Tolerância a intolerância

                 Nota na coluna de Ascanio Seleme no Globo de hoje. É censura, não importam os motivos.


A tolerância a intolerância é intolerável, mas está presente até para quem não pode ou não quer ver. Nas ansiosas filas dos bancos, nos ônibus, aviões, na caminhada solitária das pessoas rumo para o trabalho, escola, consulta médica. Rumo ao nada, muitas vezes.

Exercitar a tolerância é mais do que fundamental, ensinam a filosofia (parceira invisível e milenar de todos nós), a psicologia, o bom senso. Um exercício difícil, espécie de musculação existencial, vital, fundamental para que as pessoas possam conviver minimamente bem com elas mesmas e a partir daí com a sociedade.

A intolerância está presente nas ruas, no ambiente de trabalho, no supermercado, nas redes sociais, na política partidária, ou não, na censura velada que tenta ser justificável. Nesse momento o radicalismo parece se impor ao bom senso e assistimos um banho de sangue entre aspas entre pessoas que atiram até amizades de décadas no lixo em nome de convicções políticas dos outros, dos políticos profissionais.

A sensação de “vão-se os dedos, ficam os anéis” em redes sociais como o Facebook e Twitter, onde todo mundo bate em todo mundo defendendo políticos, políticas, governos, desgovernos, bandidos e fascistas incha mais os bolsos deles, dos políticos, e esvazia a esperança de uma nação mais equilibrada, mais generosa e até mais engraçada. Afinal, sem humor nada é possível.

Dizem que essa onda de tolerância a intolerância é passageira. Até concordo, mas não nego que ela preocupa, ocupa pensamentos em plena hora da vadiagem, dos devaneios. E fica cada vez distante uma colocação antiga e sábia de Daniel Filho: “Não há nada que com o tempo não se torne completamente ridículo.”

Procede?


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