Muito obrigado pelo convite, mas não irei ao Rock in Rio
Me ligaram convidando para ir
ao Rock in Rio. Declinei em bom português. Disse que escreveria as
razões em minha Coluna, essa aqui. Logo, se promessa é dívida,
estou zerando agora.
Depois da edição de 1985 e a do
Maracanã, o Rock in Rio virou uma marca. Uma marca
rentável, muito rentável, como Nissan, Citybank, HP, Apple, Caporal
Amarelinho. Acho ótimo que nesse momento, quando o Brasil, de novo,
cai na lona e o juiz já contou até oito, alguma coisa dê certo por
aqui.
“Abre aspas – toda a vez que
o trabalhismo toma o poder, o Brasil cai no lodo. Getúlio foi aquilo
que se viu: ditadura, estado novo, corrupção. Depois, Jango que
entregou a pátria a outros párias da ditadura. E agora é isso que
está aí. Fecha aspas”.
Ao misturar axé music com tirolesa,
roda gigante e até alguns cavaquinhos, o Rock in Rio se assume: não
é rock nem é Rio. É uma gigantesca quermesse eletrônica, aprendiz
de Disneylandia que um dia, quem sabe, vai entrar no mapa das
diversões interplanetárias. Em Las Vegas, o Rock quebrou a cara. E
ao meter Ivete Gostosa e Baiana Sangalo na proa, quem quebrou a cara
foi o Rio. Chamar o que não é rock de rock na terra onde o rock
nasceu é botar a bunda na janela em dia de temporal de falos.
Se eu tivesse uma filha
pré-adolescente, de preferência daquelas que falam sem parar,
questionam, tocam rebu e por isso a imbecilidade tupiniquim batizou
de “aborrecente” eu iria, sim, ao Rock in Rio. Para aprender com
ela a perder o medo de altura e, em pânico, andar na tal roda
gigante de 40 metros de altura. É isso mesmo? Quarenta metros?
E atravessar a frente do palco Mundo
voando na tirolesa (desde que minha filha tomasse conta de mim),
encher a cara de Big Mac, quem sabe brincar na lama com ela e, pode
até ser, olhar para os palcos de pagode, axé, david guetta, dar
umas gargalhadas. Ela iria me perguntar o que é Steve Vai eu
responderia que “é um guitarrista bom pra cacete, filha, que se
perdeu na Linha Amarela, filha, e veio baixar aqui na quermesse”.
Mas não tenho filha pré-adolescente
e muito menos saco para encarar roda gigante + tirolesa + axé +
quilômetros de sol no lombo, sei lá mais o que. Mais: não me convidem
para linchar o Rock in Rio, falar mal, dizer que o rock está senso
usurpado e tal. Ora, minha nega, rock and roll não está lá mesmo,
e daí? Se hoje eu quiser rock and roll, vou aos bares, ao Circo
Voador, o Festi Valda na Fundição, ou ligo a Radio Cult FM Ponto
Com, ou o Canal Bis na TV, ou vou a São Paulo ou, radicalizando,
carimbo o passaporte e vôo para Nova Iorque. Não vou pescar garoupa
em mares de tubarão. Querer ouvir rock no Rock in Rio é querer se
frustrar e, pior, torrar uma grana em vão.
Nesses tempos de quebradeira
econômica, baixo astral coletivo, desejo sucesso ao Rock in Rio e a
sua clara, nítida, cristalina proposta de oferecer diversão como um
parque temático. Se existe parque de dinossauros, parque de ursos,
parque de Mickey, existe um parque de rock, chamado Rock in Rio. Que
poderia se chamar "Vulva Heterodoxa”, “Sardinha Alada”, “Sua
Mãe. Que um dia sim, tocou rock autêntico, lááááááááááá
em 1985, mas era outra história, outro mundo, outro país, outro
você, outro eu.com.br.
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