Niterói 445 anos: Arariboia não foi um canalha


Em 22 de novembro de 1963, duas notícias abalaram o planeta: John Kennedy foi abatido com um tiro de fuzil em Dallas, morrendo em seguida; Niterói festejou intensamente a comemoração de seus 390 anos.

Hoje, a cidade comemora do seu jeito (calada) os 445 anos. Foi fundada pelo cacique Arariboia (“Cobra da Tempestade”), em 1573. Ele e parte da tribo temiminó vieram do Espírito Santo para ajudar os portugueses a expulsar os franceses do Rio e em troca ganhou a chamada “banda de lá”, ou “terras vermelhas”, hoje a nossa cidade.

Há quem afirme que Arariboia foi um canalha, que deu uma de mercenário ganhando para matar, por exemplo, índios tamoios contratados pelos franceses. Ora, claro que não. Se os tamoios eram contratados por franceses por que não se deixar contratar por portugueses? Além do mais, na época o clima era de bala com bala, digo, flecha com flecha voando baixo na Baia de Guanabara. Não dava para ficar avaliando o contexto coçando o saco embaixo de uma jaqueira. Além do mais, Arariboia é meu herói.

Coitado, o distraído militar português Estacio de Sá foi vítima de uma flecha perdida e tombou morto. A história oficial, como sempre, customizou a verdade e transformou o mero acaso em heroísmo: “Gravemente ferido por uma flecha envenenada indígena que lhe vazou um olho durante a Batalha de Uruçu-mirim, veio a falecer um mês mais tarde, provavelmente de septicemia decorrente do ferimento.”. Ou seja, tudo na história de Niterói é controverso, confuso.

As más línguas dizem que Estácio era uma espécie de Crivella, um inútil sobrinho de Mem de Sá (como Crivella é inútil sobrinho do aiatolá bispo macedo), medroso, cínico, nepotista, mentiroso e incompetente. Mentira. Crivella é muito menos do que isso e Estácio era sim, valentão, como diriam os espanhóis “picca de las galáxias”. Afinal, Estácio fundou o Rio de Janeiro e Crivella afundou em um ano e pouco de desgoverno. Para piorar anunciou que vai concorrer a reeleição em 2020.

Sobre Estácio, mais famoso como nome de universidade, eu vi (e você, já viu?) uma capela na Igreja de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, no Rio, que traz na tampa do túmulo dele a inscrição: "Aqui jaz Estácio de Saa, 1o Capitam e Conquistador desta terra cidade, e a campa mandou fazer Salvador Correa de Saa, seu primo, 2o Capitam e Governador, com suas armas e essa Capela acabou o ano de 1583." Não entendi absolutamente nada, mas refleti longamente a respeito.

O que se sabe sobre a fundação de Niterói é que foi o maior bundalelê, no bom sentido, apesar deste escriba desconhecer bundalelê no mal sentido. O capixaba Arariboia já estava de saco cheio de ser enrolado por Mem de Sá (uma espécie de Dilma/Temer de Portugal), que ficava na Ilha do Governador na base do “diga que estou em reunião, “que fui ali e já volto”, “mande voltar outro dia”, toda vez que Arariboia ia lá cobrar pelas terras vermelhas, as tais terras prometidas pela expulsão dos franceses.

Um dia, fulo da vida o cacique pegou sua canoa em São Lourenço dos Índios (onde morava, em Niterói), atravessou a Baía de Guanabara em tempo recorde, invadiu o palácio com uma borduna na mão e vociferou algo como, em português de hoje, “Mem, moleque, assina agora a posse das terras”. Mem, falo sério, se borrou todo de medo, com a borduna encostada no queixo, mandou pegarem o termo de posse e assinou.

Há muitos rumores afirmando que, injuriado, assim que Arariboia deixou seu gabinete Mem de Sá comentou “minha vingança será eterna”, e inventou o IPTU, ISS, ITBI, Contribuições de Melhoria, Taxas de Alvará/Licenciamento e Taxa de Coleta de Lixo, Taxa de Iluminação Pública e se mandou para Portugal, deixando mais de mil parentes, afilhados políticos e amarra cachorros com cargos comissionados (sem concurso). 

A enxurrada de impostos complicou muito a fundação de Niterói, que só aconteceu em 1573, por causa da quantidade de certidões negativas que o cacique teve que providenciar e uma enorme confusão com o nome da cidade.

Prevendo o surgimento da Cedae, o primeiro nome foi “Água Escondida”. Está nos livros: "Niterói" (anteriormente escrito "Nictheroy" ou "Nitheroy") era o nome indígena do porto da cidade do Rio de Janeiro por volta de 1554. Em 1834, o antigo topônimo indígena "Niterói" foi adotado como novo nome da até então "Vila Real da Praia Grande", quando esta se tornou a capital da Província do Rio de Janeiro. Sentiram o bundalelê?

Hoje, 445 anos depois, a iguaria mais rara pelas ruas da cidade é o niteroiense. Como tiê-sangue, jiboia, cachorro do mato e piranha, muitos, vários, milhares se mandaram de Niterói cidade, mas como hoje é dia de festa não é hora de tocar o lado B do nosso disco de vinil.

Não nasci aqui. Nasci na Tijuca, Rio, mas vim para cá com cinco dias. Em 1982, recebi do então vereador Sergio Marcolini, o título de Cidadão Niteroiense numa solenidade na Câmara dos Vereadores. Mesmo se não tivesse recebido, que mal há em não nascer em Niterói e escrever sobre Niterói? O atual prefeito nasceu em São Gonçalo e isso não muda nada. O cacique fundador nasceu no Espírito Santo, o resto era tudo portuguesada e esta Coluna é do Google, norte-americano. Ou seja, viva o bundalelê!

Viva Niterói!




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