Você sabe com quem está falando?


Poucas vezes em sua história o Brasil ficou infestado de tantos picaretas, traficantes de ideias alheias, arrivistas, mentirosos. O Brasil se tornou perigoso porque em nossa cultura não é de bom tom perguntar a si mesmo “você sabe com quem está falando?”.

Dizem que é grosseria.

Quando fui produtor de Ricardo Boechat na Rádio Bandnews FM – fui Repórter Senior na equipe que inaugurou a emissora no ar, no Rio, em maio de 2005 – fazíamos reuniões diárias as 8 da noite em sua sala. Ele era diretor da rádio e diretor de Jornalismo da TV Band no Rio.

Nessas reuniões, mostrava a ele as sugestões de pessoas e assuntos para ele abordar em seu programa diário, pela manhã. Ele escolhia e, depois, eu entrava em contato com os entrevistados dizendo que pela manhã, tal hora, um outro produtor ligaria para colocá-lo no ar com o Boechat.

A soma de minhas obsessões e neuroses com as do Boechat nunca permitiu falhas nesse processo, mesmo porque, no dia seguinte eu acordava as 7 da manhã já ligava para os entrevistados dizendo que as 9 iria ligar um outro produtor, etc. Obsessões, neuroses...

Nas reuniões Boechat sempre perguntava “quem é?”; “você conhece?”; “esse estudo que o cara fez está publicado?”.

Para ele o mais importante era o CPF e não o CNPJ. “O que interessa é entrevistar o CPF que vive atrás do CNPJ, em geral se escondendo quando acontece uma lambança”, dizia.

Fundamental adotarmos o “quem é?” também em nosso cotidiano, na cara dura procurar saber com quem estamos lidando evitando (mesmo assim com algum risco) estelionatos pessoais, profissionais, decepções. Pena não existir um Serasa para pessoas.

Leitor/leitora, você sabe com quem está falando?

Fica, então, mais uma mensagem do mestre.


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