Mark Knopfler: o Cinema deve muito a ele e sabe disso
Cena de "Local Hero"
Estou ouvindo Tracker, décimo nono álbum de Mark Knopfler lançado este ano(lançado há 15 dias, escocês 66 anos, criador do Dire Straits, que tem como diferencial um traço raro. Nunca fez um trabalho razoável. São todos, absolutamente todos, bons ou excelentes. Com ou sem o Dire Straits.
Estou ouvindo Tracker, décimo nono álbum de Mark Knopfler lançado este ano(lançado há 15 dias, escocês 66 anos, criador do Dire Straits, que tem como diferencial um traço raro. Nunca fez um trabalho razoável. São todos, absolutamente todos, bons ou excelentes. Com ou sem o Dire Straits.
Apaixonado
pelo Cinema, é dele trilha sonora de um filme magistral e muito
simples chamado “Local Hero”, com Burt Lancaster, que
lamentavelmente passou batido pelos cinemas brasileiros. Motivo: o
filme foi (des) qualificado como anticomercial.
Mas
se você é sócio de um bom canal de streaming (Netxflix, Now,
Apple
TV, etc) ou de uma ótima (e
rara) locadora
de DVD com certeza vai achar “Local Hero”, que no Brasil
chamou-se “Momento Inesquecível”. Significa que se você pedir
“Local Hero”, provavelmente
vão
responder “não tem”. Ou seja, você vai ter que pedir “Momento
Inesquecível”, da mesma forma que Blow Up de Michelangelo
Antonioni foi lançado no Brasil como “Depois Daquele Beijo”. Só
rindo.
“Local
Hero” foi a primeira trilha sonora de Knopfler, lançada no Brasil
em 1983 pela Rádio Fluminense FM, graças ao saudoso Carlos Celles
que nos deu uma fita em primeiríssima mão. Ele era diretor
internacional da gravadora Polygram.
A
gravadora me convidou com um pequeno grupo de jornalistas para
assistir “Local Hero” numa sessão privada. Fui porque queria ver
onde aquela trilha sonora mágica, lírica, um pouco lúdica de
Knopfler foi inserida. Comoção
no meio do filme tamanha a simplicidade, pureza, poesia que o diretor
Bill Forsyth conseguiu passar para a tela.
A
música, grandiosa música de Knopfler em seus momentos mais astrais
(ele consegue fazer um clima totalmente astral em vários momentos da
trilha) me deslocou para dentro da tela, para lugares na Escócia
absolutamente mágicos como Pennan, Aberdeenshire, praia de
Camusdarach e eu fui mergulhando, mergulhando, mergulhando, desejando
estar lá, viver lá, contemplar aquelas aldeias remotas com suas
auroras boreais que o bilionário Felix Happer, magistralmente
interpretado por Burt Lancaster, venera, ama.
Lembro
que, conversando com Celles, disse que já sentia nas canções de
Mark a bordo do Straits um forte componente visual. “Skateway”,
por exemplo, é uma amostra disso e não foi à toa que está no
álbum “Making Movies” (“Fazendo Filmes”), sensacional,
absolutamente sensacional como tudo que o Dire Straits gravou.
Em
2001 assisti com meu amigo Siri Mark Knopfler ao vivo no antigo
Metropolitan, na Barra. Ele estava lançando o álbum “Sailing to
Philadelphia” e o local estava super lotado. Fiquei
exatamente na primeira fila, a poucos metros do palco, bem na frente
dele e, com certeza, não vou esquecer de cada segundo daquele show,
que foi, sim, frio, distante. Em determinado momento fui lá na house
mix (mesa de som) e pedi ao cara para subir o som da guitarra, que
estava baixo demais. O cara, provavelmente inglês, olhou para mim
com aquela cara de fastio e permaneceu de braços cruzados.
Antes
do show acabar, um colega meu, jornalista, chegou e me disse que M.K.
estava querendo saber “quem é o jornalista que fez vários
especiais sobre o Straits na TV e no rádio e, ainda por cima,
escreveu uma matéria de capa sobre mim num importante jornal (era o
Jornal do Brasil)”. Perguntei ao colega, “o que isso significa?”
e ele “meu chapa, significa que, depois do show, se você quiser ir
conhecer o cara no camarim não haverá problema”. Não fui. Temor
reverencial.
O
álbum Tracker me pegou pelo pescoço. Banhado de blues, folk e
slides guitars (universo tipicamente knopflerniano) o disco não
economiza. É leve, eventualmente dá uma pesada (sempre pelo flanco
folk), depois volta. Enfim, em se tratando de música, Mark Knopfler
consegue fazer o que quer, o que é muito difícil num planeta
afogado em tecnologia de ponta e mediocridade de quinta.
O
Cinema deve um Oscar de melhor trilha a Mark Knopfler. Se não for
Oscar, que seja algo similar. Afinal já foram trilhas sonoras
magistrais, compostas para os mais variados filmes; ingleses,
irlandeses, escoceses.
O
Cinema deve um prêmio a
ele
e sabe disso.
Comentários
Postar um comentário
Opinião não é palavrão. A sua é fundamental para este blog.
A Comunicação é uma via de mão dupla.