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Mostrando postagens de janeiro, 2014

José Louzeiro: um democrata com vocação para o perigo - Texto de Antonio Ernesto Martins

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Naquela segunda metade da década de 50, o sol escaldante do Rio de Janeiro ardia inclemente no firmamento da então capital do Brasil, enquanto um nordestino franzino caminhava pelo centro da cidade a caminho do trabalho. Suava em bicas. Não era para menos. A despeito do verão tropical que elevava a temperatura para perto dos 40º C, ele vestia três camisas por baixo do paletó. No entanto não era por maluquice que o fazia. Era a única estratégia encontrada para não ser roubado novamente na pensão de Botafogo onde havia alugado uma vaga, pouco depois de chegar ao Rio vindo do seu Maranhão. Esse jovem era José Louzeiro e ainda não se podia prever que ele se transformaria em um dos maiores escritores do Brasil, pioneiro nacional do gênero romance-reportagem, autor de mais de 50 livros, 10 roteiros para longas metragens e três telenovelas para a TV. Mas sua vocação para o perigo, seu interesse pela crônica policial, seu empenho na defesa das liberdades democráticas e sua fascinação ...

Quando você diz que conhece alguém torna-se seu fiador moral

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Texto restaurado e remixado O cara é baba-ovo, invejoso, rancoroso, arrivista e, dizem todas as más línguas, as más inclusive, é um caloteiro, desses que não pagam a ninguém na maior cara de pau. Aí chega alguém e pergunta se você conhece o tal meliante. Você já o viu e até conversou com ele algumas vezes, mas por força de expressão acaba dizendo que “conheço sim”. Ferrou! Sem querer, virou avalista de um canalha. Melhor seria dizer, apenas, que “conheço de vista”, mas os hábitos da fala as vezes nos metem em roubada. Por uma questão cultural dizemos que “conheço” a quem vimos algumas vezes. Pior: em muitos casos estabelecemos relações pessoais e profissionais com pessoas que não conhecemos sem tomar o cuidado de pedir referências a terceiros. Os ingleses tem esse hábito. Só fazem negócios ou se relacionam com pessoas quando três, quatro ou cinco amigos de confiança confirmam que a tal pessoa é do bem, honesta e tudo mais. Por exemplo: não conheço nenhum Babalu, apesar d...

Marca D´água, meu segundo livro, traz as marcas de adolescência e da afirmação de uma mulher que se tornou escritora visceral. Artigo de Cristina Lebre.

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“Marca d'Água" é o meu segundo livro, recém-saído do forno, e que traz agora, além de poemas, as minhas primeiras aventuras no mundo dos contos. Está à venda em www.biblioteca24horas.com .   Quando meu amigo Luiz Antonio Mello me convidou pra apresentar o "Marca d'Água" aqui na Coluna do LAM eu senti, na mesma hora, um misto de felicidade com medo, de gratidão a Deus e ao meu amigo de mais de trinta anos com uma responsabilidade enorme de publicar um artigo nesta tão incrível e brilhante coluna. Brilhante porque o texto de Luiz Antonio é sempre brilhante, rascante, salgado, sarcástico, certeiro, um "solo" de literatura, se a gente for comparar com um solo de um Mark Knopller ou de um Eric Clapton, grandes guitarristas do muito amado e compartilhado durante toda a nossa vida, o genuíno rock'roll. Voltando ao "Marca d'Água", é muito incrível, é quase inacreditável constatar que a Cristina Lebre, uma poetisa desde a adolescên...

Crack : Nada é tão ruim que não possa piorar. Artigo de Antonio Ernesto Martins

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Com o lançamento de meu livro “Sacudindo o Pó da Estrada” e de meu filme “O Brilho”, tenho participado de palestras, seminários e debates que abordam a questão das drogas, já que essas duas obras tratam através de linguagens distintas desse mesmo tema, tão presente na pauta de nossa sociedade. Passados quatro anos nos quais me dediquei a pesquisar esse assunto a partir da minha experiência pessoal no vício, o desafio de tentar entender o uso e o abuso de drogas ainda me fascina e me provoca diversas reflexões. Desde os primórdios da civilização a humanidade se relaciona com algum tipo de droga ou alucinógeno, seja em suas atividades místicas ou religiosas, seja em rituais ou costumes tradicionais. A partir do movimento da contracultura dos anos 60, o consumo de drogas tomou ares revolucionários e de contestação, criando vínculo e afinidade com a juventude que possui em sua essência essas mesmas características. No Brasil, nessa mesma época, imperava a ditadura militar que co...

