Vácuo
Foto de Jose Luis Barcia Fernandez
Afeto profundo. Abissal. Em cada lugar, mesmo inóspitas,
lembranças, lembranças nítidas e um sentimento bem mais poderoso do que a
saudade. É quando sentimos falta, muita falta, de pessoas e momentos que se
eternizam no afeto profundo, lá embaixo, no abissal e quase indecifrável (?)
inconsciente.
O ser humano é diferente até dele mesmo já que a coerência
radical, prima bem próxima da teimosia, é eventualmente burra. Por isso, por
essa livre e saudável ausência de isonomia afetiva, cada humano tem com o afeto
uma relação distinta. Com o afeto profundo, essas diferenças se abrem como
grandes abismos e muita gente não consegue lidar com ausências.
Acham que o choro é fraqueza, que o lamento é covardia dispensável,
marmita requentada, que o “estado blues” que nos acomete tem que ser
massacrado, assassinado, deletado, arquivado, atirado no lixo, em nome de uma
suposta superioridade emocional. Dizem que os ocidentais, em especial os
pequeno-burgueses, preferem ignorar o afeto profundo. É mais fácil? Não. É como
um cheque pré-datado, daqueles que batem na conta lá na frente, com juros e
correção.
Minhas noites na orla do Gragoatá tem sido especiais porque
mergulhei no afeto profundo. Nó na garganta quando o cheiro do mar misturado ao
de óleo combustível dos navios de guerra e dos zepelins que um dia surgiram na
Boa Viagem me chegam. Foi bom. Foi bom homenagear quem eu queria, em
lembranças, poemas, vento do litoral, o azul petróleo da noite.
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