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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Políticos adoram calamidade pública; dá muito dinheiro

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Assim como existe a temporada dos tufões e furacões, terremotos e nevascas em outros países, o perfil dos países tropicais é de tempestades no verão. Reconhecer essas manifestações naturais é o primeiro passo para amenizar suas consequências. Japão, Estados Unidos e outros países assolados por terremotos desenvolveram tecnologias que tornam as cidades mais resistentes. No Brasil, o que mais interessa aos políticos é nada fazer porque quando a chuva cai pesado e as encostas desabam, rios canais, vias transbordam, pessoas morrem, eles decretam calamidade pública. Significa que podem embolsar dinheiro a vontade porque não é preciso fazer licitação, vira o maior bundalelê. Quanto mais mortos, mais grana, mais gargalhadas. Tempos atrás, o Globo informou que 91 dos 92 municípios do Estado do Rio (praticamente 100%) tem pelo menos 20 pontos com risco de desabamentos com as chuvas de verão. Segundo Nancy Dutra da Folha de S. Paulo (edição de fevereiro de 2011) “O Rio sofre c...

Gagaçópolis

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                                        Macunaíma e o seu bordão"Ai, que preguiça", no filme de Joaquim Pedro                  de  Andrade (1969), protagonizado pelo magistral e muito saudoso Grande Otelo. O hímen cronicamente complacente do brasileiro e seu bundamolismo deitado eternamente em berço esplêndido não carece apenas de educação. O medo e a covardia são os traços muito visíveis no chamado “tecido social” de terra brasilis, que o mestre Elio Gaspari chama, com razão, de Pindorama. Gagaçópolis seria outro nome apropriado para que esse camping provisório (essa é de Rubem Braga), que movido pelo medo e alguma forma mais venal de “jeitinho” empoderou (expressão inventada por vadios um pouco mais letrados) todo esse esquadrão de sicários que assaltou e faliu o Brasil. Todos eles foram eleitos pelo povo de Cagaçópolis. Todos. ...

Consumismo lisérgico

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Um amigo, giga intelectual, tem um Fusca 1982 na garagem de seu prédio, no Leblon. Ele me disse uma vez que o melhor carro do mundo é o táxi. Concordei. Quando vivia em Paris, anos 70, ele tinha um Citroen 2 CV, xodó dos existencialistas. Foi ele quem me apresentou a Oscar Niemeyer na célebre tarde em que o mestre da arquitetura decidiu almoçar num restaurante no Flamengo, Rio. Pessoas assim mostram que esse papo de mundo obsoleto é e sempre foi uma grande babaquice, mas lamentavelmente muita gente é escrava da seita “se liga, se liga freguesia, celular é nas Casas Bahia. Em 1976 eu estava no MAM, Rio, cobrindo o velório de Di Cavalcanti. Era repórter da saudosa Rádio Jornal do Brasil AM, ícone do jornalismo. De repente entra Glauber Rocha. Suado, descabelado, com um outro cara com uma câmera Bolex de 16 mm. Maior escândalo. Glauber gritava “close na cara do defunto! Close na cara do defunto” e o cinegrafista praticamente trepava no caixão para arrancar o close da cara d...

Sputinik

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O cheiro do mar misturado ao do óleo dos navios arrancam minha comoção pelos poros. Cheiro de minha infância, vivida entre sabiás, coleiros e muitos navios de guerra. Muitos. Meu pai à bordo deles. Hélices misturando o aroma de maresia com óleo combustível, a prudente lentidão da vida na pequena vila e também no convés cinza chumbo da nau gigantesca. Como sempre faço, olhei para o céu à noite antes de entrar no carro. Senti uma emoção diferente com as luzes. Luzes das estrelas, dos aviões, das torres de comunicação, luzes da vida. No mar, o aroma da minha infância. Antes de vir para casa fui até a beira de uma praia que era deserta até ontem, anos 1980. Parei o carro, saí e fiquei olhando para o céu. Ignorei o pavor coletivo que recomenda exílio; entrar e sair rápido do carro porque a cidade está entregue aos bandidos. Olhando o céu avistei um satélite artificial cumprindo a sua missão, em órbita constante singrando a Via Láctea. A emoção me tomou de novo, reforçada ...

Quando a morte interfona

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Quase morri ontem. No início da noite fui tomar o terceiro banho (necessário aqui no novo sertão do país) e liguei o chuveiro elétrico. Da marca Forusi, modelo ducha essenziali 4T, que comprei no dia 11 de janeiro (há 16 dias atrás), o chuveiro explodiu. Na sequência, o fio que liga a rede elétrica pegou fogo e ao tentar fechar a torneira levei um violento choque que me deixou tonto e quase sem noção. Como o disjuntor do apartamento não desarmou (falha grave 2) o curto circuito prosseguiu, enquanto eu corria até a cozinha para desligar o tal disjuntor na mão. Desliguei e, ainda correndo, joguei uma toalha em cima do chuveiro que, finalmente, tombou arrastando consigo o cano, fios etc. A morte interfonou mas dei sorte. Como ninguém atendeu, ela achou que não havia ninguém em casa enquanto eu, ainda tenso (normal), incrédulo (normal) e zonzo (normal) pensava “se eu tivesse morrido meu corpo só seria encontrado uma semana depois, quando vem a diarista”. Claro, no corre corre do...

Pau de enchente

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Bruce era um pau de enchente, rolando pela vida, batendo numa margem e na outra, afundando e flutuando como um caule de eucalipto no leito de um rio caudaloso. PhD em filosofia achava que o homem era uma flecha arremessada no universo, sujeito a rotas, desvios, vitórias e fracassos, ao sabor do destino. Bruce não agendava nada. Não programava, não projetava, não arquitetava, apenas vivia. Como um pau de enchente. Seu nome foi inspirado em Bruce Wayne. O pai passou boa parte da adolescência assistindo Batman & Robin na TV e lia tudo sobre o homem morcego. Tinha álbuns, posters, figurinhas e até uma fantasia de Batman que adoraria usar todos os dias mas, diante do provável ridículo, vestia apenas no carnaval. Na época dizia que se tivesse um filho ele se chamaria Batman. Tornou-se um respeitado e famoso jurista e por isso batizou o filho de Bruce. Batman não seria de bom tom. Bruce era considerado um gênio, mas diante do espelho se achava um fiasco. Aos 20 e poucos anos le...