Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2017

O marinheiro punk da barca Rio-Niterói

Imagem
Encontrei um conhecido que é saudosista mas não é chato. Raridade. No momento ele anda com muita saudade da barca Rio-Niterói de antigamente, segundo ele mais romântica, varrida por uma brisa marinha, alguns boêmios, a presença do profeta Gentileza, blá blá blá blá. Eu estava num camelô contemplando relógios falsificados, impressionado com o alto nível das “réplicas” atuais. Não comentei com ele para não prolongar a conversa, mas não tenho saudade de quase nada, inclusive da barca Rio-Niterói dos anos 1970 (quando atravessava a Baía de Guanabara diariamente) que era suja, quente, lenta. A travessia levava quase meia hora e elas pareciam bonitinhas e “vintage” só para os turistas ou por quem não era obrigado a usar. No entanto, duas vantagens inegáveis que os atuais catamarãs (que atravessam rápido ), limpos e sem profetas (Gentileza era chato pra cacete) não tem: belas e gostosas mulheres em profusão e uma varandinha que ficava na popa onde namorávamos ao longo daquela meia hor...

Ora que melhora

Imagem
No passado as mensagens, digamos, automotivas eram vistas (e lidas) nos para choques de caminhões. Mensagens bem humoradas, outras mais reflexivas, mas quase todas de bem com a vida. Com o passar do tempo, essas mensagens acabaram chegando ao automóvel, via adesivos. Linguagem direta, objetiva. Tempos atrás, debaixo de garoa em São Paulo, vi as ruas cheias de gente com aparência de cansaço, uma imagem meio em câmera lenta. Resolvi me distrair lendo os dizeres dos adesivos dos carros que tentavam se deslocar naquele trânsito preguiçoso dos dias chuvosos. A primeira que li no vidro de um carro foi: "Ora que melhora!". Gostei da mensagem, da ideia, da intenção. Afinal, se existe um conceito universal que une todas as religiões, crenças e correntes filosóficas, mas acima de todo a fé, é o poder da oração. Poder esse que a ciência já reconhece há bastante tempo. Mais à frente, na tampa do porta-malas de um carro bem usado, um adesivo anunciava: "É velho, mas...

Ecos de "On The Road"

Imagem
                                            Studebacker Ford Taurus Viajava muito com o meu pai, especialmente para Teresópolis. Ele contava que nos anos 1960, a bordo de carros importados com motores refrigerados a água, era forçado a parar duas ou três vezes nos acostamentos, depois batizados oficialmente de "refúgios". Era para baixar a temperatura da água do radiador. Subir a longa serra naqueles tempos, naqueles carros, exigia paciência e, sobretudo, tenacidade. O bravo Fusca acabou com esse problema. Quando o presente nos espreme com suas garras não virtuais é natural que busquemos os acostamentos e refúgios do passado; esperar por lá até os coquetéis molotov sossegarem. Foi numa virtual escapada dessas que lembrei de meu avô paterno, que ao contrário das descrições românticas e lúdicas que em geral são feitas, era um cara marrento, sisudo, anti-social...

Ummagumma

Imagem
Se daqui a milhares de anos – ou depois de amanhã para Trump e Kim Jong-un - prováveis mais evoluídas gerações decidirem se interessar pelos parcos, pobres e decadentes tempos atuais, vão correr atrás de alguns rastros. Rastros de inteligência e sensibilidade. As futuras gerações vão se chocar com fatos como a explosão   de lama em Mariana, o fim anunciado da Amazônia, a formatação humana via politicamente correto e todas as imperfeições reinantes. Mas, haverá muitos sinais positivos. Muitos. Um deles, com certeza é o álbum duplo Ummagumma que o Pink Floyd gravou e lançou em 1969. Os segmentos acústicos do álbum, recheados de efeitos especiais livres, são de tamanha profundidade que até hoje, 48 anos depois, ainda encontramos rastros inconscientes de cabeças consistentes que decidirem jogar todas as fichas no inusitado. Ummagumma é, sobretudo, um louvor a liberdade. Quando Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason começaram a gravar o álb...

A nova censura aos meios de comunicação se chama Regulação da Mídia

Imagem
                                                                            Dia sim, outro também, Lula tem defendido a tal “regulação da mídia” que nada mais é do que uma versão gourmetizada da censura aos meios de comunicação. Natural. Com a imprensa censurada, não haveria Lava Jato, nem Mensalão, nem a suruba do PT e com o podrão PMDB, seu parceiro de duas eleições presidenciais. Censura a imprensa significa Estado totalitário. Estado totalitário rouba e mata quem denuncia. Sempre foi assim no mundo todo. Na Itália de Mussolini, Chile de Pinochet, Alemanha de Hitler, União Soviética de Stalin e essa republiqueta imaginada, sonhada, profundamente desejada pelo PT. Republiqueta sem lei chamada Brasil que já sofreu nas garras do Estado Novo de Getúlio e na ditadura militar de 1964 a 1985. A...

