A sensação de que o ontem parece melhor do que o hoje
Nesta
quarta-feira participei de um painel
com a querida jornalista, escritora e radialista Maria Estrella na
exposição Maldita 3.0,que está em seus últimos dias no Centro
Cultural dos Correios, em Niterói. O
painel
foi mediado pelo curador e coordenador da exposição Alessandro ALR,
do Grupo Fluminense Multimídia. Quem gosta da história da Rádio
Fluminen se FM e ainda não foi, não pode perder. O último dia é
sábado, dia 11.
Maria Estrella é autora do livro “Rádio Fluminense FM - A porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80” e produz e apresenta o programa “Vale Tudo” as quintas-feiras (hoje), 21 horas na Radio Vitrola que fica em http://radiovitrola.net/ .
Maria Estrella é autora do livro “Rádio Fluminense FM - A porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80” e produz e apresenta o programa “Vale Tudo” as quintas-feiras (hoje), 21 horas na Radio Vitrola que fica em http://radiovitrola.net/ .
É
óbvio que o tema da conversa com a plateia foi o início da rádio,
como aconteceu, o que aconteceu, as pessoas envolvidas. Falamos da
importância da Fluminense FM especialmente entre 1982 e 1985 e
também da necessidade crucial de surgirem outras “Malditas” no
mercado.
Maria Estrella
Alessandro ALR
Auge do trampolim da Praia de Icarai, anos 1960. Sonho
O fim do trampolim. Implodido por causar muitos acidentes. Realidade
Naturalmente,
lembrando de pessoas (amigos meus), de fatos, de músicas, bateu uma
nostalgia. Aliás, percebo que volta
e meia uma onda saudosista varre nossa história pessoal. Muita
gente, toda hora, posta músicas dos anos 60, 70 e 80 no Facebook,
onde os frequentadores de uma página dedicada a lendária Radio
Jornal do Brasil AM, minha escola de jornalismo, também lembram de
momentos que nos foram tão belos, lúdicos, sensacionais na
programação musical da emissora.
Meses atrás fiquei postando anos 70 no Facebook. Bandas alemães de 70, 71, 72, Deep Purple lançando Machine Head, Jards Macalé cantando “Farrapo Humano” e por aí fui. Por que? Não sei. Deu vontade.
Meses atrás fiquei postando anos 70 no Facebook. Bandas alemães de 70, 71, 72, Deep Purple lançando Machine Head, Jards Macalé cantando “Farrapo Humano” e por aí fui. Por que? Não sei. Deu vontade.
Na
verdade, quando posto canções antigas (não serei hipócrita) busco
o virtual sossego do passado. Que sossego? O sossego comum, vizinho
da calma, da tranquilidade, aquela que aparentemente enxergamos
naqueles pescadores empunhando caniços nos litorais do mundo. O
passado é um ótimo lugar ponto de fuga (pra que dourar pílulas?)
para acharmos o sossego porque, em várias situações, ele surge. E
a música tem o poder de nos transportar através do tempo.
Nas
ilhas de edição de vídeo podemos mexer com tudo, dar a definição
que acharmos melhor. É o caso das lembranças. Em geral, lembramos
do que foi bom, do que foi legal, sensacional, porque só um
masoquista lembra de momentos ruins o tempo todo. Como numa ilha de
edição, montamos na mente um vídeo só com os melhores momentos.
Lembro
que no tal dia que postei anos 70 no Facebook, me emocionei com a
maciez do grupo Neu, depois um pouco de Mike Oldfield e, é claro, o
Tangerine Dream, mesmo hoje, 40 anos depois, nos leva a “lugares”
virtualmente sossegados.
Não
sei quem inventou os jargões “recordar é viver”, “saudade não
tem idade” e outros. O fato é que muita gente (maioria ?)
relembra, revê, relê, como se o presente não estivesse robusto o
suficiente para atender as suas demandas. As pessoas que falam de
Beatles, TV Tupi, Lambretta, trampolim da praia de Icaraí, Torrão
de Açúcar em Buzios, por exemplo, são chamadas de saudosistas. Mas
e a maioria que sente/pensa o mesmo e não revela, não abre o jogo?
Por
que o passado ganha do presente? Por que o presente perde para o
futuro? O que há de errado com o aqui e agora? Não sou filósofo,
nem psicólogo social, mas os livros dizem que sempre foi assim. Tem
um verso do Caetano (canção “Cajuína”) que quando ouvi a
primeira vez achei que era uma resposta, mas depois, ouvindo seguidas
vezes, percebi se tratar de uma gigantesca pergunta:”Existirmos: a
que será que se destina”.
Especulo
que o presente nos força a existir. Soltar amarras, enfrentar,
resistir, voar, partir para a urgência, executar. O texto que
escrevo agora é este, não há outro. Mais: pensamos uma coisa de
cada vez. Mais: temos o direito de sentir saudade, sim. De pessoas,
tempos, coisas, cidades, mas, recomendam os mais experientes, não
devemos voltar lá. Decepção.
Passei
minha infância feliz da vida numa vila militar em Angra dos Reis,
onde meu pai serviu como oficial de Marinha. Voltei lá nos anos 90.
A vila está a mesma coisa e, confesso aqui muito particularmente que
até chorei de emoção, mas Angra? Angra virou o maior favelão, não
tem mais o trem onde brincávamos, a praia do Anil está cheia de
urubus e a recepcionista da cidade não é mais uma sabiá-laranjeira
e sim uma usina nuclear.
Alguém
escreveu que não devemos voltar onde fomos felizes e que o lugar do
bom passado é num dos arquivos de nossa memória afetiva. Mas, por
que sinto o coração apertar quando ouço “I´m not in Love”, do
10 cc, que antes de virar sucesso em todas as rádios tocava na não
menos saudosa Eldo Pop FM?
Como
explicar os cinco, seis, sete e-mails que respondo por dia sobre a
Rádio Fluminense FM que criamos há 33 anos? Pior: a maioria dos
leitores desta Coluna não era sequer nascida quando a rádio
existia? Alguém explica?
Um
dia desses alguém me disse “saudade é uma coisa, saudosismo é
outra”. Quando encontro amigos da adolescência lembro nitidamente
de cada dia, cada momento, mas esqueço de trazer a tona as
angústias, a reprovação no colégio, a queda de uma onda que me
custou 11 pontos na perna. Por que a nossa mente só edita bons
momentos do passado? Por que até pessoas que se revelaram molecas no
presente hoje tem um lugar carinhoso em nossos escaninhos?
Alguém
tem as respostas?
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