Luz - coluna de sábado, 12 de setembro de 2020, no jornal A Tribuna RJ


Não se avexe se bater uma vontade incontrolável não fazer absolutamente nada, produzir um coquetel molotov, ou escrever um manifesto anticomunista.

John Lennon chegou na beira do abismo em 1966 quando comparou a popularidade dos Beatles a do cristianismo. Pouca gente leu exatamente o que foi dito e distorceram. Ele de uma entrevista a um pequeno jornal inglês que, com a mensagem torcida, foi divulgada por rádios dos Estados Unidos:

“O cristianismo vai acabar. Ele vai desaparecer e afundar. Não preciso argumentar sobre isso. Estou certo e o tempo vai mostrar isso. Somos mais populares que Jesus agora; não sei quem vai entrar em declínio primeiro: o rock ‘n’ roll ou o cristianismo. Jesus era legal, mas seus discípulos eram tolos e medíocres. Pra mim, foi a distorção que eles fizeram que arruinou o cristianismo”."

Foi um lampejo, meio que um raio. John Lennon tinha 26 anos, homem feito e gostava de Jesus mas ao longo do tempo, com os Beatles, LSD, etc foi se distanciando. O que ele disse foi em relação ao cristianismo e as igrejas, que em geral fazem o que Jesus condena. A relação com a grana, com o poder, essa orgia é um espetáculo anticristão. Ou não?

Lennon não detalhou o seu raciocínio e houve uma enorme revolta contra os Beatles nos EUA, tacaram fogo em discos, shows foram cancelados, tudo provocado pelas rádios católicas e evangélicas e pelas igrejas em geral.

O radicalismo faz parte da pós-adolescência imediata, quando queremos virar ônibus, tacar fogo no mundo, lutar contra a sociedade constituída, contra o capital, contra o governo, contra a família, contra tudo. Depois, a maturidade chega, toca a campainha, entra, senta numa poltrona pede um café e pede para a pós-adolescência a se retirar.

Ela, a maturidade, irá morar conosco o resto dos dias, ouvindo o alarido da pós-adolescência do lado de fora.

O Brasil está afogado no radicalismo de tal forma que o ódio impera. Ou a pessoa é de extrema direita ou de extrema esquerda, exatamente como nos tempos de colégio, com uma drástica diferença: o maior e mais poderoso meio de comunicação da história da civilização, a internet, amplifica e reverbera essa relação caótica entre as pessoas com milhares de giga tons de potência. Se você não quer confusão, a confusão entra no seu celular, tablet, computador. Pé na porta.

É muito negativismo, baixo astral, azedume. Concordo que o otimismo excessivo, modo Poliana de ser, roça na alienação. Os tempos modernos exigem equilíbrio, lembrar que o Brasil não está em crise, ele é a crise, e do caos fez-se o Cosmo (Carl Gustav Jung).

Eu me recuso a pensar que não existe mais luz no fim do túnel, ou que a luz no fim do túnel é o farol de um trem no sentido contrário. 

Eu me nego porque quis o destino que eu me apaixonasse por comunicação e informação desde garoto e por conta disso acabei fechando um pacto com os livros, jornais, revistas, internet, TV, rádio. 

E a história mostra que desde 1808 quando a Corte portuguesa fugiu de Portugal e se apossou do Brasil só dá encrenca, protagonizada pela corrupção.

Como ioiô o Brasil já foi lá embaixo e voltou várias vezes, mas a luz do fim do túnel jamais apagou ou foi apagada. Crise com o fim da monarquia, crise com o começo da república, golpes de estado, tropas na rua, II Guerra, Getúlio se roçando em Hitler, Estado Novo, Jânio, renúncia, golpe em 64, turbo golpe em 68....blá blá blá.

Um dia pus no Facebook a linda foto que ilustra esse artigo, um túnel no final, túnel verde, de autor desconhecido, e algumas pessoas comentaram. Quis mostrar que não devemos nos render ao negativo, venha de onde vier, certos de que há conserto para tudo.

Sabem o Ted Turner, magnata que criou a CNN e um monte de outras TVs? Ele conta no livro biografia sobre a CNN que tinha um iate com bandeiras de todas as cores, menos a branca. “Branca é de rendição e eu não me rendo”, ele disse.  Eu também não.

Logo, não venham querer levar nossa luz no fim do túnel, e muito menos o túnel que faz parte da vida. Dou a maior força aos conhecidos que fugiram para o exterior, estão no seu direito de ir para onde quiserem. Muita gente esculhamba, mas eu defendo porque ninguém é obrigado a permanecer num lugar que lhe faz mal. Agora, também acho ridículo quando eles ficam lá de fora dando pitacos nos problemas daqui. Ou está fora, ou está dentro. Uma vez fora, a peteca fica aqui. 

E a luz do fim do túnel também.

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