Heresia com os Beatles
Entrei no Uber e assim que começou a tocar uma música dos Beatles no
rádio e eu senti um pouco de náusea. Reagi mal aos primeiros acordes de “Let it
Be” (era essa a música) e me assustei. Estaria ficando de saco cheio dos
Beatles? Quando? Onde? Por que?
É verdade. Uma verdade que eu suspeitava mas não confirmava porque
achava um absurdo. Mas estou enjoado de boa parte das músicas dos Beatles, não
por culpa de Lennon, McCartney, Harrison e Starr, mas por causa da overdose de
covers, tributos, versões, imitações, enfim, a molambalização que estão
fazendo da obra da maior banda da história do rock.
Com o passar do tempo (e das versões, dos covers, das homenagens e
cusp!, tributos) fui enjoando. Não aguento mais ouvir Hey Jude, nem Something,
Yesterday, enfim, a lista é grande, mas parou de crescer porque optei por parar
de ouvir Beatles.
Voltei a ouvir graças ao espetacular CD “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts
Club Band”, edição especial de 50 anos, remixada, com várias faixas bonus bem
legais com ensaios, etc. Depois de minha “greve” ouço canções que não foram
sucessos mundiais e muito menos fontes de cobiça de aproveitadores fantasiados
de beatlemaníacos que jogam lama sobre a obra dos chamados Fab Fours.
Principalmente os que fazem o traste chamado “tributo” que, em geral, urina
sobre a biografia do homenageado.
Uma vez, no Rio Grande do Sul, no meio de um “tributo a Stevie Ray
Vaughan um cara da plateia, meio bêbado, levantou e quis bater no líder da
banda. Com razão porque aquilo que ele estava cometendo não era Stevie Ray
Vaughan nem no Paraguai.
Paul McCartney está preocupado com a super
exposição de muitas canções dos Beatles e a cada turnê varia, busca músicas
mais alternativas, enfim, o GPS do Macca já percebeu que os Beatles não merecem
morrer de overdose.
Puxei assunto com o motorista do Uber que disse gostar dos Beatles e
que, inclusive, foi a um show do Paul McCartney. Perguntei se ele não estava
cansado de ouvir algumas canções e ele disse que “essa aí toca muito...já está
meio batida”, referindo-se a “Let it Be”. Para escrever esse texto liguei para
alguns amigos ligados a música e todos, absolutamente todos, concordaram que
por causa dos covers, versões, etc. os Beatles estão cansando.
Um conhecido montou uma banda que toca Beatles me mandou
e-mail/convite para a estreia e tal, mas acabei não indo. Semanas depois
encontrei com ele veio a fatídica “pô, não foi ao show...”. Abri o jogo, falei
a verdade, disse que não vou mais a show de cover de Beatles. Ficou tudo bem,
como sempre acontece quando falamos a verdade.
Recentemente, estava num bar conversando com amigos e o violeiro que
nos punia com a famigerada música ao vivo começou a tocar Beatles. Pedi a conta
e fui embora antes dele chegar ao refrão porque a banda que sacudiu o planeta não
merece um final tão melancólico como o esquecimento, consequência de overdose
de exposição.
P.S. - Devo a Lennon, McCartney, Harrison e Starr tudo o quer acho que sei sobre música pop.
P.S. - Devo a Lennon, McCartney, Harrison e Starr tudo o quer acho que sei sobre música pop.
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