Nós e eles
Sarney, Tancredo e o sorriso do lagarto
(Pete Townshend)
I don't mind/Other guys dancing with my girl/That's fine/I know them all pretty well/ But I know sometimes/ I Must get out in the light/ Better leave her behind/ With the kids, they're alright
The kids are alright/ Sometimes/ I feel I gotta get away/ Bells chime/I know I gotta get away/
And I know if I don't/ I'll go out of my mind/ Better leave her behind/With the kids, they're alright/
The kids are alright/ I know if I go things would be a lot better for her/ I had things planned, but her folks wouldn't let her/ I don't mind/ Other guys dancing with my girl/ That's fine/I know them all pretty well/ But I know sometimes I/ Must get out in the light/ Better leave her behind/ With the kids, they're alright/ The kids are alright/ Sometimes/I feel I gotta get away/ Bells chime/I know I gotta get away/ And I know if I don't/ I'll go out of my mind/ Better leave her behind/With the kids, they're alright/ he kids are alright/ The kids are alright/ The kids are alright
As novas gerações, por razões objetivas, estão
desconectadas da chamada mídia formal. Garotas e garotos tem suas mídias
próprias e, pelo que vejo, ouço, converso, frequentam-se mutuamente numa rica
troca de ignorâncias. Ignorância no sentido literal, de ignorar. Neste caso,
propositalmente. E daí?
Para começar, penso que as novas gerações sempre tem
razão e entende-las minimamente é tentar evitar ser chutado para fora da van da história. Ouvir filhos com atenção é conectar-se ao presente, o tempo
deles, especialmente na adolescência, quando eles mesmos tentam escapar do
maçarico da fase adulta que chega incendiando os portais da infância.
É quase inútil, mas vale tentar convencê-los (muitos, nem todos) que talvez
fosse bom conhecer, também, outros tipos de músicas fora do eixo sertanejo
industrial-pagode de merda- funk, etc. Quem sabe eles possam gostar de um
blues? Um único blues. Quem sabe um Radiohead?
Paralelamente, a ignorância literal é um direito e se as
novas gerações (muitos, nem trodos) gostam de ler quinquilharias, preferem assistir you tubers,
ouvir safadões, estão em seu pleno direito de surfar a liberdade a sua maneira.
Quem somos nós para obrigar a ler Clarice Lispector, assistir Cacá Diegues, ouvir
Keith Jarrett? Não adianta vociferar “vocês tem que assistir CNN, Al Jazeera,
Globonews e não essa cisterna de purpurina tola e fútil dos you tubers” porque
não somos modelo de nada. Quem somos nós para reclamar (eles chamam de sofrência,
neologismo que funde sofrimento com carência)“ouçam a remixagem de Sgt Pepper
dos Beatles, ouçam Jimi Hendrix e não essas bostas que vocês espetam nos
ouvidos com seus celulares.”
Se muitos das novas gerações não leem bem, escrevem mal, são
ególatras ao extremo, alienados e vazios isso é um conceito nosso. Ponto. E
não deles. Ponto. A minha geração era cercada de brilhantes livros, jornais,
revistas, filmes etc mas vestiu o pijama, passeia com o canário na gaiola pelas
ruas de manhã, entra numa padaria qualquer para beber coalhada e jogar conversa
fora, literalmente. Depois, adestrada, volta para casa.
A
minha geração até se rebelou no final dos 60, nos 70 e 80. Fomos para a rua,
abaixo a ditadura, abaixo isso, abaixo aquilo, pedradas, gás lacrimogênio. Lemos
tudo sobre Lamarca, Che, Ho Chi Minh (tive um canil com o nome dele), pedradas
para lá, bombas para cá, assistimos a filmes “sinistros” como “Pra
Frente Brasil”, de Roberto Farias, “Desaparecido”, de Costa Gavras, até o dia
em que, isoladamente, pulei fora.
