A busca do consenso médico Alvaro Acioli *
Não vivemos uma época de comportamento clássico.
Muito ao contrário: os valores, a cada instante, estão sendo contestados ou
transformados, numa mutação que origina uma soma incalculável de informações,
na qual todos sofrem a sobrecarga do impacto com o novo e o inusitado.
Estamos vivendo, indiscutivelmente, num ambiente
totalmente inesperado. O homem continua criando novas possibilidades de viver,
sem desenvolver outras maneiras de pensar.
O simples está ficando cada vez mais complexo. As
pessoas e as ideias estão envelhecendo numa velocidade inquietante.
Nesse momento histórico, o exercício da medicina
também está enfrentando delicados problemas, conceituais e éticos, causados
pelas novas tecnologias que diariamente são descobertas.
Os instrumentos e recursos usados na prática
médica entram em obsolescência rapidamente. E isso faz com que as redefinições
e reorientações tenham de ocorrer numa grande rapidez.
A atualização e a educação continuadas
transformaram-se, como nunca aconteceu anteriormente, em necessidades fundamentais.
Por outro lado, a circulação virtual do
noticiário científico surpreende agora o médico com uma soma avassaladora de
pesquisas e descobertas. Essa fartura, paradoxalmente, está dificultando o
exercício profissional.
Falta tempo hábil aos médicos para a avaliação
crítica da grande massa de informações que recebem. Eles acabam obrigados a
acompanhar somente os avanços relacionados ao seu campo de especialização. Como
consequência, decisões que eram antes assumidas com tranquilidade, sem
angústia, tornaram-se difíceis e penosas.
Por outro lado, a divulgação abusiva de pesquisas
científicas (muitas delas em fase inicial) que os leigos não podem avaliar
corretamente, aumenta a desinformação social. E, pior ainda, coloca o médico na
obrigação de oferecer, a todo momento, respostas atualizadas, em todos os
campos da medicina, mesmo aqueles situados fora de sua área específica de
atuação.
Um volume extraordinário de pesquisas se converte
em novos produtos que são produzidos quase simultaneamente. Mas a verificação
das consequências dessas pesquisas viabilizadas não se faz com a mesma rapidez.
Isso na realidade objetiva acaba aumentando o risco da prática médica.
Um notável esforço visando promover o
aperfeiçoamento profissional e a complementação acadêmica, de todos os médicos,
está sendo realizado pelas entidades de classe, as sociedades e organismos
especializados, as Universidades e a imprensa especializada.
Mas a melhoria do consenso médico, indispensável
para um exercício profissional mais seguro e competente, exige agora o
engajamento apaixonado de todos os praticantes e cultores da ciência médica.
*Alvaro Acioli - mini currículo.
. Acadêmico Emérito da Academia de Medicina do
Estado do Rio, ACAMED.
. Graduação em Medicina pela Universidade Federal
Fluminense (1957).
. Especialização em Psiquiatria pela Associação
Médica Brasileiro (1970).
. Livre-Docente em Psiquiatria Clínica e Social
pela Universidade Federal Fluminense (1975).
. Professor Titular de Psiquiatria da Faculdade
de Medicina de Teresópolis.
. Professor de Neuropsiquiatria Infantil da UFF,
de 1972 a 1996.
. Professor Convidado da Pós-Graduação da
Faculdade de Medicina do Porto/Portugal.
. Membro Titular do Comitê Brasileiro para
prevenção e Tratamento da Depressão (1987-1997).
. Cem monografias e trabalhos publicados, em
revistas nacionais e internacionais.
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