O Filme da Minha Vida

Imagem
                                                                                                                                                              Fui assistir pela segunda vez a obra prima de Selton Mello, com minha sobri n ha Catherine Beranger, atriz profissional que se prepara para fazer faculdade de Cinema, sua grande paixão desde a infância. “O Filme de Minha Vida” é um diamante, uma prec i osidade banhada de amor profundo, afeto em estado bruto, encontros, desencontros, uma aula de roteiro de cinema (o próp r io Selton assina com Marcelo Vindicatto ) o banho de fot...

Otimismo, pessimismo

Imagem
As redes socais, cada vez mais anti sociais, estão muito mal humoradas e pessimistas. Claro que os tempos estão instáveis, mas se todo mundo, em todos os tempos, fosse pessimista 24 horas por dia ninguém teria nascido. A começar por nós. O pessimismo crônico, assim como o mau humor, em geral são sintomas clássicos (eu diria óbvios) de depressão e ansiedade aguda que, de cara, levam diretamente a inapetência existencial. Não é normal ser pessimista o tempo todo. Não é normal ser otimista o tempo todo. A leve e harmônica oscilação de humor rege a saúde do nosso sistema nervoso, ensina a boa medicina. Os negativistas, vulgo urubus, tem no pessimismo o início, o fim e o meio. O lema deles é o famigerado “nada será como antes” (cusp! saudosismo) e reclamar de tudo é a base. Reclamam do calor, do frio, da chuva, da falta de chuva, do trabalho, da falta de trabalho, do amor, do desamor, do céu, do inferno sem perceber sua palpável infelicidade. ...

A esquerda que vivenciei

Imagem
Minha adolescência foi apolítica e selvagem, no bom sentido. Mesmo quando comecei a escrever em jornais locais, com 15 anos, política era um tema distante, velho e que, com o tempo (o meu tempo) tornou-se proibido. A ditadura estava no auge (anos 70) e ninguém explicava o que estava acontecendo para nos resgatar do estranho planeta da alienação ideológica. Na verdade, meus amigos e eu estávamos com o radar em outra posição: meninas, mulheres, música, passarinhos, pipas, balões, sítios, cavalos, praia, espinhas no rosto, punheta. Os professores de História do Brasil iam, no máximo, até Getúlio Vargas, descrito como um escroto pelos mestres (mais tarde comprovei) como se o Brasil tivesse sido parido em 1500 e abduzido em 1954. Havia alguma curiosidade nossa com relação a aquele mormaço provocado pelo silêncio imposto pela ditadura, mas ainda assim, não quis me informar mais, apesar de saber o que significava a pichação “fora comunas” ou “morte aos padres filhos da puta” em algun...

O planeta da ficção

Imagem
A nova edição de meu primeiro romance vai muito bem, obrigado. Chama-se “5 e 15 – Rock Romance” e está sendo bem recebido desde o que lancei. O que é? Depois de uma longa, profunda e (por que não?) sofrida pesquisa, comecei a escrever "5 e 15 - Rock Romance". O livro é uma ficção, mas desde que comecei a pensar nele acreditei em Crimson, psiquiatra e cientista obcecado em descobrir uma substância capaz de livrar os seres humanos da dependência química de drogas pesadas. Em especial cocaína e heroína. Em minha pesquisa, entrevistei grandes psiquiatras, visitei clínicas e muitos fatos narrados no livro aconteceram. O caso do homem que transformou o corte de suas unhas sua linha do tempo, um outro que se achava um pássaro. Algumas situações afetivas também, como o caso uma das mulheres-chave do livro. Por que o carro, com marca e modelo? Porque tive um e foi nele que viajei para alguns lugares para caçar subsídios para o livro. Livro que é uma homenagem aos amigos...

De saco cheio

Imagem
                                        De saco cheio de pagar pra sofrer De saco cheio de ter que achar bonitinho bicicletas na calçada De saco cheio de Trump, Dilma, Temer, Lula, Maduro, Kim Jong-un  De saco cheio de viver no pior estado do sul/sudeste De saco cheio de ceder a vez De saco cheio de fingir que está tudo bem De saco cheio de poluição, esgoto, miséria De saco cheio de forças tarefas de qualquer espécie De saco cheio de dar boa tarde e não ouvir nada De saco cheio de não ter jipe De saco cheio de não sumir De saco cheio de ser gentil De saco cheio de ouvir reclamações De saco cheio de direita, esquerda, centro De saco cheio de vitimologistas De saco cheio de pilantropia De saco cheio de “fazeção de média” De saco cheio de “fazeção de mídia” De saco cheio de ser povo bonzinho De saco cheio de “desculpe, o sistema está lento” D...

"Quadrophenia", a melhor ópera rock da história

Imagem
      O álbum                                                      O filme                                       O filme Quadrophenia, escrito por Pete Townshend, gravado pelo The Who e lançado em 1973 em álbum duplo, é a melhor ópera rock da história. Na década de 1960, Pete Townshend e The Who definiram o conceito de "ópera rock" com Tommy (de 1969), dando um passo à frente com Quadrophenia. Concebida e escrita por Townshend, Quadrophenia acabou se tornando um emblema. Townshend tornou públicos os seus traumas em Tommy (1969) e Quadrophenia (1973), para mim o melhor disco da história do Who. Acho que para o criador da banda, guitarrista, cantor, compositor, poeta, romancista, teatrólogo, cineasta Peter Dennis Blanford Tow...