Sorria, você está trabalhando de graça
Reeditado
e remixado
Virou
moda. Além de abrir espaço para cantores-colunistas, de qualidade
para lá de discutível, muitos meios de comunicação estão
transformando a vaidade de seus leitores em trabalho gratuito e
eventualmente sujo.
Você
entra no site do jornal e está lá “seja um repórter, envie sua
foto ou vídeo via Whatsapp para cá. Clique aqui”. Só não
escrevem “clique aqui, babaca, porque assim você estará fazendo o
serviço sujo (dirty job in english) trabalhando de graça e ocupando
o lugar de um profissional da imprensa, entendeu fadinha?”
Não
é só o bancário que está em extinção. O jornalista também. Por
falar em repórter, já que o programa é chato pra caceta não custa
dar uma de chato. Repórter não é profissão, é função.
Profissão é jornalista, função repórter, logo o programa
Profissão Repórter além de chato foi batizado por um analfamídia
digamos assim.
Quando
cai um temporal você pega sua câmera digital e click click click
entra no Whatsapp e manda para um jornal, para uma revista, para uma
emissora de TV? Sim? Tks, tks, tks. Trabalhando de graça, minha
cara, meu caro ou similares? Vamos supor que sua foto (ou gravação
de imagens em movimento) saia no jornal/TV/site no dia seguinte com
seu nome, você fica todo arrepiado? Fica? Com os pelinhos em pé
como os da
princesa Leopoldina
na primeira noite de núpcias com D. Pedro na Quinta da Boa Vista,
cuja cruza foi tão intensa que até os cavalos relinchavam nas
cocheiras a 100 metros de distância? Pois saiba que você está
ajudando a desempregar jornalistas a rodo.
Me
disseram que a tecnologia vai acabar com o repórter. Pode ser. Posso
falar em português casca grossa? Posso? Então tá. Tenho lido muita
bobagem em sites de jornais. Um dia desses um repórter escreveu
”haviam (o erro começou aí, não há plural) muitas lamas (ai!)
nas ruas”. Erro de quem? Para começar desse hábito perverso de
transformar estágio (em tese, ferramenta de aprendizado) em mão de
obra barata. Falham também os ensinos fundamental e médio que não
ensinaram esse adorável protozoário a escrever português. Ou,
pior, não obrigou essa mula sem cabeça a ler, ler, ler até
estranhar a palavra “lamas”. Estranhamento do tipo “gozado, por
que lamas não me cai bem?” Vai constatar que lama não tem plural,
mas com certeza ele tem MBA.
Como
você se sente trabalhando de graça? Fala pra mim? Fala no meu
ouvidinho. É gostoso esse frisson depois do sul da espinha, essa
aflição alucinada de ver uma foto sua publicada no jornal? Que
gracinha. Diga mais: quando você pensa “em vez de mim, um
profissional deveria estar fazendo este trabalho” o que você
sente? Pior: sua foto é uma bosta, mas as editorias de hoje estão
mais flácidas, hímens muito complacentes por causa do terror do
desemprego. Publicam fotos sem definição, desfocadas, mal
enquadradas e você, aflitinho, ligando pros amigos, dando dinheiro
para as operadoras de celular? É assim? Você já pensou
em.....em... dar uma de cirurgião,
numa boa, com a mesma consumição que te faz fotografar para
jornais? Já? Então opera, baby! Que tal projetar uma casa? Ou
construir uma usina nuclear? Não é vale tudo, baby?
Ah,
sim, há quem mande fotus com testuz. Neste caso é só dar descarga
e ir embora.
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