Sexólogos, praga inútil e milionária infesta a quitanda da mídia

Não sou desses que acham que o mundo está cada vez mais imbecil. Prefiro buscar caminhos mais saudáveis. Mas, depois que acabaram com o curso superior de jornalismo, qualquer parasita escreve o que bem desentende, onde quer, a preços módicos, ou de graça, ou até pagando. 
Dá de tudo. De falsos psicanalistas a podólogos picaterosos, passando por filósofos de porta de termas, chefes (xom X) de cozinha, enólogos de refresco de uva vagabunda.

Um sabujo desses fatura alto quando escreve uma coluna em jornais/revistas/sites de grande circulação ou faz comentários em programas de TV.  Vários deles (digo, sem susto, que é a maioria) até pagam para aparecer porque cada leitor gera, pelo menos, mil outros fregueses em potencial capazes de pagar valores até 50 vezes maior por uma consulta com o meliante. Só porque ele “escreve no jornal”, “aparece na TV”, “tem um super site na internet”, “fala no rádio”.

Uma nova espécie de golpista se juntou aos outros, o famigerado sexólogo. A praga se espalhou rápido pelos jornais, TV, sites onde os abutres da cona gélida e da glande flácida seduzem e conquistam a sua freguesia. Como a maioria não sabe escrever, paga a profissionais de comunicação para escrever textos que usem e abusem da força de expressão, de preferência forçando a barra para temas populares como “mulher ejacula, sim”, “amor e sexo são dois rios diferentes”, “cuidado, aquecimento pode engravidar!” e por aí vai, sempre ladeira (e nível) abaixo.

A vítima preferencial é o adolescente, que desde que o mundo é mundo é um desinformado. Todo mundo será, é ou já foi adolescente um dia e sabe que a sociedade costuma confundi-lo com os imbecis. E é justamente nessa brecha de ignorância, angústia e eclipse de conhecimento que agem os chupistas da sexologia (ou seria sexismo?), que traficam conselhos na mídia sabendo que é apenas o início. Sabem que, em seguida, as vítimas iludidas, dopadas pelo poder da comunicação, vão ligar em massa para seus escritórios marcando consultas, passando antes por uma livraria para comprar o décimo quinto livro sobre o mesmo tema, mas com título diferente e texto reescrito por profissionais de comunicação.

Soube um dia desses que uma suposta sexóloga que engana milhões de pessoas num programa popular de TV, já está cobrando 1.200 reais por uma consulta. O mais grave é que, me informaram, não há mais horário até janeiro. Um “sexólogo” que disse no rádio semana passada (eu estava num táxi e ouvi) que masturbação “pode fazer bem ou pode fazer mal, por isso deve-se procurar um especialista”, ou seja ele mesmo (detentor da verdade absoluta), cobra 800 reais por consulta com um plus a mais: o “tratamento” é pré-pago e dura, no mínimo, 10 consultas. O freguês terá que desembolsar 8 mil reais, em três vezes sem juros no cartão de débito ou crédito.

O mais grave é que tudo isso é feito a luz do dia, numa sociedade que tem mecanismos de controle em tese eficazes como, por exemplo, os Conselhos Regionais de Psicologia ou a Sociedade Brasileira de Psicanálise, entidades que podem confirmar se o doutor Fulano sabe diferenciar Sigmund Freud de uma geladeira Electrolux ou que a sexóloga Sicrana do Tal pode tecer comparações úteis entre um peixe elétrico e um clitóris avantajado.

É bom lembrar aos adolescentes que a sabedoria popular e o Kama Sutra (dêem um Google, por favor) sabem há milênios que existem clitóris com 10 centímetros, conas que jorram como chafarizes e que que a lei básica da vida, logo também do sexo, está numa definição nada erudita de Carl Gustav Jung (merece um outro Google): “Ninguém é igual a ninguém. A vida é diferente para cada ser desse estranho planeta. Ninguém sonha igual, pensa igual, ama igual.” Entro no vácuo de Jung: logo, sexólogos são picaretas, sim.

Problemas de disfunção erétil, um bom urologista resolve, como psiquiatras, psicólogos, psicanalistas (de excelente formação) podem resolver questões como o apagão da libido. Em homens e mulheres. Mas aí entra um problema de nossa cultura judaico cristã, o complexo de culpa, o tal constrangimento diante do óbvio. Achamos que é “falta de educação” perguntar a um médico, ou a um psicólogo, dentista seja o que for, onde ele estudou, que cursos de aperfeiçoamento fez, uma atitude que os picaretas amam, já que se alimentam da ignorância alheia.

Fuja das bruxarias, de todas, entre elas a “sexologia” (repito, seria sexismo?) praga que não para de se reproduzir como uma espécie de dengue genital, em garotos e garotas, homens e mulheres que poderiam estar bem melhor se buscassem fontes de informação mais qualificadas, bons livros, ótimos profissionais (lembro que sexólogo é uma mera grife, derivada da psicologia) e, sobretudo, aprender a viver a vida plenamente.

Apesar da “sexologia”.


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