Calado, quieto


As batalhas navais ensinam que diante do bombardeio os submarinos submergem. Submergir é proteção. Para submarinos e para nós.
“Sai, sai do sereno menino”, diz a canção que alerta que “sereno pode fazer mal”. Uma tradução urbana do ato de submergir. Se bem que não percebo o sereno há muitos anos. Nem ele, nem a garoa, nem a neve de Itatiaia.

Itatiaia foi onde passei um dos melhores fins de semana de minha vida e a pior Semana Santa. “A vida é assim”, diria Zora Yonara, astróloga do rádio e sua voz enigmática com eco alertando: “pisciano, você tem pela frente uma sequência de vitórias esplendorosas. Insista, pisciano!”.

A submersão é vital para a sobrevivência, desde que haja oxigênio e humildade, banir os ventos tortos da arrogância, largar a nau da existência no fundo do mar, morada de polvos e peixes abissais.

Os tímidos vivem nos bancos de areia, cercados de corais. Parados, prestando atenção nos praticantes de evasão de privacidade (essa é do Tutty Vasquez) que exibem sua anêmica e minúscula burguesia nas redes sociais, blefando “estou tão feliz nessa foto, tão feliz que se me assoprar eu caio no chão e choro”. 
Ahhhh, o blefe das redes sociais. Ahhhh, o blefe das redes. Ahhhh, o blefe das sociedades. Ahhh, o blefe crônico da humanidade.

Submergir faz bem a saúde. Mesmo quando o oponente lança bombas de profundidade que fazem nosso casco mugir como o touro do Apocalipse.

As batalhas navais ensinam que diante do bombardeio os submarinos submergem, calados, quietos, como o bicho-preguiça mergulhado em seu mutismo, espatifado até por skate. 

Não fala, mas não corre.


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