A mídia e o Mundo Cão



É claro que existe mídia mundo cão, que fatura milhões espalhando sangue pelos jornais, TVs, rádios, sites. É feita por gente que vê na tragédia mais uma possibilidade de ganhar dinheiro porque, é uma realidade, essa mídia tem muitos adoradores. O público é enorme.

Mas não se pode afirmar que “a mídia, em geral, só quer saber de tragédia”, como se os meios de comunicações criassem fatos, incendiasse alojamento de clube de futebol, derrubasse barragem em Brumadinho, mandasse chover pesado sobre uma cidade abandonada. O que a mídia séria faz é apurar e informar, com o máximo de isenção.

Em Brumadinho, uma experiente repórter de TV foi cortada da cobertura porque optou por uma narrativa mundo cão, over, banhada de adjetivos sórdidos. Tiraram do ar. Mas, infelizmente, nem todas as empresas são assim.

A política também criminaliza o jornalismo. O PT e seus aliados (PSOL, PC do B, PDTetc) dizem que a mídia inventou o assalto a Petrobrás e ao estado em geral, liderando uma perseguição as vítimas. Lula odeia jornalistas. Curiosamente, a direita também põe a culpa de tudo no jornalismo. Acha, por exemplo, que F. Bolsonaro é vítima de perseguição para não admitir que os meios de comunicação divulgam o que está acontecendo.

Lula já disse que se voltasse ao Planalto iria impor uma feroz censura à imprensa, seguindo as pegadas do mentor do trabalhismo, Getúlio Vargas. Não só Lula, mas toda a esquerda, incluindo militantes que covardemente agridem repórteres na rua como se eles fossem eles os ladrões. Para a esquerda é insuportável viver num país onde a verdade circula livre. Tem que prender, arrebentar, matar, fechar jornais, TVs, rádios, sites. Como em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte. No entanto, a esquerda é coerente porque sempre defendeu e defende a ditadura do proletariado, ou, morte a democracia. Imprensa livre é um dos pilares de sustentação do estado de direito, mas para a esquerda e a direita é um gigantesco quebra-molas em seus objetivos vis.

A direita também atiraria os jornalistas aos crocodilos porque conviver com a publicação da verdade é insuportável. Nesse aspecto - dizimação da liberdade de imprensa e extermínio de jornalistas - direita e esquerda são fascistas iguais; desejam um regime fechado, só deles e de suas vilanias.

Todos os poderes execram o jornalismo porque não toleram que essa força estranha os impeça de fazerem o que bem entendem. No início dos anos 1980 cobri a sucessão presidencial de Geisel. Diariamente, com vários colegas, ia ao apartamento do anticanditado e general Euler Bentes Monteiro, na rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana, para saber das novidades.

Em seu gigantesco e confortável escritório na avenida Rio Branco, Centro, Magalhães Pinto nos esperava todos os dias com café bom, pão de queijo e muitas ilações, subtextos, abstrações, ironias. Era difícil entender o que ele queria dizer e, muitas vezes, eu recorria ao chefe de reportagem da Rádio Jornal do Brasil AM (o melhor Radiojornalismo do país), Cezar Motta, para ouvir a sua opinião sobre as charadas que Magalhães Pinto soltava no ar.

O general Euler foi um dos maiores democratas que conheci. General de Exército, quatro estrelas em cada ombro, falava devagar, baixo e pouco, mas batia suavemente na tecla de que uma democracia só nasceria no Brasil se todas as instituições funcionassem livremente, a começar pela imprensa.

Ele disse, eu gravei, mas não pude por no ar (censura do governo a qualquer declaração do incômodo general) que “a imprensa tem que ser tratada como quarto poder porque, de fato, ela é quarto poder. Se não for não é imprensa”. Ou seja, ele dizia que nosso lugar, como jornalistas, é de estilingue e não de vidraça.

A mídia e o mundo cão sempre terão conexões, mesmo podres e sórdidas, para atender e ganhar muito dinheiro graças a uma massa enorme de mórbidos, sádicos, apreciadores do jorro de sangue. Estranhamente as boas notícias não tem nem 10% de popularidade.

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