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Mostrando postagens de julho, 2019

O início, o fim e o meio

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                                                                    Vista aérea                                                                  O outro lado                                                                   Sequência A primeira vez que vi essa imagem era muito pequeno. Foi uma aparição para mim, uma coisa sobrenatural. As nuvens começaram a se dissipar de cima para baixo, descortinando a montanha devagar. O espetáculo começou pela ponta. E poucas horas depo...

1550

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                                       "Marabá", óleo de Antonio Parreiras O jesuíta olhou para a minha cara com aquele semblante de verme, mandou que me jogassem nu sobre um tronco de pau brasil e me capassem. Acusado de poligamia, outono de 1550, o jesuíta decretou monogamia, “entendeu, índio pervertido?” ele berrou no centro da clareira, onde colonos e degredados eram pagos para rir e matar, naquele sul de Bahia e o primeiro passo para o fim. “essas vergonhas de fora, penduradas...eu vi você em cópula com aquela moçoila que agora sangra e ri, à sombra daquela árvore; vi depois tu pegar a mãe dela e depois a irmã dela e depois...para! para! Para! Índio degenerado... a sua felicidade vai acabar me matando!”. O jesuíta olhou para a minha cara com aquele semblante de verme e mandou que eu morresse. O sangue quente jorrava entre minhas pernas abertas sobre o tronco de pau brasil o...

Afinal, o que é o filme “Aumenta que é Rock and Roll”, baseado no livro “A Onda Maldita”?

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Diretor Tomás Portella vai exibir, no Lapa Café, um teaser de 15 minutos com cenas do filme.                       Tomás Portella (a frente) e o elenco de "Aumenta que é Rock and Roll"                                                                               Filmagem no Parque da Cidade - Niterói, RJ Johnny Massaro interpreta "Luiz Antonio" e Marina Provenzzano   a locutora "Alice" Marcelo Oliveira, Marcelo Siqueira (ao meu lado), Cristiano Reis (primeiro a esquerda) e um grupo de associados do Social Rock Club. Demais! Nesta quarta-feira (depois de amanhã) as 19 horas, no Lapa Café ( https://bit.ly/2Sx89gd ) o cineasta Tomás Portella e eu estaremos batendo um papo sobre o filme “Aumenta que é Rock...

Canto III (trecho) Álvares de Azevedo

Eu amo a lua pálida, alta noite, Quando tudo é silêncio —e desgarrado Vago dos campos na mudez, sozinho, Ao lânguido palor das luzes dela; Sentindo o peito se enlevar sorvendo Os hálitos da aragem que me envolve Como braços de virgem: — Amo a lua... Alvíssima passando entre o silêncio Na fulgência do céu límpido e claro Semeado d’ estrelas!

Pescaria entre aspas

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Na avenida Litorânea, que liga o Gragoatá à Boa Viagem, em Niterói, as pessoas pescam dia e noite. Pesca de caniço, isca, anzol. Param seus carros de frente (em geral esses carros tem adesivo com os dizeres do tipo “Estressou? Vá pescar”) e ficam horas e mais horas pescando. Eu adoraria ter saco para comprar um caniço, os anzóis, a isca, pegar aquela tralha e ficar me cortando todo com faca mal amolada tentando pescar. Ia acabar tendo um ataque de ansiedade porque, definitivamente, os trabalhos manuais estão longe de meu menu de funcionamento. Odara discorda. Odara diz que meus trabalhos manuais são imprescindíveis. Odara é Odara. Um amigo garante que a maioria dos pescadores de caniço está ali como desculpa para sair de casa e ficar algumas horas descansando, contemplando o mar, sem ninguém enchendo o saco. Botam a isca no anzol, arremessam e ficam olhando para o horizonte, repousando, descansando sem ter que dar satisfações, ninguém porque, afinal de contas, não são louco...

