvindo a fitinha aos berros na Variant de meu pai. Nunca mais
Quadrophenia me deixou, nem eu a ele.
Álbum duplo conceitual, essencialmente ópera-rock, Quadrophenia
foi lançado no mesmo ano de The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, outro
genial poema. Mas, o que Townhend escreveu fez com que vários críticos,
biógrafos e fãs começassem a chamar o disco de “álbum da minha vida” porque, de
ponta a ponta, ele aborda todos os tipos, formas e conseqüências do hediondo e
deformador sentimento de rejeição, tão ou mais grave e dilacerador quanto a
culpa.
Em 1979 o diretor Franc Roddam lançou o filme que,
evidentemente, contou com a consultoria de Pete Townshend que numa dessas
pisadas na jaca que eventualmente dá, entregou a direção musical a John
Entwistle, baixista do Who, que deve a delicadeza de destruir a obra original.
Até flauta doce o saudoso baixista (morto de cocaína com vinho em 2002) meteu
na trilha sonora que, comprei, ouvi uma única vez e derreti em seguida,
transformando o vinil em cinzeiro, como já havia feito com uma série de outros
discos, para mim, execráveis.
Assisti ao filme Quadrophenia em 1981, mas sem legenda.
Até os ingleses tem dificuldade de entender o dialeto mod (grupo de
pós-adolescentes que formavam quadrilhas de lambretas em Londres no inicio dos
anos 60) mas um dia, para a minha surpresa, o filme passou no Corujão da Rede
Globo, tipo três horas da madrugada de uma quinta para sexta-feira, dublado. Há
coisas nesse mundo que desisti de entender como, por exemplo, Quadrophenia na
Rede Globo.
O filme é ambientado em 1963 e conta a história de um
garoto chamado Jimmy Cooper (vivido pelo ator Phil Daniels) que, com a sua
lambreta, vive rodando com os outros colegas mods (expressão de que vem de
moderns), filhos de operários, que são molestados e perseguidos pelos rockers,
de classe média, montados em potentes motocicletas.
Jimmy briga em casa e é expulso com tapas na cara,
chamado de vagabundo. Vai trabalhar, se defende de uma injustiça, manda o chefe
tomar no rabo e é demitido. Se apaixona por uma garota, mas durante uma viagem
do bando a Brighton, litoral onde rolou de fato uma batalha campal com os
rockers, dezenas de presos e feridos, ele flagra a namorada com um cara dando
amassos num beco.
E as rejeições vão se acumulando, Jimmy ingerindo cada
vez mais doses cavalares de anfetaminas, até perceber que o único sentido de
sua vida é o bando, a ideologia mod. Bando este que tinha um líder, rebelde
radical que no filme é vivido por Sting, admirado, cultuado por Jimmy Cooper. A
lambreta do personagem de Sting é cromada, cheia de espelhos, enfim, “cavalo”
de um verdadeiro líder.
Até que um dia, atravessando mais uma crise de angústia,
Jimmy vê a lambreta do líder encostada em frente a um hotel. Pior: flagra o
próprio líder anarquista trabalhando como carregador de malas (“Bell Boy”),
dizendo “sim, senhor”, “sim, senhora”, recebendo gorjetas, enfim, um capacho
social. Indignado, Jimmy espera Sting entrar e rouba a lambreta dele. Sem
família, sem mulher, sem trabalho, sem grupo de amigos, decide se atirar de uma
escarpa britânica. Com a lambreta do personagem de Sting. Mas, há sempre um
mas, Townshend deixa em aberto se Jimmy Cooper morreu pois a lambreta cai no
abismo vazia.
Os danos afetivos das rejeições são profundamente tratados nesse
filme que a crítica mundial classificou como “drama”. Aos que perguntam se é
uma autobiografia de Townshend, a resposta é não. Aos que perguntam se retrata
a adolescência de mais de 80% dos fãs do Who, com certeza a resposta é sim.
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