Síndrome do Pânico


Ouço relatos nas ruas, nas redes sociais, bares, desabafos de amigos, todos falam numa “epidemia de Síndrome do Pânico” que flagela milhões de pessoas, cujas vidas estão vegetativas. Na verdade, o que acontece é que essa epidemia é crônica, vem de muitos e muitos séculos, mas que só nos anos 1980 a ciência conseguiu fechar um diagnóstico. Antes, a terrível S.P. era tratada como distúrbio neurovegetativo, ansiedade generalizada, fobia generalizada.

Há relatos de situações semelhantes a Síndrome do Pânico na virada do século 18 para o 19, e alguns pesquisadores dizem que é um disturbo inerente ao ser humano “desde os primatas”. Como não tive como confirmar essa informação a Coluna está aberta para especialistas que quiserem se manifestar.
Colhi essas informações durante as pesquisas para escrever meu romance “5 e 15” (disponível em versão digital em www.amazon.com.br) que tem como protagonista por um médico psiquiatra. Entrevistei mais de dez profissionais sobre várias doenças psiquiátricas e baseado nelas construí o personagem Crimson, uma homenagem que fiz ao grande médico e revolucionário psicoterapeuta José Maria Monteiro de Barros, que descobriu a sua Teoria da Afetividade. Infelizmente ele morreu antes de conseguir publicá-la.

A Síndrome do Pânico ficou sem tratamento específico até 1986 quando a fluoxetina (potente antidepressivo da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina foi descoberto por cientistas da Eli Lilly and Company, em 1972) entrou no mercado com o nome Prozac, erroneamente chamado de “pílula da felicidade” por parte da mídia.

Ao longo de anos a fluoxetina passou por centenas de testes, inclusive utilizando cobaias colocadas nos ônibus espaciais para avaliações em condições adversas e atípicas como a gravidade zero. Foi ela que venceu a Síndrome do Pânico, quando os médicos psiquiatras, em diversos congressos internacionais, entre eles o “Encontro de Berna, Suíça, 1987”, admitiram que estavam diante de “um novo mal”, diferente de tudo. O relato comovente de um homem de 85 anos mexeu com a Europa.

Ele disse, para a plateia de grandes nomes da psiquiatria, que não conhecia nada da vida porque a Síndrome do Pânico o isolou em casa desde a infância. Só conseguia ir para a escola acompanhado de alguém que o esperava na porta de saída. Assim foi na faculdade, mas ele não conseguiu trabalhar, nem namorar ou ter qualquer relacionamento afetivo, jamais viajou para lugar resumindo a sua vida aos cômodos de sua casa.

No final do depoimento disse que “este ano, pela primeira vez, senti o alívio. Não conhecia o alívio, a serenidade porque estava condicionado ao pânico, ao impedimento, ao ´não ir`, ´não fazer``, ´não existir`. Quando peguei o avião em Berlim (ainda acompanhado, mas tranquilo, me sentindo bem) e desembarquei em Zurique, bela cidade, chorei de emoção”.

Todos os médicos que ouvi descreveram a S.P. como um dos maiores flagelos emocionais que acometem o ser humano. Entre os portadores do transtorno, as descrições foram dramáticas, cheias de lágrimas, a começar pelos sintomas. Todos eles disseram que as crises começaram “sem qualquer explicação” ou com a sensação de “acho que já nasci com ela”.

Um deles estava de férias numa linda praia da Paraíba, relaxado, deitado no sol, perto do mar, céu azul. Deu um mergulho, água transparente, mansa, ótima temperatura e quando estava saindo do mar para voltar para areia começou a sentir: falta de ar, como se “não completasse”, batimentos cardíacos acelerados e uma vertigem. Ele sentou na areia, já inseguro porque a namorada e amigos estavam num quiosque distante dali. A sensação de morte iminente tomou conta, suor muito frio, boca seca, a certeza de que havia enlouquecido, sensação de que ia “sair do corpo”, choro compulsivo, tempestade de pensamentos mórbidos, sensação de que iria ficar ali paralisado, dormências, enfim, o horror.

Mais ou menos 10 minutos depois começou a melhorar, mas quando os amigos chegaram logo perguntaram “aconteceu alguma coisa? Você está branco?”. Temendo julgamentos ele disse que poderia ter tido uma queda de pressão. Foi quando compraram um picolé e ele imediatamente vomitou, ali mesmo. Só queria água, muita água.

Aflito e traumatizado (não parava de pensar no que aconteceu), conseguiu uma passagem para aquela noite num voo para o Rio. A namorada perguntava o que estava acontecendo e ele, com medo de assustá-la, dizia “não sei, acho que comi alguma coisa estragada”.

Pegaram um táxi mais tarde para o aeroporto de João Pessoa quando ele, de novo, começou a sentir o mal estar, aumentado pela necessidade de voltar para o Rio imediatamente, “sair daquele inferno”, Desesperado mas contido (para não abalar a namorada) ele pediu para o taxista parar em frente a um botequim de beira de calçada. Entrou, comprou um maço de cigarros (tinha parado há mais de 10 anos) e sem que a namorada visse bebeu duas doses duplas de uísque nacional (nem sabia a marca), sem gelo, sem nada. Voltando para o táxi ele já sentiu um alívio.

Não foi um caso isolado. Os pesquisadores já sabiam que o álcool age como “antidepressivo” e “ansiolítico” e por isso 60% dos alcoólatras bebem para “aliviar” algum distúrbio emocional, em especial a Síndrome do Pânico. De acordo com os médicos, maconha e cocaína, em casos de S.P., podem causar surto psicótico, mas é ligeiramente raro. LSD, anfetaminas, metadona, metanfetaminas, MDMA (conhecida como Michael Douglas), nesses casos, muitas vezes (muitas mesmo) levam a chamada “viagem sem volta”, ou seja, o sujeito pira definitivamente. Foi o caso do criador do Pink Floyd, Syd Barrett, obrigado a largar a banda logo no início vivendo isolado dentro de casa até a sua morte em 2006.

Felizmente a Síndrome do Pânico, hoje, não é mais mistério para a medicina. Muitas informações já estão claras. Por exemplo, a faixa etária do primeiro “disparo” fica entre 20 e 40 anos, entre homens e mulheres em proporções iguais, o alto número de pessoas que permanecem alcoólatras e os remédios são incompatíveis com bebida, a maioria tem necessidade de terapia auxiliar para se readaptar a sociedade.

Laboratórios aperfeiçoaram as medicações, muito mais eficazes, doses menores, raras reações adversas. Em outras palavras, quem sofre de S.P. pode se livrar dela. No entanto, os médicos que entrevistei foram unânimes. Como é um transtorno aparentemente sem conexão com nada, só pode ser tratado com remédios alopatas. Logo, a primeira providência é procurar um bom psiquiatra e, se necessário (especialmente quem adquiriu há muito tempo) depois de debelado o transtorno uma terapia breve para adaptar a pessoa as novas condições, convivendo com a chamada ”ansiedade antecipatória”, vulgo “medo do medo”, um resquício que fica. Psicoterapia, psicanálise, meditação, relaxamento, yoga, nada disso resolve.

Entre o arsenal de medos e horrores da S.P. está o bloqueio de procurar o médico, um boicote, sabotagem, por isso, segundo os médicos, é o único momento em que a pessoa deve enfrentar, forçar a barra. Sugerem que o mesmo psiquiatra indique o terapeuta, que teve ter muita experiência com esses tipos de transtorno.

Felicidade a todos!



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