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Mostrando postagens de agosto, 2018

Eu confesso, Clarice

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O valor do silêncio Por Clarice Lispector "Tantos querem a projeção. Sem saber como esta limita a vida. Minha pequena projeção fere o meu pudor. Inclusive o que eu queria dizer já não posso mais. O anonimato é suave como um sonho. Eu estou precisando desse sonho. Aliás eu não queria mais escrever. Escrevo agora porque estou precisando de dinheiro.  Eu queria ficar calada. Há coisas que nunca escrevi, e morrerei sem tê-las escrito. Essas por dinheiro nenhum. Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio."  Clarice Lispector, Crônicas no 'Jornal do Brasil (1968)'   Aqui nesta psicodélica cabana de minha crônica insignificância ouso compartilhar alguns draminhas pequenos burgueses com minha meia dúzia de quatro ou cinco leitores. Draminhas (ideal seria dramecos) que não interessam a ninguém. Escrevo esta coluna sob o manto da mai...

Overdose de informação

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Tempos atrás assisti uma entrevista de Zuenir Ventura e Luiz Fernando Veríssimo no programa do Roberto D’Ávila, na Globonews. Os três concordaram que estamos vivendo uma overdose de informação que, segundo Zuenir, pode estar causando a sensação de déficit de atenção. Os três concordaram que por causa do imenso volume de informações acabam sem entender boa parte delas. Exaustão. Sim, estou tendo déficit de atenção e, pelo que ouço, vejo e leio não estou sozinho. Percebo que somente na semana que passou pelo menos oito novos aplicativos foram atualizados ou lançados e, para não me desatualizar, estudei cada um deles depois que instalei. Ah, sim, minha câmera digital informa que tenho que atualizar o software de exportação de fotos. Não tenho saco para pescaria, mas na Via Litorânea, que liga o Gragoatá à Boa Viagem, em Niterói, as pessoas pescam dia e noite. Pesca de caniço, isca, anzol. Eles param seus carros de frente (em geral esses carros tem adesivo com os dizeres do tip...

Chuva

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Senti suas gotas roçarem a janela, temperatura de 22 graus. Chuva. Saí para pensar, pensar, pensar. Pensar em soluções, saídas, ou na possibilidade de não haver solução nenhuma diante de problemas amplificados pela aflição.  Um bentevi bebia água numa pequena poça sob a amendoeira, resolvendo sua aflição imediata de maneira simples. Quer dizer, simples para quem assiste. Grande vitória para o bentevi voar vivo, pousar vivo numa árvore próxima, saltar vivo para os fios de um poste, pousar vivo na poça. Vivo, beber a água num ambiente hostil.  Chuva, quase frio, calma que parece reinar na cidade, protegida da falsa e histérica euforia do verão e seus moedores de carne midiáticos. Caminhei pelo bairro que, raro, estava sereno e vazio. Sem guarda chuva, senti a quase garoa cair sobre a cidade, repousando. Poucos carros, ônibus, ciclistas, pessoas nas calçadas; os bares relativamente vazios com uma meia dúzia bebendo cerveja e assistindo futebol na TV. Calma.  ...

Em algum lugar do passado

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                                                    Óleo sobre tela. David Bowie. Ontem, umas 11 da noite, um amigo ligou de um bar e passou o telefone para um amigo dele, que não conheço. Esse amigo falou que tivemos um amigo comum e quando me disse que era o Carlos fiquei muito emocionado. Com a voz embargada, autêntica emoção, ele contou histórias, lances, relances, lembranças do Carlos, nosso amigo comum, que infelizmente morreu nos anos 1990. Uma das perdas mais sentidas que tivemos porque ele era muito especial, extremamente bom caráter, solidário, generoso, enfim, todas as qualidades não caberiam nesse relato. Uma vez eu disse que ele era um E.T., não pertencia a esse mundo, Carlos caiu na gargalhada. O amigo do meu amigo, no bar, falou que muitas vezes o procurava para desabafar, falar da vida, das vitórias e não vitórias, celebrações e an...

