Postagens

Mostrando postagens de abril, 2018

Santos Dumont e as asas da loucura

Imagem
Recomendo o livro “Asas da loucura: a extraordinária vida de Santos-Dumont”, do inglês Paul Hoffman. A grande loucura do pai da aviação era o céu que, desde pequeno, não cansava de contemplar na fazenda do pai, milionário, no interior de São Paulo. O livro conta que o pequeno Alberto Santos-Dumont observava as aves voando e, muito curioso, queria saber como, já imaginando que um dia os homens também poderiam estar no céu. Seus pais estranhavam o comportamento daquele menino magro, pequeno, que vivia isolado, a ponto de ler toda a biblioteca da fazenda. Cresceu sem desvendando os mistérios da ciência por conta própria. Milionário de berço, sua vida em Paris, anos depois (não vou estragar a narrativa do autor dizendo como ele foi parar lá) foi marcada por bons e importantes amigos. Um deles, Gustave Eiffel, o projetista da torre que, por sinal, morava lá num pequeno apartamento no segundo andar. O sonho de Santos Dumont (concretizado várias vezes) era dar uma volta de bal...

Esperança & Expectativa

Imagem
Um abismo profundo separa o significado prático e filosófico de esperança e expectativa. Recentemente, Lobão levantou essa lebre num show. Começou a falar sobre o significado (e as significantes) das duas expressões, mas a falta de educação da ruidosa e irritante plateia não deixou o lobo uivar até o final do raciocínio. Esperança é o possível, expectativa é o ideal, que não existe. Felizmente mantenho um pacto com a esperança desde a hora em que nasci. Com a expectativa, não. Relação zero. A expectativa é parente próxima da ansiedade, da correria, da falta de ar, faz nossos pés molharem em Manaus quando ainda está chovendo em Porto Alegre. Já a esperança é centrada, amena, racional. A esperança faz projetos, enquanto a expectativa cisma. Não corro, não fujo, parto para cima com todas as forças disponíveis e depois, atento, aguardo a hora da colheita deixando o destino trabalhar. Pilhar o tempo todo, insistir, forçar a barra, chutar portas, em geral leva...

Impávido

Imagem
                                   Óleo sobre tela, Oliver O. Oliver, Paris 1932 Esquecem que a verdade está longe, muito longe de ser absoluta. Atribuição divina, o absolutismo é incorporado pela patética e patológica onipotência dos lunáticos sociais e sua logorreia torpe, vulgo  brain damage .  Perdeu, baby. Lunáticos sociais não acreditam que aqui se faz, aqui se paga. Acham que é verborragia de adesivos de nona categoria. Mas o pior, o fatal, é o desprezo a máxima que sentencia: aqui não se faz, mas aqui se paga, sim. Perdeu, baby. Esquecem que o limite do egocentrismo é uma muralha de chumbo, conhecida na vala incomum como perda total. Essa malta, a dos lunáticos sociais, vulgo  brain damage , cruza a existência jogando gente no esgoto, arrotando as tais verdades absolutas inexistentes, como se o E.T. de Varginha fosse a incorporação do Juízo Final. Perdeu, ba...

O sucesso do livro “1973- o ano que reinventou a MPB”

Imagem
                                                                                  Ceio Albuquerque “1973- o ano que reinventou a MPB”, de Célio Albuquerque 431 páginas) vai virar série do Canal Brasil, já em produção. Maravilha! O excelente livro é um sucesso da Sonora Editora, do pesquisador musical Marcelo Froes e é leitura fundamental para quem se interessa por música brasileira de qualidade. Cada autor conta como um álbum (LP na época) foi feito. Como, quem, onde. Está tudo lá. O livro chegou num momento especial, difícil, complicado, bizarro da música brasileira que está assolada pela molambalização, baixaria e outros conceitos ainda menos dignos. Lembrar de épocas como 1973 foi uma grande sacada do Célio, um viciado em qualidade como todos os ensaístas ...

Refratações (palavra inexistente) e a pancadaria entre Freud e Jung

Imagem
Jung (a esquerda, sentado na escada), Freud (calção quadriculado a direita) e dois amigos numa casa de banho turco Prólogo – “Minha ideia sobre Deus está formada pela profunda convicção emocional da presença de uma força racional superior, que se revela no incompreensível do universo” (Albert Einstein); “Não posso dizer “eu creio”. Eu sei! Tive a experiência de ter sido capturado por algo mais forte do que eu, algo a que as pessoas chamam Deus” (Carl Gustav Jung).   A partir dessa experiência abissal, Jung descobriu o poder do espírito e a sua relação com o mentor Sigmund Freud, que já vinha se despedaçando ruiu de vez. Contam os livros que os dois estavam numa cabine de trem, em 1914, indo para Hamburgo. Jung já não suportava mais o que teria chamado de “reducionismo materialista e sexista” de Freud. Esse, por sua vez, também sentia náuseas quando o discípulo falava de inconsciente coletivo, Anima, Animus, espíritos... Foi aí que um destemperado Freud, na cabine do trem, t...

