Conexão Mariana-Paris: a Terra é o império das más notícias
Ontem
me perguntaram se o jornalista acaba perdendo a sensibilidade ao
longo do tempo, já que seu trabalho envolve, também, a cobertura de
tragédias. Respondi que não. Há mais de 40 anos trabalhando em
mídia fui obrigado a testemunhar muitas tragédias, dezenas
e dezenas delas, mas não me tornei insensível. Trombas d´água que
arrasaram cidades, chacinas, acidentes de avião, atentados terroristas, acidentes de carros e por aí
vai. O curioso é que o vilão de todas as histórias é um só, o
ser humano.
Nos
últimos dias rolou uma discussão boçal no Facebook, um sórdido
campeonato de tragédias. Algumas pessoas criticavam as que sofriam
com a chacina em Paris dizendo que deveriam sofrer pelo drama de
Mariana, Minas, porque fica no Brasil. Ou seja, querem estabelecer uma
espécie de ditadura xenófoba do sentimento humano.
A
maioria diz que a bruxa está solta mas o fluxo de más notícias
sempre imperou. Ou seja, a bruxa sempre andou solta. A quantidade
aumenta porque a tecnologia de informação avança. Fico imaginando
se tivéssemos essa farta tecnologia nos tempos do império romano. O que assistiríamos? E a história de Jesus, a perseguição
aos cristãos atirados aos leões no Coliseu? Será que a CNN
entraria ao vivo ou já seria politicamente incorreto?
Hoje
se alguém solta um estalinho no Vaticano, dois minutos depois tem
alguém transmitindo ao vivo. Site, TV, rádio. Há 30 anos atrás
era bem mais lento. A II Guerra Mundial praticamente não teve
cobertura e os raros e heroicos correspondentes de jornais esperavam
dias até suas reportagens serem publicadas. A guerra do Vietnã, que
acabou em 1975, só foi “exibida” em toda a sua estupidez pelo
cinema tempos depois. Mas a partir da revolução dos satélites de
telecomunicações (meados da década de 1970) a coisa virou. E,
logicamente, até problemas de flanelinhas na Praça Vermelha em
Moscou podem ser vistos ao vivo em nossos celulares.
O
ser humano é o principal agente do caos. Sempre foi. A mistura de
ser humano com politicagem agrava as coisas, como no caso de Mariana
cuja barragem sem fiscalização dos governos já estava condenada e
em Paris onde a patologia do fundamentalismo religioso desgraçou
mais uma vez. Como no início do ano na mesma Paris e também em
vários outros lugares. Para saber basta ligar o celular, o tablet,
olhar em volta.
A
região metropolitana do Rio vive uma guerra civil. A de São Paulo
também, a de Minas...bom, vou mudar o início do parágrafo. O
Brasil vive uma guerra civil provocada pelo inchaço populacional
eleitoreiro somado a densidade demográfica intolerável, governos
ladrões e incompetentes e, lá na ponta, a mídia que narra a
história. Por isso os regimes totalitários, nazi-fascistas tem
tanto interesse em calar a boca dos jornalistas; não querem que o
horror que provocam chegue à tona.
Ou
seja, más notícias sempre deram o tom. O que aumentou – e muito –
foi a quantidade (e qualidade) de tecnologia da informação.
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