O início, o fim e o meio

                                                                    Vista aérea
                                                                 O outro lado
                                                                  Sequência

A primeira vez que vi essa imagem era muito pequeno.

Foi uma aparição para mim, uma coisa sobrenatural. As nuvens começaram a se dissipar de cima para baixo, descortinando a montanha devagar.

O espetáculo começou pela ponta.

E poucas horas depois, a montanha monumental podia ser vista, toda ela, o dedo indicador e o restante d mão.

Wikipédia informa que o Dedo de Deus é um pico com 1.692 metros de altitude e foi conquistado em 9 de abril de 1912 pelos montanhistas José Guimarães Teixeira, Raul Carneiro e os irmãos Américo, Alexandre e Acácio de Oliveira, todos de Teresópolis.

Desde a primeira aparição o Dedo de Deus não mais saiu de minha vida. Nos anos 1970, meus pais escolheram Teresópolis como segunda cidade e eu e meu irmão passamos muitas férias de verão por lá na adolescência.

Sempre ia ao Alto do Soberbo e ficava um bom tempo contemplando o Dedo de Deus, pedindo bençãos ao Senhor, para a família, para os amigos, para o mundo, para mim. Aquele pico tem uma energia muito forte, muito.

Teresópolis foi uma cidade adorável, linda, a vida noturna para a garotada era intensa, com dança, shows, praças cheias até alta madrugada de garotas e garotos tocando violão, dando gargalhadas. Havia o Higino, havia a Bowling, Iucas, Ingá, Caxangá.

Durante o dia, banhos de cachoeira na Cascata dos Amores, ou na piscina natural do Parque Nacional. Havia também cavalos para alugar, minigolfe, uns três cinemas bons, fliperama, kart, circo. O tempo voava em Teresópolis.

Nos anos 1980 a cidade foi entregue a mediocridade/vulgaridade administrativa.  Desprezível, ignóbil. Muitos prefeitos incultos, reacionários, imbecis, ladrões, sucatearam a cidade, incentivaram e venderam a cidade para a especulação imobiliária (levaram muito dinheiro) que dizimou matas e rios. Na mesma linha criminosa, liberaram geral e incentivaram a favelização geral,  absurda. Todos os morros (eram chamados de mirantes, no passado) hoje são comunidades dominadas por traficantes, etc etc etc.

Com a devastação, a temperatura da cidade subiu e hoje quem pode tem ar condicionado em casa. O nevoeiro comum nos fins de tarde desapareceu. Os bandoleiros que tomaram a cidade acabaram com a diversão, os cinemas fecharam, não há boates, não há cavalos para alugar, não há mini golf, não há nada para fazer. O único “evento” é o toque de recolher que o tráfico/milícias impõem.

A cidade envelheceu, apodrecieu e hoje é uma treva. A Cascata dos Amores, que virou um rio de cocô, hoje é ponto de encontro de funkeiros com sons nas alturas atormentando a vizinhança. Vizinhança? Que vizinhança? Quem tinha casas por ali vendeu, ou tenta vender.

O Dedo de Deus? Ainda está lá. Mas contemplá-lo exige muito cuidado porque até o Alto do Soberbo virou ponto de arrastões.



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