450.000

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Há poucos dias esta Coluna atingiu 450 mil acessos. Média de 90 mil por ano, acho, porque a minha matemática sempre foi preguiçosa, torpe e não confiável. Fez bem a minha auto estima que vive uma fase de eclipse severo mas que, com certeza, irá passar. Ou passa o eclipse ou passo eu. Não importa. Claro que 450 mil acessos não significam 450 mil pessoas já que muitas, felizmente, acessam a coluna várias vezes e, acho que o blogspot (plataforma do Google que utilizo) contabiliza todo mundo. Resumindo, se uma pessoa acessa cinco vezes vai registrar cinco acessos no contador. Eu acho. Antes de escrever este artigo, dei uma olhada em vários textos e notei que não existe um padrão que faz esse ou aquele mais lido, apesar dos temas afetivos serem líderes no contador de acessos. Por exemplo, uma reflexão bem simples que escrevi sobre o amor (há uns dois anos) é uma das recordistas, provavelmente porque, sinceramente, abri o coração e as palavras e disse o que realmente sinto e pens...

Ouvindo estrelas

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A Nasa vai lançar neste sábado a sonda espacial Parker Solar Probe, que se aproximará do Sol como nenhuma outra. Ela decolará da plataforma de lançamento de Cabo Canaveral (Flórida, EUA) e viajará através da atmosfera do Sol, a "somente" 6,2 milhões de quilômetros da superfície solar, a uma distância "sete vezes mais próxima" do que qualquer outra nave. Vendo imagens da sonda e da beleza do universo, minha memória voltou lá atrás. O cheiro do mar misturado ao do óleo dos navios arrancam minha comoção pelos poros. Cheiro de minha infância, vivida entre sabiás, coleiros e muitos navios de guerra. Muitos. Meu pai à bordo deles. Hélices misturando o aroma de maresia com óleo combustível, a prudente lentidão da vida na pequena vila e também no convés cinza chumbo da nau gigantesca. Há uns anos, fui a praia de Itaipu a noite e, boiando, fiquei olhando para o céu, aproveitando a onda de paz interior que naquela época me invadiu. Saudade, muita saudade. Da onda...

O livro de Eli

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O filme se chama “O livro de Eli”. É de 2010, dirigido por   Allen Hughes e  Albert Hughes , protagonizado pelo sempre brilhante Denzel Washington. Assisti três vezes, duas no cinema e essa semana na Netflix. Sou cristão, acredito em Deus e sempre que vejo o filme vislumbro o poder infinito da fé. Leio um resumo: Trinta anos depois da guerra ter dizimado o mundo, um guerreiro solitário chamado Eli caminha por horizontes arruinados dando esperança aos que restaram. Um outro homem compreende o poder de um livro que Eli carrega e está determinado a se apoderar dele. Eli arriscará a vida para proteger a sua carga preciosa e cumprir o seu destino de ajudar a restaurar a humanidade. A carga emocional do filme é vasta, mergulha nos restos insanos do planeta Terra depois do fim e apesar de estar caminhando há três décadas transportando o livro, enfrentando todas a adversidades e o que há de mais bizarro, Eli não abre mão de um passo sequer. Segue em frente, coberto p...

Rio, uma cidade proscrita

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A choradeira das empresas turísticas do Rio tem razão quando culpam a crise econômica pela baixíssima ocupação dos hotéis. Pelo menos 13 já fecharam e, por exemplo, o Copacabana Palace está com magros 38% de ocupação, de acordo com o Ancelmo Gois em sua coluna de hoje, no Globo. Só que as imagens que são geradas do Rio hoje para o exterior envolvem matança, fuzis, guerra aberta, descontrole da segurança pública, tudo aliado a uma prefeitura nefasta que largou a cidade a baderna geral. Crivella está acabando com tudo: hospitais, escolas, organização mínima do trânsito, áreas que já foram cultuadas como o Boulevard Olímpico. Não duvido que o setor turístico tenha sido devorado pela crise econômica, mas vejo que a guerra civil na cidade e no Estado do Rio é a principal vilã na baixa de visitantes. Afinal, quem iria passar férias em Damasco, na Síria, Iraque, Afeganistão, Paquistão, etc? Em se tratando de imagem, o Rio está no mesmo patamar já que todas as notícias de barbárie...