O jornalismo no século 21 – entre a internet e o passaralho

Semana passada os jornais O Globo e Extra demitiram dezenas e dezenas de jornalistas, de todos os cargos, funções, faixas salariais. Sete meses atrás a mesma empresa demitiu mais de 100, chocando o “mercado”, entre aspas porque, definitivamente, o “mercado” de trabalho dos jornalistas está tão minúsculo que, a meu ver, não existe mais.

Globo e Extra justificaram as demissões falando em “ajustes”, “realinhamento”, aquele bucrocratês muito comum nessas ocasiões. Desde o ano passado o chamado “passaralho” tem feito vítimas na Folha de S. Paulo, Estadão, Veja, jornais e revistas de todo o país e todas as empresas insinuam (ninguém assume claramente)que a culpa é da internet.

Não é. A culpa é da má gestão, da incompetência, da ganância, dos conchavos com governos que, contrariados, fecharam as torneiras da grana. A internet tem a sua parcela de responsabilidade mas não é só por aí.

O curioso é que a imprensa brasileira culpa a web mas foram ela mesma que criou serviços, em geral via whatsApp, convidando leitores a enviarem fotos, narrações, enfim, estimulando que todos façam o papel de repórteres. E assim a coisa foi crescendo. Meus colegas mais atentos já estavam estranhando, queriam protestar mas não sabiam como.

Todo mundo sabe que o governo federal está segurando as verbas de publicidade da mídia, vingando-se da cobertura que está sendo dada a operações de faxina como a Lava Jato e outras. Quando falo de mídia estou me referindo a jornais, revistas, TVs, rádios, sites.

Não é exagero afirmar que jornalismo é um profissão extinta, mas é bom lembrar que os passaralhos são comuns na imprensa brasileira desde o século 19. A profissão de jornalista sempre foi instável, insegura, não confiável, paga mal mas sempre seduziu jovens dispostos a respirar intensamente o dia a dia do país, das cidades, das esquinas.

Nos anos 1970 (estou no jornalismo desde garoto, mais de 40 anos) trabalhei numa empresa que nos anos 50 e 60 foi poderosíssima, mas quebrou. Por que? O seu dono tinha como hábito demitir gente para comprar iates e até vender emissoras de rádio (concessões públicas) para trocar de apartamento, comprar fazendas, dar voltas ao mundo. Um senhor chegou a contar aos berros na redação que “uma vez, véspera de carnaval, eu estava na fila do caixa, ele apareceu, limpou o dinheiro todo e foi embora. Nós não recebemos”.

São tantos os casos de escroques à frente de grandes meios de comunicação que essa breve pensata não chegaria ao final se descreve cada um deles. Afinal, neste século 21 regido por bytes, mudou tudo menos a histórica condição do jornalista, um profissional explorado, humilhado, pisoteado pela maioria das empresas e corporações. Das maiores as menores, quase sem exceção.

O que fazer? Mudar de “profissão” , vejam vocês, tornou-se sábia decisão.


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