Por que leitores e ouvintes não opinam?
A pergunta foi de um colega meu das
antigas que decidiu encerrar o seu blog porque os leitores não davam
opinião sobre os temas por ele abordados. Perguntei se estava com
uma boa quantidade de acessos, ele disse que sim, mas que sua “out
estima” quase crônica não permitia resistir a “rejeição dos
leitores”. Algo como se Anais Nin negasse em cartório que o seu
tesão maior era casar com Henry Miller.
Expliquei que por motivos
completamente alheios ao meu entendimento e conhecimento, os
leitores/ouvintes/telespectadores brasileiros não tem como hábito
escrever suas opiniões, comentários, reações (positivas ou não)
ao que leem, ouvem, assistem, ao contrário dos europeus, americanos
do norte e os japoneses, esses considerados os maiores missivistas
para jornais em todos os tempos.
Não adiantou. O cara entrou no
metrô e partiu me deixando na estação divagando. Caramba, em todas
as redações de todas as mídias que trabalhei (e trabalho) o índice
de opiniões dos leitores é quase zero. Foi assim na Radio Tupi (o
telefone disparava quando havia sorteios e outras ações
promocionais), na Rádio JB (o melhor radiojornalismo do país)
raramente pingava uma carta com opiniões, observações. Na Radio
Fluminense FM também. Só a rádio quando acabou é que as cartas
apareceram.
Por que? Não sei.
Parece que não é da nossa cultura
opinar publicamente. Antes achava que era o trabalhoso (sacal mesmo)
ritual de escrever a carta, por no envelope, caminhar até os
Correios….Mas hoje? Com e-mail, whatsapp e o escambau? O que
explica a ausência de manifestações de leitores/ouvintes etc? Em
meus programas de rádio resolvi ontem encher de chamadas do tipo “a
sua opinião é fundamental. Aqui mesmo no site vá no campo “Contato”
e diga o que está achando do programa...” Vou esperar para ver o
que vai dar. Em tempo, os programas são “Cafofo do LAM”
(domingos, 23 horas) e Expresso da Madrugada (todos os dias de meia
noite as seis) na Rádio Cult FM Ponto Com que reside em
www.radiocultfm.com.
Por volta de 1975 o Jornal do Brasil
publicou um texto demolidor de Clarice Lispector. Eu já era fã da
obra e passei a condição de tarado por ela depois que a vi numa
pequena solenidade na Academia Brasileira de Letras. Lógico que o
meu tesão era totalmente intelectual e o pavio acendeu quando acabei
de ler “Felicidade Clandestina”. Bom, depois da solenidade da ABL
fiquei desnorteado diante da possibilidade real de estar apaixonado
por aquele impressionante mulher.
O que fiz? Como trabalhava na Rádio
JB que funcionava no mesmo prédio (hoje posso confessar) fui lá no
agendão da redação, peguei o endereço dela e mandei uma carta
cínica, cabotina e quase moleque. Comecei falando do livro que me
acachapou e depois citei o que chamei, lembro bem, de “visão,
avistamento, aquela luz inexplicável que me deixou cego nos salões
dourados da ABL, você mesma, Lispector”. A coisa ia bem até eu
confessar meu tesão etc etc etc. Mesmo assim, ela respondeu a carta
com uma outra, um seco coice no abdome: “obrigado pela leitura”.
Mas pelo menos respondeu!
Se fosse hoje: 1 – provavelmente
eu não escreveria nada; 2 – se escrevesse ela não responderia.
Por que? Porque vivemos um tempo sem tempo. É errado mas digo, um
tempo sem “tempos”.
Acho que por falta de tempo aliada a
preguiça, leitores, internautas, ouvintes não se manifestam. Vejo
aqui mesmo nessa Coluna, que já caminha para os 220 mil acessos. Se
forem 10 e-mails por mês já é demais. O que fazer?
Não sei.
Comentários
Postar um comentário
Opinião não é palavrão. A sua é fundamental para este blog.
A Comunicação é uma via de mão dupla.