Cabeça contra o Muro
Noite dessas, perambulando pela internet, li alguma coisa
sobre o Muro das Lamentações, em Jerusalém. Conheço algumas pessoas que foram
lá e ficaram levemente horrorizadas vendo gente ululando e batendo com a cabeça
no Muro.
Não conheço a fundo a história do Muro, mas sei que é sagrado. E respeito tudo o que é sagrado porque sou cristão e mantenho com o desconhecido a mesma relação que mantenho com o mar: temor reverencial. Não me meto com o desconhecido porque não quero que ele se meta comigo.
Um frequentador de meu extinto fotolog estava se
lamuriando com a falta disso, falta daquilo, que esse é o país do descaso,
enfim, usou de suas prerrogativas tecnológicas para encher e chutar o saco da
pequena multidão que frequentava o fotolog. Que por sinal não era meu. Fiz para
a banda The Who e a seu criador Pete Townshend até hoje na ativa, cuspindo fogo
pelo mundo com sua adolescente energia dos 73 anos e a seus fãs, a quem chamo
de whozers.
A lamúria mata. Mata vaca, galinha, peixe-boi, piranha. Aliás, sugiro ao Ibama que a piranha seja promovida logo a condição de mamífero. Basta de hipocrisia. Lamentação compulsiva mata até o próprio pelo pubiano humano que trepa no chororô como cavalo de batalha e sai pela humanidade como um forno de microondas torrando a paciência alheia.
Independente da sua conotação histórica, o Muro das
Lamentações é de extrema utilidade pública/emocional/existencial. Se o cara encosta,
bate com a cabeça, soca, chuta, se roça nas pedras e depois taca álcool está no
lugar certo. O que não suporto é lamentação crônica numa padaria, num ônibus,
numa van, no nosso sistema auditivo.
É por essas e por outras que defendo a criação de
réplicas reduzidas do Muro para serem espalhadas pelas cidades. Pequenos
lugares onde o cidadão pare e descarregue toda a sua mágoa, o seu beicinho, o
seu suposto fracasso existencial, cornofobia, enfim, descabele o fandango.
Essas réplicas poderiam ser acolchoadas para o usuário bater com a cabeça, com
a glande, dar chicotadas no próprio lombo, um vale tudo em prol da saúde
pública. A Rádio Relógio dizia que quem bate a cabeça contra a parede queima
150 calorias por hora.
Imagino o cara saindo de casa dizendo “vou até ali no
Muro bater com a cabeça e já volto”, em vez de tostar, grelhar o seu entorno que somos nós. Ah, sim,
os Muros públicos deveriam ter revestimento acústico para o usuário poder
uivar, mugir, rugir, gralhar, gritar nomes livremente. Como palpiteiro, penso
que iria fazer bem não somente a nós como ao próprio chafurdador de derrotas.
Li no manual de meu carro que esbofetear metaforicamente melhora a pressão
arterial, a pele fica mais lisa, enfim, como diria Lulu Santos, “tudo azul/todo
mundo nu”.