Quem sou eu?
Por Margarida Seco de Oliveira, psicóloga.
Todos os dias me autoquestiono e as respostas vão sofrendo alterações evolutivas ou involutivas, às vezes nem sei bem. Hoje, cheguei a outra pseudoconclusão: a integração do SER é mais importante e mais fácil do que o FAZER. Mas o sentido de vida altera-se perante cada ciclo.
O questionamento sobre o
sentido da vida surgiu em todas as religiões, em todas as culturas, em todos os
continentes. Pensadores, filósofos, artistas sempre buscaram respostas para o
que é oculto. Na adolescência essas questões
existenciais são comuns, mas parecem diluir-se ao longo da vida adulta para
depois, em alguns casos, ressurgir na velhice.
Todos os dias me autoquestiono e as respostas vão sofrendo alterações evolutivas ou involutivas, às vezes nem sei bem. Hoje, cheguei a outra pseudoconclusão: a integração do SER é mais importante e mais fácil do que o FAZER. Mas o sentido de vida altera-se perante cada ciclo.
O psiquiatra Flávio Gikovate
diz que a vida não tem sentido nenhum, mas não é proibido dar-lhe algum através
de um projeto pessoal e individual. Urge então que este projeto seja a fusão
entre a ciência funcionalista que responde ao COMO, e, a filosofia, a arte e a
espiritualidade que responde ao PORQUÊ! São polos opostos complementares, ambos
necessários, mas de formas diferentes e em tempos intercalados.
Vamos imaginar uma ilha que
simboliza o SER conhecimento, mas está rodeada de mar que simboliza o SER
desconhecido. Logo o conhecimento é sempre incompleto e a busca é infinita,
porque nada nos trás um equilíbrio definitivo, apenas temporário na escalada da
evolução.
Quanto mais nos relacionamos
mais possibilidades se apresentam. Mas objetivamente é necessário discernir
o problema para procurar a solução fundamental. A passividade perante o próprio
muro/barreira requer observação consciente, porque, “tudo um dia será nada, e
esse nada, será o todo que toda a vida procuramos” (Paulo de Tarso Lima).
Liberdade é tomar consciência
e assumir a autoria da sua própria existência, através da matriz criativa, que
espalha beleza (= autoconhecimento), faz refletir, confronta,
provoca convulsões na vida para que a revelação surja no momento mais fugaz.
Ser do mesmo modo e fazer tudo de igual forma não é persistência é tacanhice
mental, porque o que nasce acabado são as máquinas, o ser humano evolui e
forma-se ao longo da vida através das suas interações com o microcosmos e
macrocosmos.
A beleza (= autoconhecimento)
existe para lutar contra a tragédia. Assim, a felicidade é a possibilidade de
SER e esta é original e única, sendo que a missão é procurar ter uma visão
verdadeira e bela de nós próprios. Imaginemos que vamos passear dentro de nós
próprios, simbolicamente vamos subir a nossa montanha. O seu vale é verde e
florido, com ar puro e pássaros que cantam, mas quanto mais subimos menos
vegetação temos e o ar é mais rarefeito, mas o angulo de visão é cada vez
maior. Quanto mais evoluímos, mais temos de nos esforçar porque teremos uma
visão mais ampla que exige maior responsabilidade.
O grande catalisador do Homem
são as situações de “crise”, quando tudo cai e fica só a substância pura e
realmente essencial. A causa do sofrimento é a ignorância e a solução é a
liberdade do autoconhecimento. A tristeza e a solidão, de que todos fogem,
ou pelo menos tem dificuldade em conviver, são a ajuda interior tão esperada,
que proporciona o luto para depois renascer. E o que interessa é o querer saber
e não o saber tudo. Isso não existe.
Afinal,
o que estou fazendo da minha vida enquanto a morte não chega?
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