Ummagumma, 50 anos

                                               Essa coluna não cita nenhum partido político, em especial
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Se as gerações futuras decidirem se interessar pelos parcos, pobres e decadentes tempos atuais, vão correr atrás de alguns rastros de inteligência e sensibilidade.

As futuras gerações vão se chocar com fatos como a explosão de lama em governos que provocaram as tragédias de Mariana, Brumadinho, o fim anunciado da Amazônia, a equalização humana em uma única massa de pensamento, credo, raça, uma versão piorada do já abominável homem novo inventado pelo argentino Ernesto Che Guevara.

Mas, haverá muitos sinais positivos. Um deles é o álbum duplo Ummagumma que o Pink Floyd gravou e lançou em 1969 que este ano celebra 50 anos.

Os segmentos acústicos do álbum, recheados de efeitos especiais livres, são de tamanha profundidade que até hoje ainda encontramos rastros inconscientes de cabeças consistentes que decidirem jogar todas as fichas no inusitado. Ummagumma é, sobretudo, um louvor a liberdade e aos seus antagonismos, entre eles o próprio líder da banda, baixista, cantor, compositor e mentecapto Roger Waters, que virou stalinista.

Quando Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason começaram a gravar o álbum, no Estúdio 2 do Abbey Road Studios (Londres) tinham, sim, ideia do que iam fazer. Mais: tinham certeza de que pretendiam rachar o concreto da lógica do mercado, no apogeu da era hippie. Decidiram que os momentos gravados ao vivo em fusão com as experiências em estúdio não seriam digeridos imediatamente por ninguém. Aqui, acrescento: até hoje. “Não entendi nada”, ouço muita gente dizer após uma audição do álbum porque Ummagumma é para ser sentido.

Quando saiu no Brasil, lembro de alguém chamar de "coisa de doidões". É muito mais do que isso. Muito mais. A começar pelo nome, na verdade uma invenção de um roadie do Pink Floyd, Iain "Emo" Moore, que costumava dizer "eu vou até em casa ver se acho um pouco de ummagumma". Ele diz que significava "paz de espírito, relaxamento, não fazer nada", mas não desmente que Ummagumma pode significar sexo ilimitado, principalmente oral.

Ummagumma é pura, densa e tensa peça de arte contemporânea. Tão desafiadora que em 2015 cientistas britânicos batizaram com seu nome uma nova espécie de libélula que descobriram.

Não sei que horas vou parar de ouvir. Mas não pretendo desligar tão cedo.



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