Carta de amor. Neste Natal dê um livro, qualquer livro, de presente. O mercado editorial precisa de uma força, urgente!


M. de memória
-  Paulo Leminski (1944-1989) -

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.

“As redes de solidariedade que se formaram, de lado a lado, durante a campanha eleitoral talvez sejam um bom exemplo do que se pode fazer pelo livro hoje. Cartas, zaps, e-mails, posts nas mídias sociais e vídeos, feitos de coração aberto, nos quais a sinceridade prevaleça, buscando apoiar os parceiros do livro, com especial atenção a seus protagonistas mais frágeis, são mais que bem-vindos: são necessários. 

O que precisamos agora, entre outras coisas, é de cartas de amor aos livros.” Luiz Schwarcz, editor e fundador da Companhia das Letras, citado pela brilhante Cora Rónai em sua coluna de ontem, no Globo.

Cora entrou na campanha e escreveu a sua “Carta de Amor” aos livros, citando dados positivos como o crescimento de editoras e livrarias menores, ao contrário das gigantes, templos da megalomania, que estão quebrando. Respondo com prazer ao chamado do Luiz Schwarcz e o exemplo da Cora para escrever a minha carta de amor aos livros.

Desde já autorizo a reprodução deste artigo em qualquer mídia, de preferência citando a fonte. Autorizo porque um país em crise com os livros está sob o risco concreto de falência absoluta. O livro é o princípio de tudo, bússola de civilização. Livros educam apontam, comprovam, livros alimentam o cinema, a música, as artes plásticas, o balé e, acima de tudo a Democracia.
Pergunto ao leitor: quando comprou o seu último livro? Pergunto mais: com que frequência vai a uma livraria (ou a internet) e adquire um livro? O livro sempre foi o motor do mundo, razão de existir da sociedade, do amor, da compreensão, da paz e também do drama, da angústia, da aflição. Tenho certeza de que qualquer tema, subtema, qualquer assunto, situação, sentimento, invenção, de todos os tempos, já foram tratados ou citados pelos livros.

A partir dos anos 1980/90 os livros se popularizaram muito. Se o brasileiro médio tinha cerimônia de entrar em uma livraria, que já foi um ambiente sisudo, sério, envernizado, diria quase constrangedor, graças a autores que se tornaram populares as livrarias foram invadidas por multidões de novos leitores. Novos leitores que começaram a encher bienais, encontros, debates, feiras de poesia. 

Boa parte dos brasileiros rasgou a cerimônia e conheceu o prazer quase indescritível de ler um livro, especialmente de papel. Tenho um leitor digital Kindle, que é ótimo, mas revezo com edições de papel. Preciso do cheiro, da textura, da tipologia, da capa, enfim, preciso do livro.

Na onda da popularização, muitas redes de livrarias exageraram, criando megalojas que passaram a vender quase tudo, inclusive livros, tornando-se impessoais, industriais. Este ano, estão fechando, especialmente no Rio de Janeiro e o mercado retoma o formato intimista. Nada substitui um livreiro, aquele que não empurra livros como meio quilo de pregos, ele conversa com o cliente, fala do autor, do tema, um exercício diário que ele pratica com prazer que acaba se transformando em lucro.

Enfim, eu ficaria aqui anos e anos explicando a importância dos livros e suas histórias, estórias, comédias, erotismo, mas não há limite. 

Felizmente.




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