Um amigo guru me mostrou, por A mais B, que Tancredo Neves não valia nada, um
velhaco, a ponto de se associar a Chagas (cusp!) Freitas e montar o PP, Partido
Popular, em 1980 (um galpão que reunia a escória política nacional) que um ano depois vendeu para
o PMDB. Escrevi que uma reunião no PP deveria sair na capa da revista
Globo Rural porque mostra a involução dos suínos.
Sempre
em nome do “pragmatismo político”, faminto de poder, Tancredo topou ter o velho cafajeste José Sarney como vice. O mineiro morreu sem tomar posse
e virou santo, mas deixou o neto Aécio que mais tarde exibiu em dólares o DNA
da família. Por isso, não participei de nada nas “Diretas Já”; de
história em história, meu nojo por Tancredo e Sarney só aumentava, a ponto de
eu achar que Figueiredo era melhor do que os dois. Não só achei como escrevi num
jornal e quase fui apedrejado pelos escoteiros que se auto proclamavam “da esquerda
pura, ética, limpa”, a mesma que hoje mora em jaulas por terem assaltado o país.
Logo que Brizola criou o PDT, assinei a ficha, abonada por
meu querido e saudoso amigo João Sampaio. Cheguei a delegado do partido que
tinha uma postura clara e radical em relação a alguns assuntos, em especial
Lula. O que Brizola dizia de Lula nas plenárias do partido, tratado de moleque para baixo, era de uma
lucidez impressionante. Nós, pedetistas, e eles, petistas, éramos inimigos ferrenhos.
Porradaria um no outro (na fala e também no pedaço de pau, pedradas, socos na cara), rasgávamos bandeiras deles, eles as nossas e Brizola/Darcy Ribeiro faziam vista grossa. Saí do PDT há três anos porque os bons abandonaram o navio, escroques embarcaram e o partido sem Brizola se enrolou a ponto de hoje ser propriedade do calamitoso (estou sendo elegante) Carlos Lupi, ex-ministro do trabalho de Lula e Dilma.
Desgraças a Tancredo, o país foi governado pela seguinte confraria:
José Sarney (eleição indireta, fez um rolo no congresso e ficou cinco anos no poder),
Fernando Collor (eleição direta como todos a partir dele), Itamar Franco, Fernando
Henrique Cardoso (dois mandatos), Lula
(dois mandatos), Dilma (quase dois mandatos, total de cinco anos e 243 dias),
Michel Temer, vice de Dilma nos dois mandatos, e o próximo, Jair Bolsonaro.
Como reclamar das novas gerações se fizemos isso? Ainda
assim, gente da nossa geração liga o computador cheirando a naftalina e começa
a lamuriar nas redes sociais, achando que as novas gerações tinham que estar
participando deste momento histórico do Brasil, detonando Temer, Lula, etc etc
etc. Reclamam que filhos e netos não conversam em casa. As vezes entram nas
redes e dizem “as novas gerações só querem uma coisa do Brasil: pular fora
daqui”, eu respondo “e daí?”
Há muitos filhos e netos que entram porta a dentro com a cabeça enterrada
no celular teclando com sua rede, trancam-se no quarto fazendo sabe-se lá o que
on line e só saem para banho, comida e tosa, como um pet. Não querem saber quem
governa o país, que país é (eles tem mais o que não fazer para pensar nisso),
quem é quem na TV, não assistem a noticiários, não ouvem rádios. É só eu, eu,
eu, e a sua rede de contatos. E quando digo para os meus contemporâneos que
isso não é problema nosso, eles gemem de horror.
Nos fins de semana muitos das novas gerações vão a festas de
sua rede. Uns bebem, uns fumam, uns tomam MDMA (droga fatal conhecida como
Michael Douglas) um ou outro morre e na pré alvorada da onda da madrugada
voltam para o seu minifúndio (casa dos pais), alguns com namoradas ou namorados
e se embolam trancafiados em seu bunker/quarto, depósito de enigmas e tabus
para uso pessoal e intransferível.
E daí?
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