Sinuca de bico


Dei uma geral nos números de acessos a esta Coluna e o que eles mostram é, no mínimo curioso. Na verdade, uma sinuca de bico.

Quando critico, denuncio, pego pesado, o número de acessos é bem alto. Quando elogio, caem mais de 60%. Também há rejeição a contos e crônicas, o que indica que a maioria quer ler sangue.

Claro que eu já suspeitava, mas a frieza dos números impressiona. 

Tive que optar entre o quantitativo e o qualitativo. Como em tudo que faço, venceu o segundo. Defendo a qualidade de vida, qualidade ambiental, qualidade cultural, qualidade afetiva.

Em vez de um milhão de amigos, prefiro cinco ou seis. Tenho menos do que isso. Não confundo leitor, ouvinte, telespectador, colega, com amigo.

Seria desqualificar a amizade e também o reconhecimento ao meu trabalho, como se os elogios fossem “coisa de amigo”. Não são. Não conheço quase 100% das pessoas que se comunicam comigo, ou seja, suas opiniões são isentas. Eu acho.

Sempre fui gentil com elas, jamais deixei de responder mensagens, dar entrevistas, bater papo. Penso que o que acho que sei fazer deve ser passado adiante. Também no quesito “saber” não tenho nada de acumulador e muito menos de colecionista.

A Coluna vai seguir o seu rumo, fingindo estar alheia aos números. Fingindo porque não nasci para produzir Comunicação para meia dúzia, como no caso dos amigos. Em Comunicação, luto para alcançar o maior número possível de pessoas interessantes, ou seja, pessoas que estão nos radares de interesse da Coluna.

Já fui questionado pela prioridade que dou ao trabalho e algumas vezes respondi que além de garantir a sobrevivência o trabalho não trai. Quebrei a cara pouquíssimas vezes. O trabalho exige que façamos direito, no prazo, do jeito que foi acordado com ele. Desde que haja trabalho, é claro. Sim, sou workaholic (https://bit.ly/1ONl9F8).

O filme “Spotlight”* (detalhes aqui https://bit.ly/2MWUc8r ) pode não ter merecido o Oscar (de fato, não mereceu), mas mostra muito bem o dia a dia de uma redação de jornal (The Boston Globe) onde muitos apaixonados por aquela saudável roda de fogo viram noites no jornal e mantém um convívio social e familiar anêmico.

Não é por aí. Eu sei. Mas quando amamos muito temos que estar atentos ao exagero e até ao fanatismo em geral e ao laboral em particular.
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       *Está na Netflix.

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