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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

Fiador moral

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O cara é baba-ovo, invejoso, rancoroso, arrivista e, dizem todas as  línguas, as más inclusive, é um caloteiro, desses que não pagam a ninguém na maior cara de pau. Aí chega alguém e pergunta se você conhece o tal meliante. Você já o viu e até conversou com ele algumas vezes, mas por força de expressão acaba dizendo que “conheço sim”. Ferrou! Sem querer, virou avalista de um canalha. Melhor seria dizer, apenas, que “conheço de vista”, mas os hábitos da fala as vezes nos metem em roubada. Por uma questão cultural dizemos que “conheço” a quem vimos algumas vezes. Pior: em muitos casos estabelecemos relações pessoais e profissionais com pessoas que não conhecemos sem tomarmos o cuidado de pedir referências a terceiros. Os ingleses tem esse hábito. Só fazem negócios ou se relacionam com pessoas quando três, quatro ou cinco amigos de confiança confirmam que a tal pessoa é do bem, honesta e tudo mais. Por exemplo: não conheço nenhum Babalu, apesar de um colega, que encontrei n...

VeloSes & FurioZos

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Ontem Hoje Duas motocicletas de no máximo 150 cilindradas faziam zigue zague entre os carros na mau caráter estrada Rio-Manilha. Na moto de trás, preta, um adesivo branco, bem grande, colado no tanque de gasolina: “Velosez e Furiozos”. Assim mesmo, com o S no lugar do Z, Z no lugar do S e muito cocô de pombo na cabeça do famigerado piloto. Silencioso cortado foi substituído por dois canos de descarga que apelidei de “esporrers”. Um deles quase arrancou meu espelho retrovisor e o sujeito do carro da frente xingou os dois motoboys (ambas as motos carregavam aqueles baús gigantes e maltrapilhos para entregas na garupa), que faziam a tradicional “saudação” empinando o dedo médio da mão. Depois vieram outros, e outros, lá na frente uma moto estava caída no acostamento e uma ambulância do Samu atendia o sujeito que parecia bem. Enfim, as motocicletas de hoje que arrotam pelas ruas conduzidas por bípedes que ostentam Q.I. de protozoários nada tem a ver com aquelas do passad...

A inveja é uma merda

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“A galinha que cacareja demais é a primeira a ir pra panela” (ditado popular). “Porque ela é linda e eu não?”; “Por que ele tem esse carro zero e o meu é tão velhinho?”; “por que ele mora tão bem e eu não?”; “por que ele está sempre saudável e eu vivo doente?”; “por que ele é sempre promovido e a empresa me ignora?”; “por que com ele as coisas sempre dão certo e comigo não?”; “por que o casamento dele é feliz e o meu não?”; “por que eles podem viajar sempre e eu não tenho condições”... A inveja é da essência humana, informa uma corrente contemporânea do holismo. A princípio não é querer mal ao outro, mas desejar o que o outro tem, e segundo o holismo contemporâneo, é aí que mora o problema. Afinal, a energia psíquica de todos nós é uma só, e é neutra. Ela se torna positiva ou negativa de acordo com nossos direcionamentos, em especial o pensamento. Quem pensa negativo enfraquece, quem pensa positivo, fortalece. Carl Jung revelou que a energia psíquica pode ser atingida de...

Carro pra que?

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Encontrei o querido amigo Helinho em frente ao banco. Ele vinha pela calçada, me viu, abriu os braços, trocamos um longo abraço. Disse a ele que estava indo pagar o IPVA do carro porque o banco na internet tinha dado pau. Ele respondeu: “há mais de um ano que não sei que problema é esse.” Economista bem sucedido, especializado em finanças pessoas e também terapeuta holístico, desde novo Helinho investe em qualidade de vida. Contou que há um ano e meio vendeu seu Honda Civic 2012 por R$ 50 mil e investiu muito bem o dinheiro (ele conhece esse caminho). Nos dias úteis só usa os baratíssimos Uber X e Cabify e nos finais de semana fez um excelente negócio com uma locadora de automóveis. Um motorista deixa um Toyota Etios Hach completo, automático ("quando me sinto um burguês velho, peço com câmbio mecânico, mais esportivo rs") na garagem dele na sexta a tarde e busca na segunda. Num pacote especial de uso continuo a diária não chega a 100 reais. Helinho conta, ...

Somos todos impublicáveis

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Faz sentido um sonho que tive, noites atrás. Muitas noites atrás. Muitas e muitas e muitas e muitas noites atrás. Provavelmente nem era nascido. Sonhei com o filme “Beleza Americana” (está na Netflix), obra genial de Sam Mendes lançado em 1998, com Kevin Spacey, Annette Bening e Thora Birch nos papeis principais. Bem, o filme mexeu tanto na minha vida (literalmente) que comprei uma cópia em DVD para assistir de novo de tempos em tempos. Mas não assisto porque muitas vezes é melhor deixar nossos baús trancados, calados, quietos. A guinada existencial do personagem de Kevin me deixou boquiaberto dentro do cinema, onde permaneci uns cinco minutos depois que o filme acabou, completamente abobalhado, besteirão, queixo caído, vendo os créditos subirem na tela enquanto as pessoas saiam, com o capacete da minha Suzuki DR 800 no colo; tinha moto naquela época, mas motocicleta deixou de ser um veículo civilizado, segundo o regulamento. Pou! No dia s...

