Quem fuzilou a boa música? A barangada é prova de que o Brasil é o único lugar do mundo onde fundo do poço tem subsolo

Quinze dias atrás um amigo golfou, golfou, golfou ao ler a lista das músicas mais tocadas, vendidas, procuradas no Brasil ano passado. A lista é tão bizarra, medíocre e o escambau que eu também não me senti bem lendo aquilo.
Logo apareceram uns e outros querendo debater sobre os “culpados” que levaram a maioria dos brasileiros a chafurdar no lodo da boçalidade. Como no dia seguinte a morte de David Bowie, quando a imprensa nacional emburrecida pelos cortes de Q.I. nas redações, anemia cultural, desinformação e necessidade louca de muitos vagabundos de por a bunda na janela a qualquer custo, deu um show de inapetência e mediocridade, os papos sobre a molambalização musical na nação não ficaram por baixo.
Nessas horas o parco lorde que me habita saiu para tomar um cafezinho e o javali assumiu o seu lugar. Escrevi que um país que se diz nação e tem programas “musicais” como Esquenta e Altas Horas na liderança da audiência, vai acabar, muito em breve, quadrúpede. Houve quem questionasse a programação das rádios e eu perguntei “que rádios? As FMs?, aquela bosta?”.
Expliquei, não educadamente, que há mais de 20 anos o rádio musical das grandes metrópoles virou um ventilador de asneiras, leque de boçalidade, asneirol vago. Tanto que a maioria das emissoras saiu do ar porque o mercado publicitário (que não é tolo), viu que não dá para vender pilha de alcalina pra porco e saiu de cena.
Começou o bacanal. Concessões publicadas dadas pelo governo (renováveis, ou não, a cada dez anos) as rádios em FM foram alugadas para terceiros, como quitinetes de prédios de tolerância. Os inquilinos da concessão alugam os canais do governo por uma bagatela de até 300 mil reais por mês. Não empregam ninguém, não gastam com luz, com água com manutenção. O único trabalho é ver se a dinheirama entrou na conta na data combinada. Caro, os maiores clientes são os representantes do fundamentalismo religioso que come radio TV, internet e o cacete a quatro.

Comprei por oito reais um par de protetores de ouvido Nexcare, da 3M. Só que foi antes de Dilma II, por isso deve estar custando 50 paus. Está disponível em farmácias e são muito úteis nesses tempos de música leviana, vadia, meliante e salafrária, além, é claro, de nos livrarem dos primatas que utilizam indevidamente, por exemplo, celulares que cacarejam no transporte público. Recomendo. São ótimos, minúsculos, imperceptíveis, confortáveis.
É lógico que respeito o direito das pessoas comprarem estrume sonoro, por isso prefiro não atirar pedras e sim buscar opções.
Para se ouvir boa música no rádio, antes da invenção do streaming da internet, era uma luta. Hoje, você acessa www.radios.com.br e escolhe uma entre milhares que são oferecidas no maior cardápio de opções radiofônicas do mundo.
Radios.com.br é sensacional e fica na cidade de Varginha (MG), terra dos E.T.s. Tem radio de bossa nova, rock, blues, jazz, samba, chorinho, notícias, efeitos especiais, tudo da melhor qualidade. É só dar um clique. Tem de tudo, até transmissão ao vivo de sessões de chibatadas em países que usam o chicote como punição legal. Se fosse no Brasil ia: 1 – faltar chicote; 2 – faltar carrasco.
As cidades estão cheias de shows em circuitos alternativos que revelam ótimos artistas. Em outras palavras, da mesma forma que a música ruim, chula, de baixa qualidade impera no chamado esquemão, a música boa, limpa, gostosa, de todos os gêneros e estilos sempre arrebentou e vai continuar arrebentando nos circuitos e mídias periféricas.
É só correr atrás.


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