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Mostrando postagens de abril, 2017

Belchior – 26/10/1946 – 30/04/2017

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                                                         As palavras sumiram, mas vou tentar escrever. Belchior foi o compositor brasileiro que mais ouvi nos anos 1970, quando já não havia galos, noites e quintais como ele bem anunciara. Assisti a vários show, fiz pelo menos cinco entrevistas importantes com esse cearense que chegou ao centro do palco brasileiro ao lado de Fagner, Ednardo e outros. Há alguns anos optou pelo sumiço. Radical. Desapareceu até ser localizado por um programa de TV que, covarde, o chamou de ladrão em rede nacional. Belchior teve que sair do auto exílio (um direito de todos nós) para defender a sua honra. Voltou a submergir por razões que só ele sabia (e daí?). No palco que ele ajudou a brilhar, subiram as piranhas, sertanejos, funkeiros e barangas como Karol com K, Anitta, Ludmila, Wesley Safadão e outr...

Brasil, não tenho mais tempo

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Brasil, não tenho mais tempo. O meu tempo passa cada vez mais veloz entre os ponteiros de segundos. Meus impostos, taxas, tarifas,  contribuições , óbulos, encargos,  ô nus  estão rigorosamente em dia, bem como todas (TODAS) as minhas obrigações morais e cívicas para contigo. Mame à vontade, Brasil. O sangue é teu. Brasil, o meu tempo voa e não pode se dar ao luxo de contemplar o seu, lento, re d undante, atolado, preguiçoso, corrupto, venal. Meu tempo é para o trabalho, para a minha saúde, para o amor, já que não tive tempo de pular fora antes. Se fosse antes, estaria longe, em outro lugar, sorvendo outros tempos. Mas você não me deu tempo, Brasil. Tive que ficar. Brasil, nas ruas há sempre carnavais, micaretas, grevistas vagabundos sustentados por nós . Hoje haverá mais, no interior e nas capitais, mas não irei ver porque não quero. Não quero e não tenho tempo. Tenho muito trabalho a fazer, apesar de você, tenho muita história para contar, apesar de você,...

A esquerda que conheci

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Minha adolescência mesclou terror e êxtase e apesar de ter começado a escrever em jornais aos 15 anos, política era um tema distante, proibido. A ditadura estava no auge (anos 70) e ninguém explicava o que estava acontecendo para nos resgatar do estranho planeta da alienação ideológica. Os professores de História do Brasil paravam em Getúlio Vargas, como se o Brasil tivesse sido parido em 1500 e abduzido em 1954. Havia curiosidade com relação a aquele mormaço provocado pelo silêncio imposto pela ditadura. Ainda assim, não consegui me informar mais, apesar de saber o que significava a pichação “fora comunas” em alguns muros da cidade. Quando comecei a trabalhar na grande mídia aos 16 anos, mantive os primeiros contatos com pessoas ligadas à esquerda. A carnifica no país seguia seu curso macabro e, por isso, minha cautela era máxima, apesar de nunca ter exercido militância. Qualquer uma. No entanto, me encantei com o ideário da esquerda, principalmente a chamada esquerda r...

O castigo de Sísifo

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Não tenho vocação para Sísifo e seu castigo, apesar de já ter dito por aí que o trabalho é a minha razão de viver. Sem exagero. Filei essa afirmação do lendário jornalista Samuel Wainer, pai de meu saudoso amigo Samuca, cuja autobiografia se chama “Minha Razão de Viver” e continua a venda nas boas livrarias. Estou pegando fôlego, alugando coragem para reler “O Mito de Sísifo”, de Albert Camus que foi um herói de minha pós-adolescência, se é que isso existe. Mas coragem não é uma casaca que você entra numa loja e aluga para usar num batizado, casamento, funeral. Coragem anda por aí. Estou assistindo na Netflix a série “Breaking Bad” (não recomendável para quem procura kkkkkkk) e a partir do quinto episódio comecei a dar razão ao professor Walter White e a sua opção pelo lado B. Meu lado B (quem não tem?) já me convidou para assaltos a bancos estatais e outras barbáries. Neste exato momento passo por um abissal conflito. Além de apoiar o professor Walter White, meu lado B come...

