Jornalismo sem partido?


Se o arquiteto do horror nazista, Joseph Goebbels, gênio de todos os males, vivesse no mundo atual estaria manipulando fartamente as redes sociais, programando milhares de robôs para disseminar o ódio a bordo de notícias falsas para “vender” o nazismo como solução para o planeta, nesse momento em que o mundo está em transe quase hipnótico.

Não que nunca tenha se odiado tanto por aqui, mas jamais houve tanta divulgação do ódio graças ao poder internet. Ódio viraliza, manda matar, santifica, mitifica, mistifica, endeusa, demoniza a cada segundo, em cada computador, celular, tablet. Bom deixar claro que a internet é o meio, não a mensagem, e jamais esqueço o que disse Darcy Ribeiro: “Depois da fala e da escrita a internet é a mais importante descoberta do Homem”.

No passado um jornalista quando saia para trabalhar era obrigado a deixar em casa suas preferências que, em caso de fanatismo (o que não é raro), torna o homem cego e surdo, mas mudo jamais, e é aí que reside o drama. Um jornalista que permitisse que suas crenças, paixões, fanatismos (religiosos, políticos, futebolísticos e tudo mais) interferissem numa notícia, numa manchete, numa chamada, estava fadado a ser demitido.

Todo mudou. Hoje, a imparcialidade é uma abstrata e cara peça de museu. Repórter opina, todo mundo opina. O problema é que que muitos opinam mal porque não tem conteúdo suficiente para opinar bem. Opinam sobre hospitais, música clássica e escotismo com a mesma cara de pau, tornando a mídia um asneirol, uma granja de bestices.

Há ainda os exibidos, placebos não jornalistas, praticantes da amostra grátis. Mantém colunas nos sites, jornais, rádio e TV de graça ou mediante merreca mensal onde fazem merchandising de si mesmo e de seus interesses, materiais e imateriais. Num conceituado jornal, duas imbecis se revezam semanalmente em uma importante editoria, vomitando boçalidades e, pior, graças ao lobby que conseguem fazer, ora babando o ovo de um artista, ora lambendo a logomarca de um supermercado, são sérias candidatas a Miss Vazio. Aplaudidas de quatro.

Escrever de graça, ou quase de graça, é bom para elas (se exibem, acabam ficando amiguinhas de subcelebridades), para o jornal (enonomiza) e o leitor, bem, o leitor que se dane. “Se quem escreve não sabe o que diz e quem lê não sabe o que lê fica tudo igual”, Nelson Rodrigues.

Outros opinam para fazer bonito com os colegas jornalistas que respondem “mandou bem!”.  Por mais que o jornalista diga no Facebook que X é um gênio, Y um injustiçado, Z um perseguido, calcado apenas nos seus achismos impulsionados pela ira, ele não pode expelir o que sente e pensa onde trabalha, mas expele e pensa o que sente onde trabalha, sim.

Alguns chamam esses jornalistas de “formadores de opinião”, uma expressão velha, ridícula, malcheirosa. Prefiro chamá-los de deformadores de opinião porque o que mais leio, assisto e ouço é ataque de pelancas. Por exemplo, acho admirável um colunista carioca que não se esconde, não sibila em subtextos, ele é petista mesmo, lulista mesmo, dilmista mesmo, “corruptista” mesmo e bota a cara todo o dia no jornal, enaltece, goza, beija os pés de seus heróis nos panfletos que publica em forma de coluna, mesmo que em uma postura meio puer. Tempo: "Puer Aeternus" é a frase latina para "Eterno Jovem". Na Psicologia Analítica Junguiana, exemplos do arquétipo pueril incluem a criança, um pré-adolescente e o adolescente. O termo também se aplica a mulheres, ocasião para a qual a terminologia Latina é "Puella".

Acho saudável os jornais manterem colunistas descaradamente defendendo o seu quintal, mesmo que sem argumentos sólidos, mesmo que por fanatismo, gratuito ou não. Da mesa forma que existem os lulistas, os bolsonaristas também se exibem como se a mídia fosse ringue daquela luta pansexual chamada de UFC e similares.

O problema é que essa zika midiádica contamina a reportagem, setor que deveria estar blindado, produzindo notícias puras sem qualquer preferência, ideologia, uma espécie de Jornalismo sem partido. Em tese, o repórter é um profissional que colhe a informação, apura exaustivamente e transforma em notícia. Ponto.

Mas alguns setores da mídia estão deixando rolar e, em muitos casos, além de opinar (e escrever mal) os repórteres emitem opiniões e alguns decidem fazer (mal) um romance. Começam a matéria sem ir direto ao assunto. Algo como “chovia fino na cidade vazia, onde alguns carros passavam raramente. Em frente ao prédio, o gramado deserto...blá blá blá...e lá dentro do prédio estava um preso chamado...”. E só aí, sei lá, na décima linha, começa a narrar o que aconteceu, muitas vezes utilizando dialetos próprios banhados de erros de português (nem o Word salva) .

Assusta o fato de ouvir em rádios que se dizem sérias comunicadores e repórteres iniciantes incitando a audiência para mandar notícias pelo whattsapp. É um perigo? É. Mas eles fazem. Todo o dia, toda a hora. Incentivados por empresas que contratam menos e pagam menos ainda. Em vez de buscar bons repórteres, rádios, muitos jornais e TVs abrem o whatsapp para o público o que é, claro, um forte estímulo para o surgimento de fake news. O povo não é obrigado a transmitir notícias. Ele transmite o que dizem, o que ouviu falar e, algumas vezes, o que viu.

O governo está emborcado no fracasso e o presidente nascido da parceria PT-PMDB tenta escapar da cadeia por causa de graves denúncias de corrupção. A oposição se estapeia, boa parte do Legislativo e do Judiciário idem. Muitos estão afogados até o queixo em dejetos morais e éticos. Onde isso vai parar? Onde? Mais do que desgovernado o Brasil tornou-se ingovernável e segundo uma conhecida derrotista profissional não há luz no fim do túnel a não ser a do trem vindo em sentido contrário.

E na internet, tome fake news fake news fake news fake news fake news fake news, a serviço do ódio, do sectarismo, do horror, da desunião, da falência múltipla da humanidade e o pior de tudo, na mão de amadores oportunistas.



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