Sal da Terra
Ando
cheio da palavra sustentabilidade, usada como galocha pela
politicália em geral. Outra que não suporto mais é o tal
do “foco”. Leio e ouço toda hora “meu foco está em...”; é
dose.
Antes
de sub celebridades em panfletos eleitorais
oportunistas, pessoas que hoje são chamadas de ambientalistas foram
tachadas de ecologistas nos anos 70. Fui um dos
fundadores do M.O.R.E., Movimento de Resistência Ecológica que
atuava basicamente em Niterói em plena ditadura.
Lembro
de uma grande manifestação organizada por um colega jornalista,
acho que em 1977, na área de Camboinhas, bairro da Região Oceânica
de Niterói. Na época uma megaconstrutora estava tocando um projeto
chamado “Cidade de Itaipu”.
Para
“limparem” a área contrataram jagunços que torturaram e mataram
pescadores, obrigados a “vender” suas casas. A lagoa de Itaipu
estava ameaçada (hoje está praticamente morta), enfim, o
megaprojeto teve que engolir uma manifestação com direito a
presença do cientista Augusto Ruschi (1915-1986).
Dezenas
de pessoas participaram da carreata e, lógico, havia policiais do
sucessor do Dops, o também famigerado DPPS (Delegacia de Polícia
Política Social) infiltrados fotografando todo mundo mas, ainda
assim, consegui escrever uma longa matéria para o Pasquim (na época
submetido a censura prévia) que até hoje não entendi como não foi
degolada.
As
manifestações, as matérias na grande mídia que seguiram o Pasquim
acabaram detonando a tal “Cidade de Itaipu” e, em tese, a
ecologia (hoje ambientalismo) venceu mais uma. Foi quando um mineiro
de Belo Horizonte me procurou no Pasquim, que funcionava na rua Saint
Roman, em Copacabana. Eu ia lá uma vez por semana e, inclusive, sem
querer, presenciei a despedida de Ivan Lessa, em 1978, que jurou
nunca mais pisar no Brasil embarcando para Londres. Ele morreu em
2012 com a promessa cumprida.
Mas
voltando ao mineiro, ele queria mais detalhes sobre o nosso movimento
que abateu a “Cidade de Itaipu” para conversar com o poeta
Ronaldo Bastos sobre o assunto. Contei tudo o que sabia e o cara
sumiu. Foi quando em 1981 uma música me chamou atenção. Chamou-se
“O Sal da Terra”, que ouço neste momento com o coautor Beto
Guedes enquanto escrevo.
Há
quem diga que o tal mineiro que me procurou era amigo de Beto Guedes
que escreveu “Sal da Terra” em homenagem ao meio ambiente. Não
sei. Até estive com ele algumas vezes anos depois mas não confirmei
a informação. O importante é que a música é linda, a letra
fabulosa e toda luta sincera, honesta e justa vale a pena.