Meus encontros com Luís Ignácio Lula da Silva: mútuo horror a primeira vista
De acordo com O Globo Online, neste sábado na festa de
aniversário do PT o ex-presidente Luís Ignácio Lula da Silva disse que “ando
de saco cheio com comportamento dos nossos inimigos e da imprensa. Brigamos
para ter Ministério Público forte. Não imaginava ter uma parte do Ministério
Público subordinada à imprensa brasileira, fazendo o jogo da “Veja”, do GLOBO.
As pessoas que se subordinam desta forma não merecem o cargo.” No final de
tudo, ele sentenciou: “Ando de saco cheio com comportamento dos nossos inimigos
e da imprensa. Brigamos para ter Ministério Público forte. Não imaginava ter
uma parte do Ministério Público subordinada à imprensa brasileira, fazendo o
jogo da “Veja”, do GLOBO. As pessoas que se subordinam desta forma não merecem
o cargo.”
No final, ele sentenciou: “Se for necessário, se vocês
entenderem que a manutenção do projeto corre risco, estarei com 72 anos e tesão
de 30 para ser presidente da República”. Pergunto: que projeto, senhor
ex-presidente? Que projeto?
Não conheci Luís Ignácio Lula da Silva em 1978. Digo não conheci porque ninguém conhece Luís Ignácio Lula da Silva. Eu trabalhava no jornal O Pasquim e Lula tinha virado ídolo dos intelectuais brasileiros à frente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Ele chegou a sede do Pasquim que ficava na rua Saint
Roman, em Copacabana e foi recebido com histeria pelos donos do jornal,
Ziraldo e Jaguar. Presentes a entrevista toda redação do Pasquim.
Lula vestia uma camiseta com um personagem do sindicato
(Zé Ferrador) com os dizeres “hoje eu não tô bom” e recusou o uísque que o
Ziraldo ofereceu, preferindo outra bebida. Bebeu pouco.
Nossa antipatia mútua nasceu ali. Não fui com a cara
dele nem ele com a minha. Meu aspecto físico certamente provocava nojo no
entrevistado que, mais tarde, viria a fundar o PT. Eu era cabeludo, magro, pinta de burguês hippie, um horror sob à ótica moralista da "UDN de macacão" (como Brizola definiu o PT).
Mas o caldo entornou quando o entrevistado disse que tinha 23 anos quando entrou para o sindicato em 1969, e
que já era torneiro mecânico há 14 anos e alguém rebateu ironicamente dizendo “mas então você tinha
nove anos quando começou na profissão já que hoje tem 32...”. Lula soltou um “ah,...sei
lá, porra” e eu insisti “afinal, quantos anos o senhor tinha...” E ele me fuzilou
com os olhos, mas Ziraldo colocou panos quentes.
Na entrevista ele disse que não tinha pretensões de ser
político, dando a entender que a classe não prestava. Perguntado sobre a perda
do dedo mínimo, ele contou que em 1964, com 19 anos, trabalhava numa fábrica de
parafusos e um torno esmagou seu dedo. E disse que “optei por cortar o dedo
todo, não só a parte esmaga.” Insisti muito para esclarecer dúvidas, tentando
que ele ajudasse a atualizar o valor da indenização que recebeu de 350 mil
cruzeiros, em 1964. Lula resolveu mudar de assunto. Perguntado se conhecia os donos da
metalúrgica Villares, onde trabalhava naquele 1979, respondeu que “não falo com
patrão”.
Foram quase quatro horas de entrevista que me encheram
de desconfiança. Mas quando ele foi embora senti a euforia dos jornalistas mais
velhos, em especial Ziraldo, que viam no metalúrgico a salvação da pátria. Não
sei o que eles pensam dele hoje.
O sindicalista que dizia ter horror a política, em 1982 foi candidato ao
governo de São Paulo e perdeu. Em 1986 foi eleito deputado federal por São Paulo com a maior
votação para a Câmara Federal e chegou a presidência em 2003.
Nos anos 1990 tive o segundo e último e também
desagradável encontro com ele. Foi em Niterói. Quis o destino que eu ficasse
sentado com Lula à sós durante 20 minutos numa sala e, naturalmente,
conversamos. Fiz algumas perguntas de maneira polida e ele, também educadamente,
escapou de todas especialmente quando abordei a sua mudança de visão em relação
a política. Ele me mostrou que acredita muito no que diz e acha.
Pelo visto, hoje acredita mais ainda.
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