O imbecilato impera nos jornais todos os dias
A
palavra imbecilato é uma invenção. Invenção de um cara
sensacional que faz muita falta: J.A. Xavier. Jornalista de grosso
calibre, foi correspondente no Vietnã, editou suplementos
literários, foi amigo de Clarice Lispector, bebeu até cair com
Norman Mailer em Londres, mas não resistiu a cobertura do incêndio
no edifício Joelma, em São Paulo, fevereiro de 1974. Quase 200
ortos. Jajá (era assim que chamávamos o Xavier) não suportou as
imagens, gente se atirando, gente queimada, gente sofrendo e deu
entrada na aposentadoria precoce.
O
Joelma foi mais forte que o Vietnã.
Depois
de anos de terapia, restaurou o humor e tornou-se um dos mais
extraordinários papos desse país. Amigo de Dias Gomes, Janete
Clair, Rubem Braga, Xavier dizia, em meados dos anos 1970, que “o
imbecilato ainda vai imperar nos jornais nossos de cada dia. Haverá
um dia que nem para limpar o rabo eles vão servir, afogados no
asneirol absoluto”. Bingo, Jajá!
Os
jornais que pago para ler atualmente estão tomados de imbecis.
Imbecis que, dizem as boas línguas, escrevem de graça e (em alguns
casos) pagam para publicar o que cometem já que vale tudo para não
desaparecer. Não são jornalistas, nem literatos, nem intelectuais,
são apenas bípedes desinibidos que se dizem artistas aqui e ali, se
dizem cantores acolá, se dizem “descolados”, mas na verdade não
passam de chulos arrivistas.
Eu
ia escrever “tudo bem”, mas tudo bem é o cacete. Meu dinheiro
está no meio disso, já que pago por cada edição dos jornais que
consumo. Jornais que já publicaram Clarice Lispector, Vinícius de
Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Otto Lara Resende,
Nelson Rodrigues, João Saldanha e dezenas e dezenas de “notáveis”,
hoje abrem as páginas (e pernas) para um vazio cultural tétrico.
O
imbecilato ocupa espaços nobres nos jornais que assino (em breve
terei que pular fora), onde o óbvio uivante é a norma. Um dia
desses uma arrivista das tortas letras, cometendo uma coluna, disse
que faz terapia há muito tempo mas não sabe se o terapeuta é
freudiano. Como assim? Não sabe? Ela pratica auto flagelação
pública e vomita sua pequena burguesia na cara de quem paga uma
grana por ano para ter em casa o jornal onde ela evacua seus
complexos. Chegou a chamar o presidente da república de coronel
oligarca só porque batizou o filho com o seu nome (?????).
Um
outro imbecil ocupou o mesmo espaço, num outro dia, para ensinar ao
leitor o que é um babaca. Seria mais fácil se, em vez de tentar
explicar, o estafeta estampasse as duas prováveis linhas de seu
currículo porque, em se tratando de babaca, poucas vezes vi um de
tamanho porte.
E
tem cantantes que reclamam que alguém acusou disso e daquilo,
quando, na verdade, lugar de cantante não é numa página de jornal,
vociferando asneiras e saindo na mão usando o espelho como
inspiração.
Chove
desinibidos, desinibidas, arrivistas, teletubes travestidos de
literatos de baixos teores para. Um chamando o outro de genial,
imbecilizando toscamente a já combalida mídia impressa e digital.
Com
o dinheiro dos outros (o nosso) é fácil.
Comentários
Postar um comentário
Opinião não é palavrão. A sua é fundamental para este blog.
A Comunicação é uma via de mão dupla.