Keith Jarrett, The Koln Concert

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O disco instrumental que me deixou de joelhos na primeira vez que ouvi chama-se “The Köln Concert”, de Keith Jarrett, gravado no Opera House em Colônia, Alemanha, em 24 de janeiro de 1975. Ou seja, o concerto que virou disco (lançado em setembro de 1975) acachapante fez 40 anos. Não conhecia bem Keith Jarrett. Só em 1981 ouvi “The Köln Concert”. Foi como se um tufão rompesse os meus rochedos emocionais. Todos eles. Era um LP duplo, importado (gravadora ECM, da Alemanha) que ouvi um dia inteiro em casa e numa cópia em fitinha K7 que fiz, a bordo de meu Fiat 147. O álbum vendeu quase quatro milhões de cópias e é o disco de piano-solo mais comercializado na história da música. Até hoje esse disco me devasta. No melhor dos sentidos. A solidão do piano de Jarrett, totalmente entregue a música a ponto de gritar várias vezes ao longo do concerto é algo que não vai acontecer de novo. Por mais que seja desejado, planejado, ensaiado, “The Köln Concert” é um raio que não vai cair de no...

É verdade. Sim.

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 Não foi a toa que chorei como uma ema no cinema assistindo "O Resgate do Soldado Ryan", de Steven Spielberg, em 1999. Vi no capitão John Miller, interpretado por Tom Hanks, um clone meu. Teria feito tudo o que ele fez, inicio, meio e fim, sem alterar nada. Nem um milímetro. O filme pode ser visto no You Tube, mas o ideal seria assisti-lo na telona do cinema, com um ótimo áudio. Assisti "Até o Último Homem" dias atrás. Provavelmente foi o melhor filme que passou por mim desde janeiro de 2016. Apesar da história ser completamente diferente de "Soldado Ryan", há algumas conexões: a) são reais; 2) tratam da solidariedade. "Até o Último Homem" foi dirigido por Mel Gibson e foi indicado ao Oscar em seis categorias, inclusive a de melhor filme. Impressionante o ilimitado poder da fé de um homem, que ultrapassa a barreira do absurdo. Cercado de sangue, vísceras, pernas amputadas por bombas (não recomendo o filme as pessoas mais sensíveis), um h...

Desconsideração

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Um secular amigo não está entendendo nada. Muito menos eu. No auge da era da tecnologia da informação e seus tentáculos que permitem a comunicação instantânea entre pessoas, poucas vezes vi tanta falta de consideração cacarejando por aí. Esse amigo estava fazendo as coisas dele e alguém ligou de uma empresa. Uma proposta de trabalho, a princípio bem legal para ambos. O cara que ligou pediu urgência, muita urgência, para que meu amigo fosse a uma reunião discutir o projeto, datas, grana e tudo mais. E assim foi. Digo, e assim não foi. Meu amigo tentou falar com ele umas três vezes para marcar a reunião que o outro pediu, mas o sujeito sumiu. Ele, sua urgência e a sua consideração. Comigo coisas parecidas vem acontecendo há tempos. Por e-mail me encomendam trabalhos e depois...somem. Como se vivêssemos no tempo do rádio galena, sinal de fumaça ou coisa parecida. Também no terreno pessoal, eventualmente acontecem coisas bizarras e semelhantes. É o caso do lastimável, insuportável, ...

Bonzinho é o cacete!

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Nós, brasileiros, não somos e nunca fomos bonzinhos. Fatos cotidianos como gente que taca fogo em gente, assassinatos de crianças e idosos, as duas privadas atiradas do alto de um estádio de futebol em Recife (uma pessoa morreu) dois anos atrás, linchamentos mostram que embaixo do chamado tecido social do Brasil, cultuado como bonzinho, reside ódio, rancor, atrocidade. Em seu “Diário de Viagem”, o filósofo Albert Camus conta que quando esteve no  Rio  em 1949, ciceroneado pelo grande Abdias Nascimento, pediu para conhecer um centro de Umbanda. Era agosto, um agosto mais para verão do que para inverno. Abdias providenciou um táxi e for a m, ele e Camus, em direção da Baixada Fluminense onde ficava o centro. Só que, no caminho, nas imediações da Praça da Bandeira, um caminhão atropelou e matou um homem. Antes da ambulância, da polícia e dos bombeiros, um Camus boquiaberto viu chegar um grupo de pessoas que levantava o rosto do atropelado só para ter o prazer de ver a ...