Chuva
Senti suas gotas roçarem a janela, temperatura de 26 graus.
Chuva. Saí para pensar, pensar, pensar. Pensar em soluções, saídas, ou na
possibilidade de não haver solução nenhuma diante de problemas amplificados
pela aflição e pela angústia. Pensar com realismo em minha acachapante
desimportância social, funcional, existencial.
Um bentevi resolvia a sua aflição imediata bebendo água numa poça. Simples. Quer dizer, simples para
quem assiste. A grande vitória para o bentevi é voar vivo, pousar vivo numa árvore
próxima, saltar vivo para os fios de um poste, pousar vivo na poça. Vivo, beber
a água num ambiente hostil. Vivo, desconhecer desimportância.
Chuva, calma que parece reinar na cidade, protegida da falsa
e histérica euforia do verão e seus moedores de carne midiáticos.
Caminhei pelo bairro que, raro, estava sereno e vazio. Senti
a quase garoa cair sobre a cidade, que repousava. Poucos carros, ônibus,
ciclistas, pessoas nas calçadas; os bares relativamente vazios com uma meia
dúzia bebendo cerveja e assistindo futebol na TV. Calma.
É esse o dom da chuva. Calma. Apesar de já ter gente sadomaso reclamando da ausência do calorão.
Voltei a pensar em soluções, saídas, ou na possibilidade de
não haver solução nenhuma diante de problemas amplificados pela aflição de quem
procurava viver intensamente.
Seguir caminhado, por dentro da chuva é um bom paliativo não
alcoólico. Dizem.
P.S. - Ouça: https://soundcloud.com/user-810093288/minha-fama-de-mau
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