Não falou, não disse

Imagem
Em 1969, Honduras e El Salvador entraram em guerra por causa de uma partida de futebol que valia uma vaga para a Copa de 70. Honduras venceu por um a zero, o povo de El Salvador foi para as ruas e a confusão terminou em guerra. Guerra não declarada. Há anos, muitos anos, havia problemas entre os dois países, mas que não eram ditos. E o ser humano, até segunda desordem, só entende o que é dito, de preferência clara e nitidamente. No caso, a panela de pressão (no fogo) entre os dois países chegou a tal nível de silêncio que explodiu. Não nasci para viver situações como essa. Jamais seria ministro do tse (assim mesmo, em minúsculas) para ser obrigado a entender o subtexto de um colega de toga ameaçando (com sinais) com a degola via radicalismo islâmico (“ira do profeta”) um sujeito não citado que o teria envolvido na Lava Jato. Para mim não disse nada. Se não me mandarem a merda, não irei. Se não me disserem pode entrar, não entrarei. As insinuações da política e sua sub l...

Stanley Clarke

Imagem
Stanley Clarke é um gigante sagrado, o melhor baixista em atividade no planeta. Assisti duas vezes, primeira fila e saí desnorteado. Toca jazz tradicional com o chamado “baixo de pau” (baixo acústico), rock, música fusion, R&B e sua impressionante agilidade e precisão transformam o contrabaixo principal em guitarra solo. Quando mergulha no jazz rock nos discos o seu baixo agudo (um som só dele) sola e vários outros, acústicos, elétricos, que ele mixa fazem médios, graves, base etc. Ele faz do baixo guitarra.  Clarke nasceu em 1951 na Filadélfia. Aprendeu a tocar baixo por acidente no colégio, quando chegou atrasado no dia em que seriam distribuídos instrumentos musicais para o aprendizado dos alunos, e o único que sobrou foi o baixo acústico. Em 1971, mudou-se para Nova York onde começou a trabalhar com muitos músicos famosos como Horace Silver, Art Blakey, Dexter Gordon, Gato Barbieri, Joe Henderson, Chick Corea, Pharoah Sanders, Gil Evans e Stan Getz. Dura...

Novas patrulhas

Imagem
Começo chamando a Wikipédia:   “Patrulha ideológica  ou  patrulhamento ideológico  é uma expressão cunhada pelo cineasta Cacá Diegues, em  1978 . Designa uma organização informal de pessoas unidas por laços ideológicos ou religiosos  que tem por objetivo de impor seus ideais a outro grupo de pessoas, munindo-se de discursos, protestos e reivindicações. Essa atividade se caracteriza por uma vigilância constante do público alvo. Em agosto de 1978, o filme Chuvas de Verão, de Cacá Diegues, foi recebido com frieza pela crítica, que já tinha desancado Xica da Silva, o filme anterior do diretor. Na sequência, Diegues concedeu uma longa entrevista à jornalista Póla Vartuck, publicada no jornal O Estado de S. paulo sob o título "Cacá Diegues: por um cinema popular, sem ideologias", na qual denunciou as "patrulhas ideológicas". Elas seriam integradas por jornalistas ligados ao Partido Comunista Brasileiro - então clandestino ...

Sozinho não dá (2)

Imagem
Sozinho não dá por um monte de motivos, a começar pelo Homem, que desde que era símio, é um bicho de bando. Por isso costumo dizer que trabalhar sozinho exige um esforço monumental. Como sou freelancer, a maior parte do tempo fico sozinho diante do computador. Volta e meia dou uma saída, tomo um café na esquina, bato um papo, passo na banca de jornais (fundamental) e volto. Já me habituei, mas o grande esforço é que num trabalho solitário não posso contar com opiniões, observações, críticas e elogios de ninguém. Sou eu e eu. E quando bate uma dúvida no caso de um texto, só me resta deixá-lo decantando para reler horas depois. Essa releitura, depois que perdemos o contato com o texto por horas, leva a muitas correções, realinhamentos, novas abordagens. Não nego que sinto falta da redação de jornal, radio, TV, onde a minha geração não só compartilhava o trabalho mas também a vida, o cotidiano, opiniões eram trocadas e muitas vezes (muitas!) a conversa esticava num bar. ...

