Peter Tork (1942-2019)
Eu o conhecia de ouvir falar porque The Monkees nunca
estiveram no meu radar. Além de preferir ouvir os ingleses na época, Monkees nasceu como uma bandinha pré-fabricada. Só que ao longo das
396 páginas do livro do Sérgio Farias as revelações me surpreenderam. Os quatro
integrantes que se conheceram porque venceram um concurso para atores de uma
série de TV (jamais tiveram contato antes) eram bons músicos e cantores, mas tiveram
que penar para provar.
The Monkees foi mesmo fabricada para fazer frente aos Beatles
que tinham devorado o mercado. Tudo foi pensado pelos executivos das grandes
corporações: músicas, roupas, cabelos, atitude, posturas e a série de TV que
passou no Brasil.
Peter Tork, que já era músico folk, figura relativamente
fácil no Village (NYC) não suportava aquela situação, aquela coisa que fedia a
fake, a cover. Ele era um erudito precoce, um intelectual. Com os outros, conta
o livro, ele começou a reposicionar a banda e fazer exigências. Tinha como
exigir porque The Monkees fez muito dinheiro, muito, para eles, para a
gravadora, para a produtora da série, para a Rede NBC de TV. Até hoje estão
riquíssimos. Eles se rebelaram e assumiram as gravações, tocando os
instrumentos e cantando.
Antes, toda a parte instrumental, arranjos, etc ficavam com a Wrecking Crew, um grupo de músicos de estúdio
de Los Angeles que tocaram em milhares de gravações de estúdio nos anos 1960 e
início dos anos 1970, incluindo centenas de top hits. Em outras palavras,
eles gravavam como se fossem os Monkees.
Tork, exímio baixista e tocador de banjo, fez grandes
amizades. Ajudou Stephen Stills (C,S,N& Y), Jimi Hendrix, conviveu com os
Beatles, viveu intensamente a Londres lisérgica de 1967 e acabou mergulhando
nas drogas. Dos Monkees, Tork foi o que mais pegou pesado e passou o resto da
vida controlando a dependência química.
A sua história ganhou atenção especial de Sergio Farias
porque por mais que os Monkees se estapeassem (a relação entre eles sempre foi
péssima, agressiva, azeda), Peter Tork era quem mais pensava em música. Mexer
em música, ousar na música, uma revolução que pode ser sentida nos discos que a
banda gravou depois que deixou a Wrecking
Crew.
Por causa do livro estou ouvindo toda a discografia dos
Monkees e também de Peter. Vou correr atrás da série de TV e assistir ao longa
metragem que eles filmaram, “Head”, de 1968 (já vi que está no You Tube)
considerado um filme de vanguarda, alternativo, psicodélico, totalmente cabeça,
dirigido por Bob Rafelson, com roteiro dele e de Jack Nicholson.
Quero dedicar essa imersão ao Peter, um veterano que não
conheci no seu tempo de garoto mas que a tecnologia permite que eu curta agora.
Sinopse
da editora do livro, a portuguesa Chiado:
Entre
1966 e 1967, os Monkees vendiam mais discos que os Beatles e os Rolling Stones
juntos! Eles estavam com uma revolucionária série de TV, e, ao vivo, colocavam
os concertos de rock em um outro patamar.
Como
músicos, sua diversidade musical eclodia desde o pioneirismo no uso do
sintetizador Moog até a criação do country rock. Essa unidade criativa ganhou
admiradores como os Beatles, Jimi Hendrix, Frank Zappa e Timothy Leary.
Ao
exporem o modus operandi da indústria fonográfica, no entanto, a opinião
pública os elegeu como bodes expiatórios dos grupos pré-fabricados em plena
época da contracultura.
Após o
fim da banda, seus membros foram relegados a um ostracismo brutal, e Peter Tork
foi o mais afetado. Embora intelectual e compositor com formação clássica,
capaz de tocar sete instrumentos musicais, para a grande maioria Peter não
passava de "o bobo da série de TV".
Este
livro procura fazer justiça ao extraordinário legado dos Monkees na cultura
pop, revelando também os conturbados bastidores da banda, apresentando fotos
raras e traçando a trajetória dramática de Peter e sua peregrinação pelos seus
princípios de viver, com surpreendentes sinceridade e humor. Um verdadeiro
sobrevivente do rock'n'roll.
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