Médicos Cubanos


Os donos de Cuba abandonaram o programa “Mais Médicos”, do Brasil. Cuba chutou o balde, certamente intuindo que vai acabar a mamata de embolsar 70% do que ganham seus médicos aqui no Brasil. Os médicos recebem salário mensal de R$ 10.570, reajustado neste ano para R$ 11.520, mas ficam só com R$ 3 mil -- o resto fica com o governo de Cuba.

Em setembro de 2017 o jornal New York Times estampou a manchete “Médicos cubanos no Brasil se revoltam com Cuba: "Você se cansa de ser um escravo". A matéria assinada por Ernesto Londoño diz:

“Em um raro ato de desafio coletivo, dezenas de médicos cubanos que trabalham no exterior para ganhar dinheiro para suas famílias e seu país estão movendo processos judiciais para romper fileiras com o governo cubano, exigindo ser libertados do que um juiz chamou de "uma forma de trabalho escravo". Milhares de médicos cubanos trabalham no exterior sob contrato com as autoridades cubanas. Países como o Brasil pagam ao governo comunista da ilha milhões de dólares por mês para fornecer serviços médicos, o que efetivamente torna os médicos de Cuba sua exportação mais valiosa(...)

Mas os médicos recebem uma pequena parte desse dinheiro, e um número cada vez maior dos que estão no Brasil começou a se rebelar. No ano passado, pelo menos 150 médicos cubanos moveram ações em tribunais brasileiros para contestar o acordo, exigindo ser tratados como profissionais independentes, ganhando salários plenos, e não como agentes do Estado cubano.

"Quando você sai de Cuba pela primeira vez, descobre muitas coisas que não sabia", disse Yaili Jiménez Gutierrez, uma das médicas que moveu a ação.”

A medicina cubana estava entre as mais evoluídas e avançadas no mundo até o início dos anos 90, quando a União Soviética acabou e a ilha foi abandonada. Sem a bilionária mesada de Moscou, a economia faliu.

Exatamente no início dos anos 1990, o prefeito Jorge Roberto Silveira realizou, em Niterói, o “Encontro com Cuba”, uma maneira de agradecer a ilha pelo apoio técnico dado durante na epidemia de dengue hemorrágica. Cuba enviou vários médicos para cá.

Graças a experiência cubana, Niterói foi a primeira cidade a implantar o programa “Médico de Família”, módulos avançados que atendem a moradores de uma área. Cuba abriu suas portas para que os técnicos daqui aprendessem sobre o funcionamento do revolucionário programa que hoje não sei como está funcionando.

O grande articulador e produtor do “Encontro com Cuba” foi o saudoso e querido amigo Ney Sroulevich, um dos brasileiros que mais conheciam Cuba. Passava muitos meses por ano lá.

O Encontro foi uma explosão de sucesso. Réplicas de restaurantes famosos de Havana foram feitas, show de músicos de lá, palestra e debates com escritores, poetas, historiadores, apresentações de artistas, mostras com artistas plásticos, enfim o Encontro mobilizou e envolveu toda a cidade e eu, na época presidente da Fundação de Arte de Niterói, fiquei conhecendo dezenas de cubanos que participaram.

Apesar de temerem os agentes de segurança que vieram infiltrados na delegação eles diziam que estava na hora do regime em Cuba abrir responsavelmente a sua economia para que a população não continuasse passando fome, sem trabalho, sem itens básicos. Com o fim da mesada da União Soviética, Cuba ficou a deriva.

“O único setor que continua a funcionar é a medicina, pois o governo suspendeu investimentos em todas as áreas, menos nessa”, me disse uma grande historiadora de lá. Ou seja, mesmo quando a ilha afundou a sua medicina continuou a todo o vapor. Em tempo: muitos me disseram que boa parte da população não aguenta mais viver num regime opressor.

Não sei como estão as coisas hoje, 26 anos depois do “Encontro com Cuba”, mas se os cubanos do programa “Mais Médicos” fossem ruins já haveria escândalos e gritaria.

Um relato que o jornalista Cezar Motta postou no Facebook:

As coisas têm que ser chamadas pelo nome que têm e explicadas como são.

1) O programa dos médicos cubanos no Brasil era muito bom para as populações pobres que o Lula mentiu que tinha tirado da miséria. Mentira dele, como sempre. Os miseráveis brasileiros continuaram miseráveis. Mas claro que o Mais Médicos sempre foi bom para um mundo de brasileiros. A única assistência médica que jamais tiveram.

2) Os médicos cubanos são submetidos a um trabalho quase escravo: não podem escolher para onde vão e têm que entregar boa parte dos salários ao governo cubano. O acordo não impede legalmente que esses médicos tragam suas famílias. Mas, alôô, Cuba é uma ditadura! Nem sempre o que vale é a lei. E mais: o que sobra do salário deles aqui é muito pouco pra viver dignamente com uma família;

3) Por que eles, se pudessem, trariam filhos pra regiões brasileiras miseráveis, sem ensino público decente e sem qualidade de vida? Não trariam. Ninguém traria.

4) Eu vi os hipócritas sindicalistas médicos brasileiros indignados. Corporativistas! Nunca se manifestaram sobre os péssimos serviços que seus colegas prestam aos pobres brasileiros nos nossos horríveis hospitais públicos. Tudo cada vez pior.

5) Fui a Cuba em fevereiro último e voltei com dois médicos cubanos que vinham para o Mais Médicos. Iam para o interior da Amazônia, para onde nenhum médico brasiliero jamais iria. Nem com os ótimos salários que alguns governos ofereceram há alguns anos a brasileiros recém-formados. Ambos intimidados, os médicos cubanos companheiros de viagem. Um branco e um negro, com idade entre 35 e 40 anos.

Acabei perguntando: Podem trocar de cidade depois de algum tempo, se quiserem? "Não". Têm mulher e filhos? "Sim". Podem trazê-los? "Não".









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