"Descomunicação"

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Jamais a civilização teve tantos meios de comunicação disponíveis. Até “ontem” (1990) quem quisesse enviar uma mensagem confidencial escrita tinha que pegar papel, caneta, escrever, por no envelope, ir até a agência do correio, postar e esperar dias até que o destinatário recebesse. Uma carta do Rio para a Europa demorava 10 dias para chegar. Em 1990 já havia fax, mas todo mundo podia ler o que estava escrito. Havia também o pager que, em sua época, foi importante. Em 1983, nos Estados Unidos, quem pagasse 20 mil dólares conseguia um telefone celular. Hoje reina a fartura tecnológica. No mundo há bilhões de linhas de celular, outros bilhões de usuários da internet. Os preços desabaram, o acesso continua cada vez mais fácil e a quantidade de aplicativos e programas impressiona. E-mail, SMS, Whatsapp, Facebook com voz, etc. etc. etc. muitos de graça. Ótimo. E a contrapartida? Se a civilização nunca viu tanta fatura tecnológica em prol da sua comunicação, por outro lado a f...

A onda que se ergueu no mar – dedicado a querida amiga Gilda Mattoso

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"No dia em se reescrever a Constituição, um dos novos artigos dirá: Todo brasileiro tem direito a um cantinho e um violão. Tem direito também a cidades saudáveis, matas verdes, céu azul, mar limpo e seis meses de verão". (Ruy Castro). Em tempos de cólera faz bem a alma ler "A onda que se ergueu no mar", um livro antigo do Ruy Castro (é de 2001), um verdadeiro poema para o Rio de Janeiro que amo, mas que não conheci pela mais inquestionável das razões: não era nascido. A personagem principal dessa obra é a bossa nova, movimentação cultural que surgiu numa fase do Brasil encravada entre o suplício representado pela era varguista, a boçalidade janista, o baixo astral apático do janguismo e o golpe de 1964. Coisa linda era o Rio nos anos 1950, início de 60. Coisa maravilhosa era a bossa nova, capaz de ver mais beleza onde de fato já havia beleza, a contemplação dos olhos verdes da morena e seu biquíni "ousado" em 1960, que hoje daria para fazer um paraq...

Cachorro em apartamento

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Andando pelas ruas vejo dezenas de pessoas com cachorros na coleira, algumas levando nas mãos um saquinho plástico para por as fezes. Noto que a maioria dos cães é obesa por motivos óbvios. Vivem trancados em apartamento, vida sedentária, e por mais que seus donos os ame não conseguem dar ao cão a necessária, fundamental vida ao ar livre. Sofrem os cachorros (que também tem muitas doenças de pele por causa da falta de sol, de rolar na grama, etc), sofrem os donos. Decidi não ter mais cachorro em apartamento por causa do meu melhor amigo, um basset (razão social dachshund) quase idêntico a esse da foto, que morava comigo, há anos. Comprei o cão porque o sol da manhã entrava pela sala onde morávamos . Para melhorar, havia uma varanda onde, imaginei, Titã (esse era o nome dele) poderia curtir o calor (bassets sentem muito frio) do sol, o vento e um pedaço de céu. Nunca havia imaginado que as três necessidades do melhor amigo do homem são: 1 - o dono; 2 - o dono; 3 - o dono. Não...