O que é que a boiada tem?

Imagem
Minha única incursão na pecuária é quando me atraco com uma picanha ou mignon num bom restaurante. Desde que não seja Friboi ou qualquer bosta produzida pela JBS. Por motivos alheios a minha boca cheia d’água desde janeiro estou longe das carnes, de qualquer tipo. Tentei até arriscar no mercado de ações, muitos anos atrás, quando fui um dos 20 mil babacas que comprar Certificados de Investimento Coletivo (CICs)* de uma empresa que vendeu mais boi de papel do que boi de fato, o que chamei numa reportagem que publiquei em São Paulo de “Boi sem mugido”. O presidente das Fazendas Reunidas Boi Gordo, o empresário Paulo Roberto de Andrade, jura que vai pagar a todo mundo. Todos, menos a mim cujo certificado estava naquela Kombi que fazia uma mudança minha, foi roubada no caminho e depenada. Os ladrões levaram meus discos, livros, títulos de cidadania, e meu diploma de conclusão do Jardim de Infância, a fase mais feliz que vivo nas escolas. Curiosamente os pan corruptos ir...

...

Imagem
                                  "Do caos fez o Cosmo". Carl Gustav Jung

Por que rezar? - Nizan Guanaes

Imagem
Texto de Nizan Guanaes, renomado e brilhante publicitário brasileiro e empresário na área de Comunicação. "Inspirado por Abilio Diniz e pelo meu personal trainer, comecei a rezar todas as manhãs. Leio os jornais e depois rezo. No início, foi como começar a correr e fazer exercícios, uma decisão intelectual, um gesto de disciplina, que você faz por obrigação e pouco prazer. Mas, aos poucos, aquilo foi virando um oásis neste momento atribulado que, como qualquer empresário brasileiro, eu vivo. Esta é uma crise brava, em que você tem que fazer sacrifícios para salvar o todo e vencer a crise. Um momento duro, de decisões duras, mas decisões necessárias e inadiáveis. Neste momento, é preciso pedir a sabedoria que o jovem Salomão pediu a Deus. A sabedoria que David, o estadista, pediu tanto a Deus. Só mesmo Deus vai nos dar, por meio de seu Espírito Santo, as virtudes que não temos. No meu caso, por exemplo: paciência, sabedoria, parcimônia. David diz no...

Provisória e linda

Imagem
As montanhas nevadas são mágicas. Mágica utopia. Poucos sobem porque poucos desciam, anos atrás. Eterna cicatriz. Cabul com C, 3,6 milhões de habitantes, espalhados e escondidos por 700 quilômetros quadrados. Kabul com K está nos livros. Linda, suave, lúdica como as pipas, milhares de pipas que meninos, meninas, homens feitos empinam em todos os lugares. No pequeno quarto, iluminado por um abajur, lê-se que Cabul tem mais de 3.500 anos de idade; foi disputada por muitos impérios por sua localização estratégica, no meio das rotas comerciais da  Ásia Central  e  Meridional . Há paz em Cabul, apesar das recentes e turbulentas invasões. Em 1979, sangrou na invasão da  União Soviética que ocupou o país por 10 anos, até ser vencido pelos afegãos. O Império do Medo é aqui, desde antes de Alexandre, O Grande. Com a retirada das tropas soviéticas, guerra civil. Cabul foi dominada pelos  talibã s e, finalmente, ocupada pela  Otan em 2001. De...

A onda que se ergueu no mar – dedicado (mais uma vez, que bom!) a querida amiga Gilda Mattoso

Imagem
Gilda Mattoso com o nosso grande amigo Luiz Carlos Lacerda, cineasta                                                         Ipanema e Leblon, início dos anos 60 Hoje, 5 de abril, deveria ser feriado em São Sebastião do Rio de Janeiro e em Niterói. Afinal é aniversário da querida amiga Gilda Mattoso, a mais carioca das cariocas, niteroiense de batismo, mulher do mundo. Reza a lenda que tem mais de 40 passaportes cheios. Meu presente é esse texto que publiquei aqui ano passado. Afinal nada é mais bossa nova do que a Gildinha. "No dia em se reescrever a Constituição, um dos novos artigos dirá: Todo brasileiro tem direito a um cantinho e um violão. Tem direito também a cidades saudáveis, matas verdes, céu azul, mar limpo e seis meses de verão". (Ruy Castro). Em tempos de cólera faz bem a alma ler "A onda que se ergueu no mar", um li...