Esse replay, não!
Nova Friburgo, janeiro de 2011
Nada, absolutamente nada foi feito para que outras
catástrofes climáticas não transformem, DE NOVO, a vida de quem
vive, por
exemplo,
em Teresópolis, Petrópolis e Friburgo numa tragédia, como em
janeiro de 2011. Pior: leio nos jornais que os candidatos a prefeitos
dessas cidades já gastaram muito mais comprando eleitores do que as
prefeituras na reconstrução dessas cidades.
Estamos
na
primavera e com ela o início do ciclo das chuvas pesadas. Se
(isola!) acontecer uma nova tragédia será culpa das condições
meteorológicas? Não, absolutamente não. A culpa será desses
moleques, safados que fazem politicagem jogando todas as fichas no
cassino do esquecimento. Acham que o eleitor já esqueceu que 900
pessoas morreram soterradas/afogadas em janeiro de 2011. Não, não
esqueceram! Ou esqueceram? Sinceramente, não sei.
Já
nos anos 70 era rotina: entrar num carro de reportagem para cobrir
inundações em cidades serranas e, também, no norte e noroeste do
Estado do Rio. O mesmo drama, a mesma lama, as mesmas lágrimas, o
mesmo sofrimento, as mesmas promessas e, lamentavelmente (dou a mão
a palmatória) o esquecimento.
Na
época, colegas veteranos diziam que já tinham feito o mesmo
trabalho nos anos 50 e 60, ou seja, o drama dos flagelados pela chuva
é mais do que crônico, é uma vergonha. Numa cidade do norte
fluminense quase apanhei porque quis o destino que eu ouvisse o
comentário de um graduado funcionário de uma prefeitura com um
colega. Ele disse “estado de calamidade pública é bom porque
dispensa licitações”. Ouvi e, inexperiente, reagi ligando o
gravador solicitando que o cidadão repetisse o que tinha acabado de
falar. Quanta ingenuidade. Por pouco não levei um tiro na cara.
Levei
algum tempo para me convencer que para os corruptos desgraça é
lucro, flagelo é celebração, tragédia é dinheiro no bolso, ou na
cueca, ou sabe-se lá onde e
tome barcos
navegando em ruas e avenidas, gente humilde acuada nos telhados e
eles, os corruptos, manipulando verbas, estados de calamidade
pública, enfim, chutando a nossa cara.
Quando
veio a tona a roubalheira do dinheiro que arrasou Friburgo e
Teresópolis, onde centenas morreram, além de fúria senti vergonha.
Vergonha de ser da mesma espécie desses répteis. Fazer o que?
Escrever. Escrever sempre porque o silêncio só gera dúvidas.
Sensação de arrego.
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