Frente fria

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Roubaram o frio? Como incêndio em campos sem centeio, corre a lenda que amanhã uma frente fria vai chegar ao Estado do Rio. Ninguém sabe ao certo porque as chamadas “moças do tempo” dos noticiários de TV resolveram complicar tudo. Ao invés de dizerem “vai chover e a temperatura deverá chegar aos ...graus”, ficam de devaneios, para mim, inúteis. Não quero saber o que é zona de convergência. Quero saber por que as frentes frias sumiram do RJ há anos. Aliás, uma boa matéria para as “moças do tempo” correrem atrás. A intuição e meus pesadelos vomitam e dizem que quando a Amazônia foi vendida no mercado negro e passou a ser desmatada impiedosamente, tudo mudou. Soma-se a isso o fim da mata atlântica e o surgimento de uma região metropolitana que pode ser resumida como um conjunto de favelas salpicado de raras ilhas de verde”. Quer prova? Dê um Google e veja imagens de satélites. Mais: quando viajar de avião, olhe o Rio de cima. É uma visão trash. Os capos de ontem e hoje da...

Jornalismo molambo

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Foi em 2009 que resolveram acabar com a obrigatoriedade do diploma de curso superior para quem quisesse virar jornalista. Isso significa que, a partir daí, qualquer um pode se travestir de profissional da comunicação e sair cometendo matérias por aí, muitos sob a alcunha de “blogueiro”. Apuração? Para que se existe o Google? Que é tratado por eles como fonte de verdades absolutas e não ferramenta de busca. O que sei é que algumas empresas sérias ainda exigem o diploma, mas, por outro lado, outras querem que se dane. Qualquer um entra, escreve o que quer e que se exploda a humanidade. Concordância? Estilo? Gramática?. Adereços. Um colega, na mesa de um bar mês passado, afirmou que da falta do filtro (curso superior) nasceu o jornalismo molambo que é mal apurado, mal escrito, irresponsável, ignorante, boçal, etc.  O esbaforido colega diz que “esse filtro não tem nada a ver com a qualidade dos cursos que, sabemos, são uma merda, mas pela dificuldade de entrar na faculdade p...

Agências reguladoras, as madames do cerrado

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O governo não tem lastro moral para nos propor sacrifício algum. O terror do “não haverá dinheiro para pagar aposentadorias” não abala porque sobra dinheiro para sustentar parasitas no congresso nacional (em minúsculas), nas dezenas de milhares de cargos comissionados (cabides) e em outros luxos que a Nova Roma de Commodus (aquele que enterrou o império romano) não abre mão. Acabar com ministérios, secretarias, institutos, fundações inúteis e seus custos estratosféricos nem pensar. Gera conflito com a famigerada “base aliada”, os inimigos pagos. Meter a mão na previdência é mais commodus, digo, cômodo. Paridas nos anos 1990 na melhor das intenções (há quem diga que Al Capone era bem intencionado) se auto definem como aliadas do povo, como está no site do governo: “ As agências reguladoras foram criadas para fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados pela iniciativa privada. Além de controlar a qualidade na prestação do serviço, estabelecem regras para o seto...

Armas

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Melhor depôr as armas. Telefonei e expliquei que o boleto não havia chegado. Mal humorada (segunda-feira é um péssimo dia para que não gosta do que faz), ela cortou. “Nós enviamos o boleto”. Corte. “Estou informando que não recebi e não que a senhora não enviou.”. Entendeu. “Enviaremos uma segunda via”. O PM mandou encostar. “Documentos”. Na sequência.“Mostre o IPVA pago”. Saio do carro. O PM afirma que “o senhor estava em alta velocidade”. Não havia nenhum radar, mas optei por não questionar. “Sim, estava rápido sim”, disse. O PM explicou que “pode dar multa e tirar pontos da carteira”. Concordei. Perguntou “o senhor está com alguma urgência?”. Respondi, “Não senhor”. “Por que essa velocidade?”, ele quis saber. “Não sei”, respondi. “Pode ir embora, mas na próxima vez vou mandar rebocar”. Chamei o garçom. O ar condicionado do restaurante está fraco. “Vou olhar”, ele disse. Voltou dizendo que estava normal. Agradeci, levantei e saí. Almocei em outro lugar. O flanelinh...