Ouvindo Neil Young
O CD é a melhor mídia para áudio. Prático, não
tem a famigerada agulha do vinil e seu irritante plec plec plec, não trava, não
exige que eu levante para mudar de lado, dispensa lavagens, etc. No CD o som
sai puro e me satisfaz plenamente.
Tanto que em mil novecentos e noventa e tal doei meus
vinis (não eram poucos) para uma instituição de caridade que fez uma boa grana.
Amigos, colegas e conhecidos que cultuam o vinil ficam horrorizados quando
conto essa história, mas fazer o que se o que resta nesse país (pelo menos por
enquanto) é a liberdade de escolha?
Assisti Neil Young no Rock in Rio em 2001, show
bombástico, ele empunhava sua lendária guitarra Gibson Les Paul preta (essa da foto), que
batizou de “Old Black” safra de 1953, que não larga por nada. Show pesado, alto
volume, distorcido, catártico, como eu estava naquele dia. Viajei horas até
chegar ao Rock in Rio e consegui um lugar bem próximo ao palco.
Lembro da expressão da plateia que não conhecia Young,
muita gente mais nova, atônica, aplaudia boquiaberta a performance sempre
comocional do músico, que lá pelas tantas, inesperadamente, começou a esfregar
a guitarra contra o cabeçote de um dos amplificadores gerando sons difusos,
caóticos, pura arte sonora contemporânea.
A segunda trovoada acaba de rugir lá fora e uma chuva
pesada banha o meu entorno. Neil Young toca no computador enquanto lembro de
uma manhã de 1981 ou 1982. O então presidente da Warner, André Midani, ligou
convidando para uma sessão exclusiva do filme “Rust Never Sleeps”, um show
completo de Neil Young extremamente bem feito. Foi numa cabine na Cinelândia,
Rio.
O filme, apesar de sensacional, não foi exibido no Brasil
por uma razão óbvia: na época, ninguém sabia quem era Neil Young. E a pergunta
que me cai agora, bem mais forte do que a chuva é “será que hoje sabem de quem
se trata?”. Pelo menos hoje existe Google, Yahoo, Bing.
Termino a audição e vejo o jornal em cima do sofá,
exibindo as bad news do dia. Melhor jogar
fora e sair para ver a chuva na rua porque afinal de contas circula um boato
que garante que a chuva ainda não foi roubada.
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