Bananas ao vento
As notícias golfam do computador como tempestade de bigornas,
foices, ferro de passar a carvão. É só pancada, baixo astral, coisa ruim, mas
filosoficamente pensando no banheiro, fazendo barba de manhãzinha, lembro que
até a anta do juízo final sabe que notícia ruim sempre frequentou o cardápio
principal da família brasileira. Explica, mas não justifica. Sabemos disso. Fazer
o que?
A primavera começa sábado. É uma estação meio dissimulada,
não assume que é escrava do verão apesar das altas temperaturas, do asfalto
mole. Mas, compensando, os shortinhos enfiados ganham as ruas mas só os invisíveis podem
contemplar para não serem denunciados por assédio. Mais: por do sol deslumbrante, onibus
apinhados com gente na capota, arrastões, brisa noturna nas areias desertas,
pequenos impérios do coitus ininterruptos,
como resumiu o baiano pai da tropicália quando cantou “Um poeta desfolha a bandeira/E eu me sinto melhor colorido/ Pego um
jato, viajo, arrebento/Com o roteiro do sexto sentido/ Faz do morro, pilão de
concreto/Tropicália, bananas ao vento.”
Em outubro tem eleição e muita gente acha que o fim do
mundo será café pequeno perto da efeméride. Oportunista, o mercado financeiro e
suas piranhas aumentam o dólar, derrubam a bolsa eufóricos, loucas, doidas,
piranhas de terno, gravata e baby doll trancado no armário, ao lado do pote de
cocaína de Vaz Lobo e da garrafa de Johnny Walker Blue de Pau Grande, RJ.
Os jornais anunciam que os corruptos vão ser os mais votados,
como se fosse novidade. Os corruptos se elegem as gargalhadas porque compram os
votos, como peruas de meia idade deslizando pelo VillageMall (a grafia é esta, village colado no mall). Esses políticos escolhem
uma região, pagam a metade da bolada antes da eleição, e a outra metade quando
ganham. Vai depender da contagem de votos. Há ainda os mais tímidos que preferem
contratar traficantes de drogas e milicianos que fazem o serviço a maneira deles,
sem expor diretamente o político, salve simpatia! não votou, morreu. Mas a primavera
vem aí.
Depus as armas, não vou mais brigar mais com a primavera
nem com o seu amante de beliche, o verão, já que me senti solitário demais no
bloco do eu-amo-o-frio-do-inverno-especialmente-debaixo-do edredon-de-êxtases-da-loba.
Parece que gostar de inverno não é de bom tom, especialmente aqui nesses
trópicos surubáticos que fizeram Cristóvão Colombo fingir que não viu o Brasil
para não ter que descobri-lo, debaixo daquele calor infernal. Deixou a bomba
para Pedro Álvares Cabral (primeiro Cabral da dinastia de estupradores de
cofres públicos) e foi descobrir a América do Norte, céu claro, 19 graus.
Esses dias, mais uma vez, houve um princípio de pancadaria
em torno do velho tema urna-eletrônica-não-é-confiável, como se fosse possível
urna confiável, seja eletrônica, de folha de banana, de papel higiênico Tico
Tico, numa terra de assaltantes, náufragos e degredados que acabaram cruzando com a escória do Reino da Ibéria
inventando o homo brasilis.
Pensei em escrever para Beto Guedes sobre “Sol de
Primavera”. Começara essa crônica (???) com a música e depois com uma mistura de show da Xuxa com
bacanal no reino encantado de Benfica, uma performance. Ia ficar botininho. Antes de começar
o texto, um podcast com a voz tremula do bardo mineiro anunciando “quando
entrar seteeeeembro/ e a boa nova andar nos caaaaampos/” que todo mundo ouvia
de mãos dadas aplaudindo o por do sol do Arpoador, vulgo Arpex, chorando diante
do belíssimo (é sim!”) poema do niteroiense Ronaldo Bastos que Guedes musicou. Abrir
com essa música seria uma mensagem de amor, incentivando a coragem a bordo de
frases de auto ajuda do tipo “quem tem Winston Churchill não teme vara no lombo”.
Olhar
colírico/ Lirios plásticos do campo e do contracampo/ Telástico cinemascope teu
sorriso tudo isso/ Tudo ido e lido e lindo e vindo do vivido/ Na minha
adolescidade/Idade de pedra e paz (Veloso, Caetano - 1969).
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