Rio Show
Sininho – Acorda! Já são sete e meia e o encontro em
Vargem Grande começa as nove. Não quero atrasar.
Ben-Hur –
Mas hoje é meu aniversário...
Sininho – Frescura, Ben-Hur. Aniversário é um dia como
outro qualquer. Levanta, vai. Levanta aí!
Ben-Hur – Pensei em almoçar com você, meus filhos...
Sininho - Aqueles
dois parasitas? Fala sério, Ben-Hur! Quem pariu Matheus que o embale; essas
duas amebas são problema da mãe deles, aquela intelectualzinha de merda. Além
do mais eles nem vão lembrar que é seu aniversário...se toca homem. Olha, eu
não quero chegar atrasada ao evento das trutas em Vargem Grande.
Ben-Hur – Trutas?
Sininho – Te falei ontem, te falei anteontem, porra.
Evento das trutas chinesas amestradas, só vai gente chique.
Ben-Hur – Vai até que horas?
Sininho – Termina meio dia, mas de lá vamos direto para
Santa Teresa...
Ben-Hur – Como assim?
Sininho – Não tem como assim, Ben-Hur. Daqui vamos para
Vargem Grande. De lá para Santa Teresa e depois direto para Grumari.
Ben-Hur – Fazer o que?
Sininho – Inauguração da exposição de instalações
invisíveis de Julieto Di Capri.
Ben-Hur – Quem?
Sininho – Você está cada vez mais lamentável...Julieto Di
Capri é o must do must na Europa hoje. Foi capa da Forbes, capa do Le Monde,
capa da Quem, capa da Caras, capa da Globo Rural. Às vezes acho que você é
débil mental.
Ben-Hur – Mas isso vai até que horas...hoje eu tenho um
evento.
Sininho – Vai até a hora que eu quiser.
Ben-Hur – Melhor parar ali para por gasolina.
Sininho – Impressionante...
Ben-Hur – Eu te disse que esse carro chinês é ruim, mas
você...
Sininho – Joga na minha cara, covarde! Diz que eu achei
bonitinho e você comprou. Quem manda ser babaca?
Ben-Hur – Que horas são?
Sininho - Esqueceu o relógio de novo? Que coisa...quinze
para meia noite.
Ben-Hur – Estou atrasado para o evento importante...
Sininho – Daqui não saio. Di Capri ficou todo feliz
quando me viu...só tem gente bonita, descolada...vai você, eu me viro sozinha.
Ben-Hur – Tudo bem. Até mais.
Sininho – Como assim, tudo bem e até mais?? Hein? Ben-Hur! Ben-Hur, cadê você? Você nunca disse
isso…
Meia noite e meia – Ben-Hur no evento importante. Chega a
pequena capela, enfeitada com luz de velas, ao lado da cachoeira. Chegou a
tempo. Cerca de 20 pessoas, amigas, muito amigas.
Meia noite e quarenta e cinco – Amanda entra na capela,
braço dado com o irmão.
Uma hora – O juiz considera Amanda e Ben-Hur casados.
Três e quarenta – O avião começa a
taxiar. Ben-Hur e Amanda se beijam de novo.
Quatro horas – senhores passageiros com destino...
Dias depois – Walfrido, da seguradora Boas Novas, toca a
campainha. A diarista abre a porta da casa de dois andares.
Walfrido – Dona Sininho, por favor.
Diarista – Quem deseja?
Walfrido – Seguradora Boas Novas.
Sininho – Sim...
Walfrido – Trouxe esse carro chinês por ordem do senhor Ben-Hur.
Sininho – Aquele moleque, canalha, escroque...sumiu há dias
e ainda tem coragem de mandar esse chinês de lata. Patife, venal...que eu amo
tanto...amo tanto...Seu Walfrido, onde ele está?
Walfrido – Assine aqui. Por favor, madame.
Sininho – Mas, e ele?
Walfrido – Deixou esse envelope. Disse que dentro tem um
papel com nome e endereço do advogado que vai resolver tudo.
Sininho – Só isso?
Walfrido – Tenha um bom dia.
Sininho – Bandido! Bandido nefasto que...eu amo, eu
quero, eu preciso como o ar da noite...água do mar...Ben-Hur, volta meu
Ben-Hur.
Diarista – Dona Sininho...ai, meu Deus...quer que eu
chame um médico? Hein,
Dona Sininho? Dona Sininho, acorda! Já são sete e meia!
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