Absurdos do capitalismo cão: inspirado em Zélocs, musa da lambança ampla, geral e irrestrita

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                                                 Texto restaurado e remixado. - Serviço de Atendimento ao Consumidor, atendente Zóda, boa tarde. - Zenhora, meu nome é Zulvo, zou indiano com apenas 50 anos no Brasil. Meu zelular não está mandando torpedo. - Senhor, vou transferi-lo para a central técnica. - Central técnica, atendente Zênis, boa tarde. 27 minutos depois. - O zenhor entendeu? - Entendi, senhor. Qual é o modelo de seu aparelho? - É um Ziemens modelo....não está escrito. - Senhor, por favor abra a tampa, retire a bateria e veja o número que está colado no fundo. - Mas ze eu retirar a bateria a ligazão vai cair. - Senhor, ligue de um outro aparelho e com a bateria retirada veja o número. Ligue de novo, por favor. - SAC, atendente Hânus, boa noite. 38 minutos depois. - Então foi izzo que expliquei. - Se...

Relógio Biológico: já tentei acertar o meu para ficar mais próximo da lânguida rotina da humanidade

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* Texto de meu livro “Torpedos de Itaipu”, 1995, editora Artware. S ão exatamente 2 e 14 da madrugada quando acordo mansamente, sem sobressaltos. Como se fosse seis da manhã para um triatleta. Rondo pela casa, ligo a TV e compro um travesseiro num programa de vendas pelo telefone.  Segundo o anúncio, o tal travesseiro é um néctar de espuma, capaz de corrigir todos os problemas de ansiedade. O locutor diz que com esse travesseiro temos um sonho “reparador”. Só não prometeu que acordamos ao som de canários belgas porque a empresa fica em São Paulo. Garantiu que quem não ficasse satisfeito com o travesseiro teria seu dinheiro de volta. Os caras são craques. Duas e 14 de um dia de semana é o momento ideal para veicular um anúncio de travesseiro. Liguei, passei o número do cartão de crédito e a mocinha encrencou. Queria colocar Niterói como cidade do interior do estado, o que significava que eu teria que buscar a encomenda no correio.  Expliquei a paulistinha que...

“1973- o ano que reinventou a MPB” merece se tornar um best seller

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O livro do produtor musical Célio Albuquerque, lançado ontem (centenas de pessoas) na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, merece se tornar um best seller por vários motivos, a começar pela grande ideia de reunir 50 ensaístas (entre eles, muito honrado, eu) que escreveram 431 páginas sobre os discos de MPB mais importantes lançados no emblemático ano de 1973. “1973- o ano que reinventou a MPB” foi lançado pela Sonora Editora, do pesquisador musical Marcelo Fróes e, para mim, é leitura obrigatória para quem se interessa por música brasileira de qualidade. Digo que a obra vai ser, sim, um best seller por tudo o que ouvi das quase 500 pessoas que lotaram a livraria na noite de ontem (entre elas Moraes Moreira, Roberto Menescal, João Donato). Mais: o livro chega num momento especial, difícil, complicado, bizarro da música brasileira que está assolada pela molambalização, baixaria e outros conceitos ainda menos dignos. Lembrar de épocas como 1973 foi uma grande sacada do Céli...

