Direito a ignorância
As chamadas
novas gerações, por razões objetivas, estão desconectadas da chamada mídia
formal. Garotas e garotos tem suas mídias próprias e, pelo que vejo, ouço,
converso, frequentam-se mutuamente numa rica troca de ignorâncias. Ignorância
no sentido literal, de ignorar. Neste caso, propositalmente. E daí?
A ignorância
é um direito e se as novas gerações gostam de ler quinquilharias, preferem
assistir you tubers, ouvir safadões, estão em seu pleno direito de surfar a
liberdade a sua maneira. Quem sou eu para obrigar a ler Machado de Assis, ou
sorver o texto de Clarice Lispector?
Quem sou eu
para vociferar “vocês tem que assistir CNN, Al Jazeera, Globonews e não essa cisterna
de purpurina tola e fútil dos you tubers”? Quem sou eu para clamar “ouçam a
remixagem de Sgt Pepper dos Beatles, o melhor do Radiohead, ouçam Jimi Hendrix
e não essas bostas que vocês espetam nos ouvidos com seus celulares.” Quem sou
eu? Não sou ninguém.
Se as novas
gerações não leem bem, escrevem mal, são ególatras ao extremo, são alienadas e
vazias isso é um conceito meu. Ponto. E não deles. Ponto. A minha geração era
cercada de brilhantes livros, jornais, revistas, filmes etc mas vestiu o
pijama, passeia com o canário na gaiola pelas ruas de manhã, para numa padaria
qualquer para beber coalhada e jogar conversa fora, literalmente). Depois,
adestrada, volta para casa.
Liga o
computador cheirando a naftalina e começa a lamuriar nas redes sociais, achando
que as novas gerações tinham que estar participando deste momento histórico do
Brasil, detonando Temer, Lula, etc etc etc. Reclamam que filhos e netos não
conversam em casa. As vezes entro nas redes e digo “as novas gerações só querem
uma coisa do Brasil: pular fora daqui”.
Há filhos e
netos que entram porta a dentro com a cabeça enterrada no celular teclando com
sua rede, trancam-se no quarto fazendo sabe-se lá o que on line e só saem para
banho, comida e tosa, como um pet. Não querem saber quem governa o país, que
país é (eles tem mais o que não fazer para pensar nisso), quem é quem na TV,
não assistem a noticiários, não ouvem rádios. É só eu, eu eu, e a sua rede de
contatos. E quando digo para os meus contemporâneos que isso não é problema
nosso, eles gemem de horror.
Nos fins e de
semana as novas gerações vão a festas de sua rede. Um ou outro bebe, um ou
outro fuma, um ou outro toma MDMA (droga da moda, conhecida como Michael
Douglas) um ou outro morre e na pré alvorada da onda da madrugada voltam para o
seu minifúndio (casa dos pais), alguns com namoradas ou namorados e se embolam
trancafiados em seu bunker/quarto, depósito de enigmas e tabus para uso pessoal
e intransferível.
E daí?