Bossa

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                                                              João Gilberto, Rio 1960           Minha conexão com a bossa nova se deu em dois momentos: na infância, toda vez que a família vinha de Angra para Niterói (passava pelo Rio) de carro meu pai aumentava o volume do rádio. Tocava muita bossa nova na Rádio Jornal do Brasil, que ele ouvia sempre. Ao som de bossa nova, digo, Bossa Nova (merece maiúsculas) o carro descia a Via Dutra, entrava na avenida Brasil e passava em frente a uma área enorme cheia de caminhões e máquinas, onde um gigantesco outdoor informava: “Aqui, a futura sede do Jornal do Brasil”. A logomarca do JB era um elefantinho. As notícias da Rádio JB (que como o jornal, funcionava na avenida Rio Branco, 110) brotavam no alto falante do carro, seguidas de ótima música, em especi...

A importância histórica da Flip, que começa semana que vem

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Na próxima semana (beleza!) a Flip volta e pegar o Brasil pelas mãos e colocar diante do mais rico, puro, autêntico símbolo do pleno saber: o livro. A 17ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty –   acontece de 10 a 14 de julho, em Paraty e você pode saber e todos os detalhes acessando https://www.flip.org.br/ . Se o mercado de livros está mais forte, devemos muito a Flip que jogou essa joia preciosa na mídia, na cabeça, na alma das pessoas. A partir dela, outras feiras literárias foram criadas e o livro ganhou um novo status junto as pessoas. Deixou a condição insular de objeto temido/rejeitado/estigmatizado e tornou-se fundamental. O que seria da educação sem os livros? E da cultura? O que seria de todas as artes? A Flip merece todas as honrarias e homenagens. Mais do que tido, precisa ser eterna e para isso necessita, apenas, que todos os envolvidos do setor (e fora dele) continuem bancando o evento. A Flip, desbravadora Flip, pioneira Flip, o hu...

Reconhecimento

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Sabe aquele quadro pequeno pendurado na parede com os dizeres “Funcionário do Mês” com uma foto e um nome? Cada vez mais raro, vi um há tempos em um café nas imediações da rua do Ouvidor. Coincidentemente o tal funcionário do mês foi o que me atendeu. Dei parabéns, o cara ficou meio sem jeito e tal, agradeceu e seguiu trabalhando, sorriso estampado na cara. A espécie humana não sobrevive sem reconhecimento, o que não é um privilégio nosso. Cachorros adestrados quando fazem direito uma evolução ganham reconhecimento e biscoitos. Golfinhos e focas ganham reconhecimento e sardinhas. Por que com a raça humana seria diferente?   Medalhas, troféus, diplomas de “Honra ao Mérito” e vários outros símbolos mostram que o ser humano quando reconhecido abertamente rende muito mais. Autoestima turbinada. Parece óbvio, mas não é.   Não é porque sempre há mais pancadas e críticas do que elogio. Assim cavalga a humanidade.

Mau Humor

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Durante uns anos fui freguês de um comedouro nas imediações. Distraído, olhando e pensando em outras coisas, fingi que não sabia o quanto era mal tratado naquele negócio. Gente mal humorada, distribuindo coices pelas baias de fregueses pacatos, cansados, arregados, entre eles eu. Para piorar, o negócio aumentava o preço dos seus produtos à galega, de acordo com o (mau) humor dos donos. Há dois anos entrei e dei boa tarde. Como de praxe, uma funcionária com um bico de pica pau na cara, não respondeu. Dei boa tarde mais duas vezes e nada. Perguntei se a canja de galinha estava boa e ela respondeu “tem que pagar as torradas avulso”. Rebati “avulsas, minha filha. Avulsas!”. Saí e fui para um outro curral, no mesmo comedouro. Outra funcionária, tromba à mostra, bico de avestruz. Dei boa tarde, nada. Boa tarde segunda vez, resposta: “vai querer o que?”. Saí prometendo a mim mesmo não voltar mais, o que de fato aconteceu. Muitas vezes demoro, o saco inflama, arde, pela, mas quando...