A verdade sobre a luta armada no Brasil, ou, a ditadura chegou a proibir que as rádios falassem em epidemia de meningite

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Texto reeditado Desde que foi criada a Comissão da Verdade tenho recebido correntes com e-mails enaltecendo o golpe de 1964, os algozes como alternativa moral para o país, detonando quem se engajou na luta armada que, nessas mensagens, são tratados como bandidos, ladrões, assassinos. Como se na ditadura vivêssemos numa Shangrilá tropical. Ontem recebi uma mensagem que me deu vontade de golfar. O remetente, que copiou o e-mail para dezenas de pessoas, clamava que nós, segundo ele “brasileiros autênticos” pedíssemos que os militares saiam dos quartéis para acabar com os comunistas que tomaram conta do Brasil, como em 1964. O tal remetente disse que o golpe de 64 salvou o país das “garras vermelhas” (chega a ser engraçada essa expressão), mas que hoje o país clama pela volta dos fardados ao poder para que possamos viver livres, definitivamente, dos “comunas”. O que esses fabricantes de e-mails (escritos aos milhares) querem é convencer que “naqueles tempos” (ditadura)...

Copa nas coxas num país feito em cima da perna

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Obras de vários estádios atrasadas apesar de custarem uma dinheirama infinita aos cofres públicos, ou seja, a nós. Obras em aeroportos também se arrastam, atrasam, a ponto de algumas autoridades-atrizes aparecerem na TV simulando raivinha, rosnando falso, batendo o pesinho contras as empreiteiras que não são de sua predileção. Ou alguém ainda duvida que existem empreiteiras, digamos, mais queridinhas? Brasil, o país da Copa, estará pronto para o maior e mais fútil espetáculo de futebol da Terra? Não, mas a malandragem vai dar um jeito de maquiar tudo. Afinal o Brasil está nas coxas na saúde, educação, infraestrutura, combate à corrupção, enfim, é uma nação que está largada (des) graças a um governo que só vê espelho e urna na sua frente. A Copa simboliza a maneira como o governo conduz o decantado (por ele) desenvolvimento da nação: nas coxas. A mediocridade é tamanha que a presidente convocou ministros para discutem o rolezinho, temendo que seja um pavio. Um pavio revolu...

O show de Carl Palmer no CBBB-Rio: o baterista desceu o braço e as diferenças etárias no palco e na plateia desapareceram como em passe de mágica.

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Resenha de Antonio Ernesto Martins, especial para a Coluna do LAM No sábado passado a Carl Palmer Band aterrissou na tenda montada ao lado do CCBB do Rio de Janeiro para um show dentro da programação da Mostra Internacional de Rock Progressivo. Oportunidade única para os aficionados desse estilo que, depois do auge nos anos 70, caiu no descrédito em tempos de música previsível, preguiçosa e de fácil digestão, com pouca – ou nenhuma - elaboração rítmica e conceitual. Já nos arredores do evento era possível identificar os cabelos longos – dos que conseguiram conservá-los - e grisalhos que se esparramavam timidamente sobre as indefectíveis t shirts com estampas de grupos como Yes, Pink Floyd, Gentle Giant, Jethro Tull e outros jurássicos dando um clima de deja vu que só era contestado pela presença também significativa de jovens e até crianças que, provavelmente, acompanhavam seus pais, tios e avôs.   Lotação esgotada, casa cheia e muita expectativa até que Carl Pal...

Overdose de tecnologia

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Eu tinha uma agenda no computador onde registrei todos, absolutamente todos os meus compromissos. Não sei por que, numa manhã, a tal agenda deu pau. Não queria abrir de jeito nenhum. Procurei me acalmar (tecnologia e pânico não combinam), reiniciei o computador e tentei abrir de novo. Nada. Em suma, a agenda de última geração foi para o espaço por razões que até hoje ignoro. Meu computador é aquele modelo All-in-One da HP (excelente marca) com mouse, teclado e monitor sem fio. No início (ano passado) foi uma maravilha, máquina super prática, ótima mobilidade, enfim, os gênios da HP acertaram na mosca. Era o que pensava até as 3 horas da madrugada de um dia de semana quando a pilha do mouse descarregou e eu tive que interromper uma matéria que escrevia, com prazo. Peguei o carro e parti para as lojas de conveniência de postos de gasolina atrás de uma pilha. Para não ter dúvida, levei o mouse comigo e, ufa!, no terceiro posto encontrei a pilha. Comprei duas (o teclado tem pilh...